quarta-feira , 18 dezembro , 2024

Crítica | Brinquedo Assassino – Refilmagem surpreende com mais drama do que terror

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Inteligência Artificial

A onda de remakes que assola Hollywood e já atingiu quase todas as mais icônicas produções de terror 80´s, chega agora a Brinquedo Assassino. Ou devo dizer ´La Bambola Assasina’, título que a produção recebeu na Itália, país onde este colega que vos fala conseguiu assistir ao longa – já que a produção só estreia em terras brasileiras em agosto (ou seja, suspeite e duvide de veículos que não assistiram ao filme fora do Brasil  – até a data de lançamento).

Muita gente torce o nariz para refilmagens ou reinterpretações, mas um de seus maiores propósitos de existir em minha opinião – e um de seus verdadeiros desafios de roteiro – é modernizar a obra original, contextualizando-a para os novos tempos. O desafio requer adaptação, o que nem sempre ganha êxito. Afinal, qual a razão de repetir uma obra se não for para aparar suas arestas, modificando-a em detalhes, mas mantendo sua essência.



childs play cinepop

Em muitos aspectos podemos afirmar que a nova versão de Brinquedo Assassino, escrita por Tyler Burton Smith (em sua estreia no cinema) e dirigido por Lars Klevberg (Morte Instantânea), é superior à sua fonte matriz de 1988, escrito por Don Mancini e dirigido por Tom Holland (A Hora do Espanto). A principal delas, no desenvolvimento dos personagens: seja na amizade do jovem solitário Andy (agora mais velho nas formas de Gabriel Bateman) com seu único amigo, o robozinho dono de inteligência artificial Chucky (voz de Mark Hamill), ou até mesmo na relação do menino com sua mãe perdida (papel de Aubrey Plaza).

Outro acerto é a metamorfose que o brinquedo do título sofre, de um boneco de corda com três frases gravadas em seu acervo para uma tecnologia avançada e altamente interativa, capaz de controlar aparelhos eletrônicos em sua casa (como TVs e utensílios), além de drones, carros e todo tipo de equipamento online. Faz sentido e deixa a trama mais em contato com os dias de hoje – de crianças praticamente saindo da maternidade com a cara enfiada em um smartphone ou tablet.

childs play cinepop2

O elemento fantasia também foi deixado de lado em prol de um teor mais realista. Assim, não temos mais o criminoso Charles Lee Ray passando sua alma para um boneco Good Guy, sensação da criançada no fim da década de 1980. Em 2019, é o medo tecnológico e suas mazelas que levanta as questões na nova roupagem. E justamente assim, comparações com a série Black Mirror serão inevitáveis. Mas a questão principal diz mais respeito ao que foi levantando pelo diretor Steven Spielberg em seu Inteligência Artificial (2001). Seres artificiais conscientes serão considerados vivos? E terão os mesmos direitos dos humanos?

Talvez esteja longe para responder esta questão, mas o cinema a vem perguntando há algum tempo. Essa abordagem é curiosa, intrigante e digna de discussão. Por ter um embasamento mais galgado numa possível realidade e levantar interrogação para nosso caminho como sociedade, não pensando exclusivamente no entretenimento despretensioso como seu progenitor cult, o novo Brinquedo Assassino consegue sobressair por méritos próprios, se descobrindo e criando sua identidade única, para o bem ou para o mal.

childs play cinepop3

Para o mal, o fato deste não ser necessariamente um filme de terror. Ele surge mais como uma série de trágicos equívocos gerados sem qualquer culpa pelo icônico personagem tema da franquia – que passa de vilão cruel e sádico, para uma criatura ingênua, sem grandes discernimentos entre o certo e o errado, e por isso se distancia muito do que é ser humano. Algo que David (Haley Joel Osment) e Edward – Mãos de Tesoura (Johnny Depp) conhecem muito bem, com propriedade.

O novo Brinquedo Assassino capricha no gore e em momentos bizarros (como a cabeça de presente), mas com seu investimento numa trama que aposta em premissa moderna e dramática, termina esquecendo de ser um filme de terror. Bem, definitivamente não um que estávamos esperando. Tais elementos são bem-vindos e demonstram esforço dos envolvidos em não repetir uma fórmula estrutural apenas, como fizeram todas as sequências do primeiro Brinquedo Assassino.

