domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Black Mirror – 4ª Temporada apresenta desgaste

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O Futuro Não é Mais o Mesmo

Quero deixar claro, antes de começar este texto, que Black Mirror é uma das melhores produções da TV nos últimos dez anos – pelo menos. Confesso também que demorei a adentrar o fantástico mundo distorcido e pessimista criado por Charlie Brooker. Foi só no início deste ano que comecei a maratonar os 13 episódios que constituem as três temporadas anteriores, datando de 2011, 2013 e 2014 (a segunda), e terminando em 2016 (a terceira, já nos domínios da Netflix).

Agora, o tão aguardado quarto ano do programa, com a série já dona de tremendo culto, finalmente aporta na plataforma, nesta sexta-feira, dia 29 de dezembro. De fato a expectativa é tão grande por parte dos fãs, com este que vos fala inegavelmente incluído no pacote, que talvez seja impossível de ser correspondida. E num tom negativista, assim como o teor do seriado, afirmo que não foi.



Leia nossa análise detalhada do episódio de estreia, ‘Arkangel’, dirigido por Jodie Foster

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Como nos moldes das temporadas anteriores, o número reduzido de episódios ajuda uma assimilação maior de cada curta-metragem (a maioria na faixa de 50 e poucos minutos, o menor sendo Metalhead, com 40 minutos), e alguns longas (Black Museum – 1h08min., e USS Callister – 1h16min.). A nova temporada possui altos e baixos, como nas anteriores, porém, desta vez os “baixos” vem em maior quantidade, fazendo desta a temporada mais fraca de toda a série, e exibindo certo desgaste nas histórias contadas por Brooker – com algumas ideias recicladas de episódios melhores.

Black Mirror em sua essência fala sobre tecnologia, e como os produtos eletrônicos criados para nossa evolução se tornam armas perigosas quando na mistura entra a psique humana abalada. Esta é a graça da série, mostrar que nenhuma tecnologia está 100% à prova do animal mais perigoso de todos, nós. E daí entra em cena o já famoso pensamento de que Black Mirror é uma série que “desgraça nossa cabeça”. Mas apenas porque ela é um espelho, do que já está desgraçado.

Tanto ou mais do que sobre aparatos tecnológicos, e sobre o futuro, Black Mirror é sobre olhar para nós mesmos, para o lado negro do ser humano e ver o que de pior ele é capaz. É uma ferrenha crítica do mundo moderno, emoldurada com roupagens de ficção. Esta quarta temporada até faz isso, mas sem a urgência, aflição e o nervosismo das anteriores. A impressão que fica ao trazer diretores renomados desta vez, vide Jodie Foster, John Hillcoat e David Slade, por exemplo, é a mesma de quando um cineasta ganha mais dinheiro após ter chamado atenção com sua obra inicial extremamente criativa e vibrante, mas independente, e termina domado e sem voz ao realizar um produto com aspirações de maior abrangência.

A temporada já começa com o pé esquerdo, justamente no filme de Foster, Arkangel, que mostra uma mãe excessivamente zelosa fazendo uso de uma babá eletrônica do futuro para controlar seu rebento. Na trama falta novidade em relação à tecnologia, e uma reviravolta impactante do nível que a série está acostumada. Este é, infelizmente, o episódio mais sem gás. A seguir, a temporada se recupera e entrega o melhor do lote. Intitulado USS Callister, este episódio é uma criativa e divertida sátira de Star Trek, utilizando o plot twist ácido e ultra dark aos quais estamos acostumados no programa. A sensação de “isto não é exatamente o que você espera” se faz presente, pegando todos de surpresa – eu definitivamente não imaginava o que este capítulo seria. Não por menos, o segundo episódio se mostra o mais saboroso do bufê.

Outra constante aqui é a deficiência nos episódios justamente dirigidos pelos cineastas mais renomados. Os de Foster e John Hillcoat (A Estrada) são alguns dos mais frustrantes. O que constata a máxima de maior criatividade e “fome” de quem precisa se provar. Hillcoat comanda Crocodile, episódio que, assim como Arkangel, apresenta uma tecnologia capaz de gravar nossos pensamentos. Aqui, no entanto, ela chega na forma de um leitor de mentes, desvendando o passado. No mais, esta é uma história sobre encobrir rastros e psicopatia, outra trama pra lá de simplória, que tenta chocar pela crueza, sem tanto conteúdo. Já Metalhead, de David Slade (30 Dias de Noite), embora igualmente dono de uma trama pra lá de simplista, ganha pelo alto nível de tensão e medo. É o Exterminador do Futuro do lote, e o episódio mais intenso. Caprichando no medo, este é o filme de terror da temporada.

