domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Britney vs. Spears – Documentário sobre a musa pop é um trunfo estético e narrativo

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Na esteira do movimento #freebritney e das últimas reflexões cinematográficas sobre a trajetória de Britney Spears, a Netflix disponibilizou recentemente o documentário Britney vs. Spears, produção que narra de maneira orgânica e didática os processos que envolvem a cantora que há duas décadas se tornou uma das artistas mais promissoras da cultura pop. Spears é uma figura que teve a sua vida revirada após uma série de turbilhões, desde o começo de sua jornada ainda muito jovem, tendo o colapso estabelecido na era prévia ao advento de Blackout, álbum que traduziu as suas inquietações para o campo da música e do videoclipe. Há mais de uma década sob a tutela do pai, Jamie Spears, a cantora atualmente vive uma existência de clausura, podada de qualquer privilégio, obrigada a realizar shows, vídeos e programas televisivos mesmo contra a sua vontade, ainda pressionada em suas escolhas pessoais, tendo que receber autorização formal até mesmo para coisas simplórias, tais como adquirir livros para os filhos ou fazer qualquer breve passeio dirigindo.

Ao longo de seus 90 minutos, Britney vs. Spears apresenta uma abordagem mais fluente e organizada das informações já dispostas em Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela, produção do New York Times ovacionada pela crítica e público, mas considerada recentemente como hipócrita pela celebridade biografada, opinião registrada numa postagem na rede social. Numa observação em linhas gerais, temos aqui um documentário edificado com um adequado apuro jornalístico. As informações estão devidamente organizadas. Acompanhamos a leitura e análise de documentos com uma dose leve de sensacionalismo que não torna antiética a abordagem adotada pelas produtoras, numa realização que pensada didaticamente, funciona como uma assertiva aula de procedimentos metodológicos para a condução de um documentário.



É tudo muito fundamentado, com oportunidade de observação para lados diferenciados da questão central, isto é, a tutela na qual Britney Spears se encontra aprisionada, um processo que se arrasta por muito tempo e segundo relatos da artista e de pessoas que gravitam em torno de sua vida, tornou-se um dos casos mais abusivos de patriarcalismo no mundo contemporâneo. Uma celeuma que envolve esquemas de tortura psicológica, realização de trabalho forçado, doses generosas de dominação masculina, dentre outros tópicos para reflexão. A crise, como sabemos, se iniciou por volta de 2007, depois da fase In The Zone. Britney não conseguia mais suportar as pressões e exigências oriundas de todos os lados e sucumbiu. Como já apontado, casou, descasou, foi flagrada com uso de drogas e álcool em situações comprometedoras, em especial no trânsito e conduzindo os filhos sem segurança, além de ter demonstrado incapacidade de dar conta da maternidade.

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Ademais, apareceu em revistas, telejornais e nos diversos espaços da internet flagrada sem calcinha, dentre outros momentos de intimidade jogados para o público se divertir em casa, como se a sua vida fosse uma série para ficar maratonando diariamente. Raspou a cabeça, tomou medicação para equinos, foi pega diversas vezes em alta velocidade, fugindo dos olhares curiosos de fotógrafos persuasivos. Foi internada, depois saiu, retornou brevemente algum tempo depois, mas ainda sem estabilidade. Caótica, a vida da cantora não era poupada quase nunca e qualquer aparição da moça era acompanhada por helicópteros, carros alucinados, motos envenenadas e curiosos desesperados por um pedaço da artista, tal como ela narra na canção Piece of Me, parte do álbum Blackout.

Entre momentos aparentemente mais equilibrados e períodos de muita tensão, Britney Spears produziu novos álbuns, shows, esteve em programas televisivos, apresentações especiais, dentre outras incursões para divulgação de seu trabalho. O que o documentário e as reportagens sobre o assunto deflagram constantemente é a ausência de paz interior e liberdade para a artista exercer qualquer função ou vontade sem a autorização de seu tutor, o pai que agora é considerado o grande monstro da história. Acusado de permitir abusos contra a integridade psicológica da filha, Jamie Spears vem sendo pressionado nos últimos meses e a novela em torno da tutela da cantora parece chegar a um desfecho que valorize o ponto de vista e os interesses da aprisionada. Não há como negar, no entanto, que a árdua jornada impactou negativamente na saúde física e mental de Britney e é bem provável que ela nunca mais seja a artista que nos prometeu quando surgiu com o delicioso Baby One More Time. Um dos pontos mais críticos da permissividade de Jamie foi aceitar que a sua filha fosse explorada em prol do lucro, numa empreitada de espetáculos medicada com substâncias pesadas, noutros momentos, febril, ou até mesmo incapacitada cognitivamente para realização de performances.

