quinta-feira, junho 20, 2024

Crítica | Biônicos – Um Caim e Abel Brasileiro, Feminino, Distópico e de Altíssima Qualidade

Há sentimentos inerentes em todas as espécies animais do mundo – ou, pelo menos, na maioria delas. Inveja, rivalidade, cobiça, desprezo, raiva. Esses são alguns dos sentimentos que tecem boa parte das histórias humanas, principalmente aquelas consideradas clássicas, como as da Grécia antiga ou as relatadas na Bíblia. Porque onde há seres humanos, há disputa – de qualquer tipo. Tudo isso num panorama futurístico distópico é a veia condutora de ‘Biônicos’, novo filme brasileiro da Netflix que estreou hoje na plataforma.

Biônicos

Maria Santos (Jéssica Córes, de ‘Cidade Invisível’) desde pequena treinara com a mãe, Helena (Érika Januza, de ‘Arcanjo Renegado’) para ser uma atleta olímpica de salto em distância, enquanto sua irmã mais nova, Gabi (Gabz, de ‘Um Ano Inesquecível: Outono’) treinava com o mesmo objetivo, com o pai. Quando a mãe das duas morre, Gabi ganha destaque, pois o pai se dedica a treinar apenas ela, que tem uma perna biônica e consegue entregar maior rendimento e melhores resultados, o que deixa Maria à sombra. Tudo isso ocorre no ano de 2035, num futuro distópico em que superatletas competem na Olimpíada Biônica, onde apenas atletas amputados que possuem membros biônicos podem competir, e esses atletas, por causa da qualidade dos resultados que entregam, estão ganhando todos os patrocínios, as atenções e os holofotes. Neste cenário, Heitor (Bruno Gagliasso, de ‘Marighella’) quer dar oportunidade às pessoas comuns de se tornarem biônicos voluntariamente, ainda que isso seja ilegal, e, para isso, precisará da ajuda de seu irmão (Klebber Toledo, de ‘Procura-se’) e de Maria para conseguir os chips que permitem esse tipo de fusão orgânica.

Escrito por Josefina Trotta ( ‘Manhãs de Setembro’) o roteiro se desenvolve em dois núcleos: o underground, que começa a história e conta sobre o grupo paralelo que quer fazer “justiça” com as próprias mãos sobre o direito de se ser biônico, e o segundo núcleo, das irmãs, em que a disputa é construída desde a primeira cena. É essa segunda parte que na verdade é o coração do enredo, que transforma Maria e Gabi em uma versão brasileira, preta e feminina de Caim e Abel. Se na Bíblia os irmãos foram expulsos do paraíso e Deus aceitou apenas o sacrifício de Abel, em ‘Biônicos’ o pai das meninas fica nesse papel de Deus, aceitando apenas o treino de uma das filhas, o que causa a inveja, o ciúmes e a cobiça da outra. Desse embate, surge todas as tomadas de decisão da protagonista, e é a parte mais bem desenvolvida do filme, pois a química (de ódio, rsrs) entre Jéssica e Gabz é palpável.

Biônicos

O que evidentemente chama a atenção é a quantidade e a qualidade dos efeitos visuais, construindo uma São Paulo futurista que possui outdoors em hologramas, projetados em alta definição nos prédios e interagindo entre si, além de, claro, os membros biônicos desenhados em altíssimo padrão estético, convencendo nas suas articulações visuais e sonoras. Deve ter dado um trabalhão pra fazer, mas ficou bem-feito.

O diretor Afonso Poyart (de ‘Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo’) conseguiu extrair o melhor do seu elenco principal, conferindo força e profundidade principalmente às irmãs protagonistas, dando-lhes mais espaço para se desenvolverem. ‘Biônicos’ conta ainda com Miguel Falabella, Emilly Nayara, Paulo Vilhena e Christian Malheiros no elenco.

Biônicos’ não deixa em nada a desejar se comparado com produções semelhantes estrangeiras disponíveis na Netflix, e ainda traz as vantagens de ser falado na nossa língua e ter rostinhos conhecidos do público. A pouco menos de dois meses para as Olimpíadas e Paralimíadas reais, ‘Biônicos’ é produção brasileira de alta qualidade, tal qual os biônicos do próprio filme.

Biônicos

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