sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Billie Eilish mostra uma versatilidade musical incrível no fantástico ‘Happier Than Ever’

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Billie Eilish fez sua estreia oficial no mundo da música em 2019, com o incrível e premiado ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’, que garantiu à cantora e compositora inúmeras estatuetas do Grammy, incluindo a de Álbum do Ano. Pouco depois, Eilish foi contratada para encabeçar a música-tema do vindouro ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ e se consolidou como uma das melhores artistas do cenário contemporâneo da música – motivo pelo qual Happier Than Ever, seu segundo compilado de originais, foi um dos mais aguardados do ano.

Com nada menos que dezesseis faixas, o álbum vinha sido promovido desde o ano passado, com o lançamento de “My Future”, uma belíssima e inesperada faixa que manteve laços artísticos com a produção anterior sem deixar de lado a busca pela originalidade – movida essencialmente pelo piano, pela sutileza dos vocais e por uma produção impecável cortesia das habilidosas mãos de Finneas O’Connell. Pincelado com uma mudança brusca de progressão, característica já marcante na carreira de Eilish (como vimos, por exemplo, em “you should see me in a crown”), a dramática faixa deixou ainda mais evidente sua paixão pela escrita criativa e pela mistura envolvente de gêneros.



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Se há algo que fica claro com a chegada da nova obra é a homenagem que a performer faz a cada um dos artistas que a influenciaram desde as primeiras incursões artísticas com EPs que merecem mais reconhecimento do que tem. Inclinando-se inclusive para referências brasileiras, é notável como Billie não tem remorsos em fazer o que bem entender: em “Therefore I Am”, outro dos singles promocionais lançados em 2020, ela retoma o pop noir de “bad guy”, que a colocou no topo das paradas mundiais e lhe rendeu duas estatuetas do Grammy (Música do Ano e Canção do Ano), em uma narrativa que beira o metafísico sem perder a veia ácida (“não sou sua amiga ou qualquer coisa, droga; você acha que é o cara”). O mesmo teor trip-hop se estende para a deliciosa percussão de “Lost Cause”, outro dos vários ápices, que flerta com uma complexa sensualidade.

Talvez o aspecto mais interessante de Happier Than Ever seja a sutileza indesculpável no qual ele se alicerça: enquanto a estreia de Eilish foi marcada pelo choque, aqui ela alcança o mesmo objetivo mudando completamente a perspectiva e as mensagens a que se promove a entregar aos fãs. Desde as irretocáveis inflexões minimalistas às densas metáforas que exalam dos versos, há um senso de credibilidade que emana da posição em que a artista se encontra que nos faz aceitar o diabólico convite para essa jornada de autodescobrimento. “NDA” arranca uma das melhores letras dos últimos anos (“levei um garoto bonito para casa, mas ele não pôde ficar; quando saiu, o fiz assinar um acordo de sigilo”) e explode em um electro-pop ecoante; já “Your Power” exila-se num oposto complementar, delineado pelos acordes do violão e por uma mensagem angustiante de cautela.

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Há um senso de desespero que permeia cada uma das faixas – mas não no sentido pejorativo da palavra, e sim no tocante a escolhas estéticas propositalmente cíclicas que nos engolfam em um beco sem saída reflexivo. A pungente demarcação de amadurecimento mandatório em “Getting Older” e o trip-hop experimental de “I Didn’t Change My Number” são canções que exemplificam isso. Mas o mesmo não pode ser dito de “Billie Bossa Nova”, uma honesta construção que combina perfeitamente com o alcance vocal da cantora, amalgamando passado, presente e futuro em um mesmo lugar. A faixa-titular também carrega um classicismo mascarado e fabulesco, cuja candura invejável é apenas a cereja do bolo de um denso paradoxo que só pode ser sentido, não explicado.

Se Billie já havia nos agraciado com um coeso álbum dois anos atrás, aqui ela se vê confortável o suficiente para migrar do trap à eletrônica ao dark pop num piscar de olhos. “Oxytocin”, facilmente a melhor entrada da obra, é uma viagem críptica e narcótica, mimetizando e sintetizando o trance em algo único e que é pouco encontrado no cenário mainstream da atualidade. O sugestivo título não esconde nada por trás dos cruciantes versos que denotam um retardatário controle da liberdade feminina e que não pensam duas vezes antes de “cutucar” um tradicionalismo condenável. “Not My Responsibility” já preza por uma intrigante ambientação futurista, enquanto tudo culmina para uma inesperada e controversa balada intitulada “Male Fantasy”.

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Não há outra palavra que descreva Happier Than Ever além de fantástico. A força-motriz do segundo álbum de Eilish é o desprendimento de quaisquer amarras que poderiam atrapalhar seu processo criativo – e uma declaração de que ela pode fazer o que bem entender, não importam quem sejam seus críticos mais ferrenhos. E, enquanto alguns enxergavam-na como uma efemeridade, só posso dizer que ela veio para ficar – e que seu momento na música apenas começou.

Nota por faixa:

1. Getting Older – 4/5
2. I Didn’t Change My Number – 5/5
3. Billie Bossa Nova – 4/5
4. my future – 5/5
5. Oxytocin – 5/5
6. GOLDWING – 3/5
7. Lost Cause – 5/5
8. Halley’s Comet – 4/5
9. Not My Responsibility – 4,5/5
10. OverHeated – 4,5/5
11. Everybody Dies – 5/5
12. Your Power – 3,5/5
13. NDA – 4,5/5
14. Therefore I Am – 4/5
15. Happier Than Ever – 5/5
16. Male Fantasy – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Billie Eilish fez sua estreia oficial no mundo da música em 2019, com o incrível e premiado ‘When We All Fall Asleep, Where Do We Go?’, que garantiu à cantora e compositora inúmeras estatuetas do Grammy, incluindo a de Álbum do Ano. Pouco depois, Eilish foi contratada para encabeçar a música-tema do vindouro ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ e se consolidou como uma das melhores artistas do cenário contemporâneo da música – motivo pelo qual Happier Than Ever, seu segundo compilado de originais, foi um dos mais aguardados do ano.