Prejudicada mentalmente, Britney Spears tem se manifestado entre uma postagem e outra nas redes sociais, sem fornecer nenhum depoimento oficial em algum programa televisivo há tempos. A sua saída deste processo vai gerar uma série de novas polêmicas e vamos precisar aguardar as cenas dos próximos capítulos para compreender como tudo vai se dar. Se for esperta, a artista deve aproveitar os ajustes que em breve podem ser favoráveis aos seus interesses e se afastar dos holofotes para recuperar o fôlego perdido diante de tantas atribulações. Uma pausa pode garantir, futuramente, uma volta brilhante aos palcos.

Acompanhamos com saudosismo momentos de excelente desempenho nos trechos de videoclipes e performances que atravessam vários trechos do documentário, desde a sua abertura ao desfecho, escolha narrativa que adota um tom didático ao explicar para o espectador a trajetória da artista, tornando possível a compreensão de sua jornada mesmo para aqueles que não conhecem o trabalho de Britney.

Sob a direção de Erin Lee Carr, com a colaboração de textos produzidos por Sloane Klevin, Britney vs. Spears é praticamente ausente de trilha sonora, com imagens muito bem editadas por Jason Sager e Tim K. Smith, além da boa direção de fotografia dos depoimentos, assinada pela dupla formada por Megan Stacey e Shane Sigler. Daniel Rutledger, responsável pelos efeitos visuais e gráficos, torna a experiência mais fluente, com informações não transmitida apenas por meio dos depoimentos, mas pela investigação narrada pela dupla de produtoras. É um trunfo estético e narrativo, um tanto moroso em alguns breves trechos por retratar aspectos metodológicos de análise de dados que deixam o tom pop e esfuziante de Britney Spears de lado, afinal, não é a proposta falar do excelente desempenho da artista nos palcos, mas analisar as imbricações de sua vida pessoal e profissional, chacoalhados pelo lado nocivo da sociedade do espetáculo contemporânea, ávida por novos escândalos oriundos deste novela que parece não encontrar um fim, cheia de conflitos e crises envolvendo interesses financeiro e família tóxica.

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Crítica | Britney vs. Spears – Documentário sobre a musa pop é um trunfo estético e narrativo

Na esteira do movimento #freebritney e das últimas reflexões cinematográficas sobre a trajetória de Britney Spears, a Netflix disponibilizou recentemente o documentário Britney vs. Spears, produção que narra de maneira orgânica e didática os processos que envolvem a cantora que há duas décadas se tornou uma das artistas mais promissoras da cultura pop. Spears é uma figura que teve a sua vida revirada após uma série de turbilhões, desde o começo de sua jornada ainda muito jovem, tendo o colapso estabelecido na era prévia ao advento de Blackout, álbum que traduziu as suas inquietações para o campo da música e do videoclipe. Há mais de uma década sob a tutela do pai, Jamie Spears, a cantora atualmente vive uma existência de clausura, podada de qualquer privilégio, obrigada a realizar shows, vídeos e programas televisivos mesmo contra a sua vontade, ainda pressionada em suas escolhas pessoais, tendo que receber autorização formal até mesmo para coisas simplórias, tais como adquirir livros para os filhos ou fazer qualquer breve passeio dirigindo.

Ao longo de seus 90 minutos, Britney vs. Spears apresenta uma abordagem mais fluente e organizada das informações já dispostas em Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela, produção do New York Times ovacionada pela crítica e público, mas considerada recentemente como hipócrita pela celebridade biografada, opinião registrada numa postagem na rede social. Numa observação em linhas gerais, temos aqui um documentário edificado com um adequado apuro jornalístico. As informações estão devidamente organizadas. Acompanhamos a leitura e análise de documentos com uma dose leve de sensacionalismo que não torna antiética a abordagem adotada pelas produtoras, numa realização que pensada didaticamente, funciona como uma assertiva aula de procedimentos metodológicos para a condução de um documentário.