Hang the DJ tenta ser San Junipero sem sucesso, mas do novo lote é o episódio mais “bonitinho”. E Black Museum, o último episódio e mais misterioso – a campanha de marketing demorou a exibi-lo, serve como grande homenagem ao legado do programa, recheado de referências ele é ao mesmo tempo três episódios em um – apesar de menor do que USS Callister (ainda assim o segundo mais duradouro) – e um ninho de referências a tudo Black Mirror, daí inclusive o título, “Museu Black”. Apesar de tudo isso, o último episódio não engata como deveria, parecendo tímido em mergulhar verdadeiramente de cabeça na mitologia do seriado, e nadar desavergonhadamente em suas águas. Aqui queríamos todos os itens marcantes de episódios passados como elementos narrativos desta trama.

Uma matéria no Jornal O Globo aponta uma mudança nesta temporada, segundo eles todos os episódios agora são protagonizados por mulheres. Embora não seja 100% verdade (há de se argumentar que o protagonista de Hang the DJ é o homem, e em Black Museum e USS Callister homens são os motivadores das tramas, tendo tanto tempo e importância quanto as mulheres), é seguro dizer que a 4ª Temporada é a que possui mulheres em papeis de destaque, protagonizando a maior parte dos episódios, e nos restantes possuem igual importância aos homens. O que sem dúvidas é um atrativo – e que para muitos passará despercebido, como deve ser – afinal a igualdade precisa ser sinônimo de normalidade e não uma anomalia alardeada.

Mesmo com os grandes nomes, o tão esperado quarto ano de Black Mirror se mostra o menor esforço de seu criador até o momento. Mostrando o quão difícil é superar a terceira temporada – a melhor ainda. O que de forma alguma diminui a importância do seriado e seu legado. Definido por muitos como o Além da Imaginação moderno, Black Mirror merece vida longa e próspera, e para este fim de ano o desejo de inspiração a seu criador Charlie Brooker, para que na quinta temporada possamos ter episódios do nível de San Junipero, Queda Livre, Shut up and Dance, White Bear, USS Callister, entre outros.

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Quero deixar claro, antes de começar este texto, que Black Mirror é uma das melhores produções da TV nos últimos dez anos – pelo menos. Confesso também que demorei a adentrar o fantástico mundo distorcido e pessimista criado por Charlie Brooker. Foi só no início deste ano que comecei a maratonar os 13 episódios que constituem as três temporadas anteriores, datando de 2011, 2013 e 2014 (a segunda), e terminando em 2016 (a terceira, já nos domínios da Netflix).

Agora, o tão aguardado quarto ano do programa, com a série já dona de tremendo culto, finalmente aporta na plataforma, nesta sexta-feira, dia 29 de dezembro. De fato a expectativa é tão grande por parte dos fãs, com este que vos fala inegavelmente incluído no pacote, que talvez seja impossível de ser correspondida. E num tom negativista, assim como o teor do seriado, afirmo que não foi.

Leia nossa análise detalhada do episódio de estreia, ‘Arkangel’, dirigido por Jodie Foster

Como nos moldes das temporadas anteriores, o número reduzido de episódios ajuda uma assimilação maior de cada curta-metragem (a maioria na faixa de 50 e poucos minutos, o menor sendo Metalhead, com 40 minutos), e alguns longas (Black Museum – 1h08min., e USS Callister – 1h16min.). A nova temporada possui altos e baixos, como nas anteriores, porém, desta vez os “baixos” vem em maior quantidade, fazendo desta a temporada mais fraca de toda a série, e exibindo certo desgaste nas histórias contadas por Brooker – com algumas ideias recicladas de episódios melhores.

Black Mirror em sua essência fala sobre tecnologia, e como os produtos eletrônicos criados para nossa evolução se tornam armas perigosas quando na mistura entra a psique humana abalada. Esta é a graça da série, mostrar que nenhuma tecnologia está 100% à prova do animal mais perigoso de todos, nós. E daí entra em cena o já famoso pensamento de que Black Mirror é uma série que “desgraça nossa cabeça”. Mas apenas porque ela é um espelho, do que já está desgraçado.