Com nada menos que dezesseis faixas, o álbum vinha sido promovido desde o ano passado, com o lançamento de “My Future”, uma belíssima e inesperada faixa que manteve laços artísticos com a produção anterior sem deixar de lado a busca pela originalidade – movida essencialmente pelo piano, pela sutileza dos vocais e por uma produção impecável cortesia das habilidosas mãos de Finneas O’Connell. Pincelado com uma mudança brusca de progressão, característica já marcante na carreira de Eilish (como vimos, por exemplo, em “you should see me in a crown”), a dramática faixa deixou ainda mais evidente sua paixão pela escrita criativa e pela mistura envolvente de gêneros.

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Se há algo que fica claro com a chegada da nova obra é a homenagem que a performer faz a cada um dos artistas que a influenciaram desde as primeiras incursões artísticas com EPs que merecem mais reconhecimento do que tem. Inclinando-se inclusive para referências brasileiras, é notável como Billie não tem remorsos em fazer o que bem entender: em “Therefore I Am”, outro dos singles promocionais lançados em 2020, ela retoma o pop noir de “bad guy”, que a colocou no topo das paradas mundiais e lhe rendeu duas estatuetas do Grammy (Música do Ano e Canção do Ano), em uma narrativa que beira o metafísico sem perder a veia ácida (“não sou sua amiga ou qualquer coisa, droga; você acha que é o cara”). O mesmo teor trip-hop se estende para a deliciosa percussão de “Lost Cause”, outro dos vários ápices, que flerta com uma complexa sensualidade.

Talvez o aspecto mais interessante de Happier Than Ever seja a sutileza indesculpável no qual ele se alicerça: enquanto a estreia de Eilish foi marcada pelo choque, aqui ela alcança o mesmo objetivo mudando completamente a perspectiva e as mensagens a que se promove a entregar aos fãs. Desde as irretocáveis inflexões minimalistas às densas metáforas que exalam dos versos, há um senso de credibilidade que emana da posição em que a artista se encontra que nos faz aceitar o diabólico convite para essa jornada de autodescobrimento. “NDA” arranca uma das melhores letras dos últimos anos (“levei um garoto bonito para casa, mas ele não pôde ficar; quando saiu, o fiz assinar um acordo de sigilo”) e explode em um electro-pop ecoante; já “Your Power” exila-se num oposto complementar, delineado pelos acordes do violão e por uma mensagem angustiante de cautela.

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Há um senso de desespero que permeia cada uma das faixas – mas não no sentido pejorativo da palavra, e sim no tocante a escolhas estéticas propositalmente cíclicas que nos engolfam em um beco sem saída reflexivo. A pungente demarcação de amadurecimento mandatório em “Getting Older” e o trip-hop experimental de “I Didn’t Change My Number” são canções que exemplificam isso. Mas o mesmo não pode ser dito de “Billie Bossa Nova”, uma honesta construção que combina perfeitamente com o alcance vocal da cantora, amalgamando passado, presente e futuro em um mesmo lugar. A faixa-titular também carrega um classicismo mascarado e fabulesco, cuja candura invejável é apenas a cereja do bolo de um denso paradoxo que só pode ser sentido, não explicado.

Se Billie já havia nos agraciado com um coeso álbum dois anos atrás, aqui ela se vê confortável o suficiente para migrar do trap à eletrônica ao dark pop num piscar de olhos. “Oxytocin”, facilmente a melhor entrada da obra, é uma viagem críptica e narcótica, mimetizando e sintetizando o trance em algo único e que é pouco encontrado no cenário mainstream da atualidade. O sugestivo título não esconde nada por trás dos cruciantes versos que denotam um retardatário controle da liberdade feminina e que não pensam duas vezes antes de “cutucar” um tradicionalismo condenável. “Not My Responsibility” já preza por uma intrigante ambientação futurista, enquanto tudo culmina para uma inesperada e controversa balada intitulada “Male Fantasy”.

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Não há outra palavra que descreva Happier Than Ever além de fantástico. A força-motriz do segundo álbum de Eilish é o desprendimento de quaisquer amarras que poderiam atrapalhar seu processo criativo – e uma declaração de que ela pode fazer o que bem entender, não importam quem sejam seus críticos mais ferrenhos. E, enquanto alguns enxergavam-na como uma efemeridade, só posso dizer que ela veio para ficar – e que seu momento na música apenas começou.

Nota por faixa:

1. Getting Older – 4/5
2. I Didn’t Change My Number – 5/5
3. Billie Bossa Nova – 4/5
4. my future – 5/5
5. Oxytocin – 5/5
6. GOLDWING – 3/5
7. Lost Cause – 5/5
8. Halley’s Comet – 4/5
9. Not My Responsibility – 4,5/5
10. OverHeated – 4,5/5
11. Everybody Dies – 5/5
12. Your Power – 3,5/5
13. NDA – 4,5/5
14. Therefore I Am – 4/5
15. Happier Than Ever – 5/5
16. Male Fantasy – 4/5

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