É tudo muito fundamentado, com oportunidade de observação para lados diferenciados da questão central, isto é, a tutela na qual Britney Spears se encontra aprisionada, um processo que se arrasta por muito tempo e segundo relatos da artista e de pessoas que gravitam em torno de sua vida, tornou-se um dos casos mais abusivos de patriarcalismo no mundo contemporâneo. Uma celeuma que envolve esquemas de tortura psicológica, realização de trabalho forçado, doses generosas de dominação masculina, dentre outros tópicos para reflexão. A crise, como sabemos, se iniciou por volta de 2007, depois da fase In The Zone. Britney não conseguia mais suportar as pressões e exigências oriundas de todos os lados e sucumbiu. Como já apontado, casou, descasou, foi flagrada com uso de drogas e álcool em situações comprometedoras, em especial no trânsito e conduzindo os filhos sem segurança, além de ter demonstrado incapacidade de dar conta da maternidade.

Ademais, apareceu em revistas, telejornais e nos diversos espaços da internet flagrada sem calcinha, dentre outros momentos de intimidade jogados para o público se divertir em casa, como se a sua vida fosse uma série para ficar maratonando diariamente. Raspou a cabeça, tomou medicação para equinos, foi pega diversas vezes em alta velocidade, fugindo dos olhares curiosos de fotógrafos persuasivos. Foi internada, depois saiu, retornou brevemente algum tempo depois, mas ainda sem estabilidade. Caótica, a vida da cantora não era poupada quase nunca e qualquer aparição da moça era acompanhada por helicópteros, carros alucinados, motos envenenadas e curiosos desesperados por um pedaço da artista, tal como ela narra na canção Piece of Me, parte do álbum Blackout.

Entre momentos aparentemente mais equilibrados e períodos de muita tensão, Britney Spears produziu novos álbuns, shows, esteve em programas televisivos, apresentações especiais, dentre outras incursões para divulgação de seu trabalho. O que o documentário e as reportagens sobre o assunto deflagram constantemente é a ausência de paz interior e liberdade para a artista exercer qualquer função ou vontade sem a autorização de seu tutor, o pai que agora é considerado o grande monstro da história. Acusado de permitir abusos contra a integridade psicológica da filha, Jamie Spears vem sendo pressionado nos últimos meses e a novela em torno da tutela da cantora parece chegar a um desfecho que valorize o ponto de vista e os interesses da aprisionada. Não há como negar, no entanto, que a árdua jornada impactou negativamente na saúde física e mental de Britney e é bem provável que ela nunca mais seja a artista que nos prometeu quando surgiu com o delicioso Baby One More Time. Um dos pontos mais críticos da permissividade de Jamie foi aceitar que a sua filha fosse explorada em prol do lucro, numa empreitada de espetáculos medicada com substâncias pesadas, noutros momentos, febril, ou até mesmo incapacitada cognitivamente para realização de performances.

Prejudicada mentalmente, Britney Spears tem se manifestado entre uma postagem e outra nas redes sociais, sem fornecer nenhum depoimento oficial em algum programa televisivo há tempos. A sua saída deste processo vai gerar uma série de novas polêmicas e vamos precisar aguardar as cenas dos próximos capítulos para compreender como tudo vai se dar. Se for esperta, a artista deve aproveitar os ajustes que em breve podem ser favoráveis aos seus interesses e se afastar dos holofotes para recuperar o fôlego perdido diante de tantas atribulações. Uma pausa pode garantir, futuramente, uma volta brilhante aos palcos.

Acompanhamos com saudosismo momentos de excelente desempenho nos trechos de videoclipes e performances que atravessam vários trechos do documentário, desde a sua abertura ao desfecho, escolha narrativa que adota um tom didático ao explicar para o espectador a trajetória da artista, tornando possível a compreensão de sua jornada mesmo para aqueles que não conhecem o trabalho de Britney.

Sob a direção de Erin Lee Carr, com a colaboração de textos produzidos por Sloane Klevin, Britney vs. Spears é praticamente ausente de trilha sonora, com imagens muito bem editadas por Jason Sager e Tim K. Smith, além da boa direção de fotografia dos depoimentos, assinada pela dupla formada por Megan Stacey e Shane Sigler. Daniel Rutledger, responsável pelos efeitos visuais e gráficos, torna a experiência mais fluente, com informações não transmitida apenas por meio dos depoimentos, mas pela investigação narrada pela dupla de produtoras. É um trunfo estético e narrativo, um tanto moroso em alguns breves trechos por retratar aspectos metodológicos de análise de dados que deixam o tom pop e esfuziante de Britney Spears de lado, afinal, não é a proposta falar do excelente desempenho da artista nos palcos, mas analisar as imbricações de sua vida pessoal e profissional, chacoalhados pelo lado nocivo da sociedade do espetáculo contemporânea, ávida por novos escândalos oriundos deste novela que parece não encontrar um fim, cheia de conflitos e crises envolvendo interesses financeiro e família tóxica.

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