Tanto ou mais do que sobre aparatos tecnológicos, e sobre o futuro, Black Mirror é sobre olhar para nós mesmos, para o lado negro do ser humano e ver o que de pior ele é capaz. É uma ferrenha crítica do mundo moderno, emoldurada com roupagens de ficção. Esta quarta temporada até faz isso, mas sem a urgência, aflição e o nervosismo das anteriores. A impressão que fica ao trazer diretores renomados desta vez, vide Jodie Foster, John Hillcoat e David Slade, por exemplo, é a mesma de quando um cineasta ganha mais dinheiro após ter chamado atenção com sua obra inicial extremamente criativa e vibrante, mas independente, e termina domado e sem voz ao realizar um produto com aspirações de maior abrangência.

A temporada já começa com o pé esquerdo, justamente no filme de Foster, Arkangel, que mostra uma mãe excessivamente zelosa fazendo uso de uma babá eletrônica do futuro para controlar seu rebento. Na trama falta novidade em relação à tecnologia, e uma reviravolta impactante do nível que a série está acostumada. Este é, infelizmente, o episódio mais sem gás. A seguir, a temporada se recupera e entrega o melhor do lote. Intitulado USS Callister, este episódio é uma criativa e divertida sátira de Star Trek, utilizando o plot twist ácido e ultra dark aos quais estamos acostumados no programa. A sensação de “isto não é exatamente o que você espera” se faz presente, pegando todos de surpresa – eu definitivamente não imaginava o que este capítulo seria. Não por menos, o segundo episódio se mostra o mais saboroso do bufê.

Outra constante aqui é a deficiência nos episódios justamente dirigidos pelos cineastas mais renomados. Os de Foster e John Hillcoat (A Estrada) são alguns dos mais frustrantes. O que constata a máxima de maior criatividade e “fome” de quem precisa se provar. Hillcoat comanda Crocodile, episódio que, assim como Arkangel, apresenta uma tecnologia capaz de gravar nossos pensamentos. Aqui, no entanto, ela chega na forma de um leitor de mentes, desvendando o passado. No mais, esta é uma história sobre encobrir rastros e psicopatia, outra trama pra lá de simplória, que tenta chocar pela crueza, sem tanto conteúdo. Já Metalhead, de David Slade (30 Dias de Noite), embora igualmente dono de uma trama pra lá de simplista, ganha pelo alto nível de tensão e medo. É o Exterminador do Futuro do lote, e o episódio mais intenso. Caprichando no medo, este é o filme de terror da temporada.

Hang the DJ tenta ser San Junipero sem sucesso, mas do novo lote é o episódio mais “bonitinho”. E Black Museum, o último episódio e mais misterioso – a campanha de marketing demorou a exibi-lo, serve como grande homenagem ao legado do programa, recheado de referências ele é ao mesmo tempo três episódios em um – apesar de menor do que USS Callister (ainda assim o segundo mais duradouro) – e um ninho de referências a tudo Black Mirror, daí inclusive o título, “Museu Black”. Apesar de tudo isso, o último episódio não engata como deveria, parecendo tímido em mergulhar verdadeiramente de cabeça na mitologia do seriado, e nadar desavergonhadamente em suas águas. Aqui queríamos todos os itens marcantes de episódios passados como elementos narrativos desta trama.

Uma matéria no Jornal O Globo aponta uma mudança nesta temporada, segundo eles todos os episódios agora são protagonizados por mulheres. Embora não seja 100% verdade (há de se argumentar que o protagonista de Hang the DJ é o homem, e em Black Museum e USS Callister homens são os motivadores das tramas, tendo tanto tempo e importância quanto as mulheres), é seguro dizer que a 4ª Temporada é a que possui mulheres em papeis de destaque, protagonizando a maior parte dos episódios, e nos restantes possuem igual importância aos homens. O que sem dúvidas é um atrativo – e que para muitos passará despercebido, como deve ser – afinal a igualdade precisa ser sinônimo de normalidade e não uma anomalia alardeada.

Mesmo com os grandes nomes, o tão esperado quarto ano de Black Mirror se mostra o menor esforço de seu criador até o momento. Mostrando o quão difícil é superar a terceira temporada – a melhor ainda. O que de forma alguma diminui a importância do seriado e seu legado. Definido por muitos como o Além da Imaginação moderno, Black Mirror merece vida longa e próspera, e para este fim de ano o desejo de inspiração a seu criador Charlie Brooker, para que na quinta temporada possamos ter episódios do nível de San Junipero, Queda Livre, Shut up and Dance, White Bear, USS Callister, entre outros.

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