Assim podemos dizer que os realizadores tentam e entregam muita novidade, desestruturando muitos dos pilares que solidificaram o cânone da franquia. Ao mesmo tempo injetando vigor, criatividade e muitas novidades. Um belo exemplar de refilmagem.

 

Ps. O design do novo boneco é pra lá de creepy, deixando a versão original para trás no quesito desconforto.

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Muita gente torce o nariz para refilmagens ou reinterpretações, mas um de seus maiores propósitos de existir em minha opinião – e um de seus verdadeiros desafios de roteiro – é modernizar a obra original, contextualizando-a para os novos tempos. O desafio requer adaptação, o que nem sempre ganha êxito. Afinal, qual a razão de repetir uma obra se não for para aparar suas arestas, modificando-a em detalhes, mas mantendo sua essência.

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Em muitos aspectos podemos afirmar que a nova versão de Brinquedo Assassino, escrita por Tyler Burton Smith (em sua estreia no cinema) e dirigido por Lars Klevberg (Morte Instantânea), é superior à sua fonte matriz de 1988, escrito por Don Mancini e dirigido por Tom Holland (A Hora do Espanto). A principal delas, no desenvolvimento dos personagens: seja na amizade do jovem solitário Andy (agora mais velho nas formas de Gabriel Bateman) com seu único amigo, o robozinho dono de inteligência artificial Chucky (voz de Mark Hamill), ou até mesmo na relação do menino com sua mãe perdida (papel de Aubrey Plaza).

Outro acerto é a metamorfose que o brinquedo do título sofre, de um boneco de corda com três frases gravadas em seu acervo para uma tecnologia avançada e altamente interativa, capaz de controlar aparelhos eletrônicos em sua casa (como TVs e utensílios), além de drones, carros e todo tipo de equipamento online. Faz sentido e deixa a trama mais em contato com os dias de hoje – de crianças praticamente saindo da maternidade com a cara enfiada em um smartphone ou tablet.

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O elemento fantasia também foi deixado de lado em prol de um teor mais realista. Assim, não temos mais o criminoso Charles Lee Ray passando sua alma para um boneco Good Guy, sensação da criançada no fim da década de 1980. Em 2019, é o medo tecnológico e suas mazelas que levanta as questões na nova roupagem. E justamente assim, comparações com a série Black Mirror serão inevitáveis. Mas a questão principal diz mais respeito ao que foi levantando pelo diretor Steven Spielberg em seu Inteligência Artificial (2001). Seres artificiais conscientes serão considerados vivos? E terão os mesmos direitos dos humanos?

Talvez esteja longe para responder esta questão, mas o cinema a vem perguntando há algum tempo. Essa abordagem é curiosa, intrigante e digna de discussão. Por ter um embasamento mais galgado numa possível realidade e levantar interrogação para nosso caminho como sociedade, não pensando exclusivamente no entretenimento despretensioso como seu progenitor cult, o novo Brinquedo Assassino consegue sobressair por méritos próprios, se descobrindo e criando sua identidade única, para o bem ou para o mal.

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Para o mal, o fato deste não ser necessariamente um filme de terror. Ele surge mais como uma série de trágicos equívocos gerados sem qualquer culpa pelo icônico personagem tema da franquia – que passa de vilão cruel e sádico, para uma criatura ingênua, sem grandes discernimentos entre o certo e o errado, e por isso se distancia muito do que é ser humano. Algo que David (Haley Joel Osment) e Edward – Mãos de Tesoura (Johnny Depp) conhecem muito bem, com propriedade.

O novo Brinquedo Assassino capricha no gore e em momentos bizarros (como a cabeça de presente), mas com seu investimento numa trama que aposta em premissa moderna e dramática, termina esquecendo de ser um filme de terror. Bem, definitivamente não um que estávamos esperando. Tais elementos são bem-vindos e demonstram esforço dos envolvidos em não repetir uma fórmula estrutural apenas, como fizeram todas as sequências do primeiro Brinquedo Assassino.

Assim podemos dizer que os realizadores tentam e entregam muita novidade, desestruturando muitos dos pilares que solidificaram o cânone da franquia. Ao mesmo tempo injetando vigor, criatividade e muitas novidades. Um belo exemplar de refilmagem.

 

Ps. O design do novo boneco é pra lá de creepy, deixando a versão original para trás no quesito desconforto.

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