terça-feira, abril 23, 2024

Crítica | Bruxa de Blair

Bruxas e Drones

O que fez de A Bruxa de Blair (1999) uma produção especial dentro do gênero do terror? Tirando o fato da hiper criativa campanha de marketing virtual – numa época em que a internet ainda engatinhava, vendendo a obra como um documentário real – A Bruxa de Blair também foi pioneiro e “pai” do estilo found footage, aquele tipo de filme no qual tudo o que vemos é filmado por um dos personagens, dando aquela aparência de gravação de aniversário de criança na casa da vovó.

Porém, muito mais do que isso, A Bruxa de Blair é eficiente por criar um clima. Por trabalhar com pouco e entregar muito. Por, de forma interessante, nos envolver numa mitologia construída em poucos minutos. O filme é como aquelas histórias de horror contadas em acampamentos e casas de campo, ou seja, quando temos um bom narrador, fica difícil dormir depois devido ao que entrou em nossas mentes. Não por menos, a produção se tornou um dos filmes independentes mais rentáveis da história do cinema. Reproduzir tal feito seria uma missão complicada.

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Após uma malfadada sequência vinda logo no ano seguinte, os detentores dos direitos de tal história resolvem tentar de novo, quase vinte anos depois do filme original, eliminando a continuação indesejável e seguindo diretamente de onde o primeiro parou. Na realidade, podemos nos perguntar se o novo filme é uma continuação ou uma refilmagem, já que o resultado final se torna uma amalgama entre as duas coisas. Na trama, o irmão de Heather (do filme original) acredita ter vislumbrado a irmã em um vídeo na internet postado por Lane (Wes Robinson), em uma nova expedição pela mesma floresta.

Assim, James (James Allen McCune), o irmão, ao lado de outros cinco jovens, incluindo o sujeito que realizou a primeira filmagem, decidem desbravar novamente o local, em busca da jovem desaparecida em 1994 – sim, o filme original embora tenha sido lançado em 1999, relata eventos ocorridos em 1994. Pois é, amigos. Pela premissa já dá para ver que cronologia não é o forte da nova obra, já que um lapso de mais de 20 anos ocorreu. A conexão entre os filmes é quase legal e constrói uma ponte minimamente interessante, apesar do tema “encontrar a irmã” como elemento de  ligação está mais que batido. E de fato, esse é o menor dos problemas de Bruxa de Blair.

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Bem, por onde começo. Refazer ou continuar A Bruxa de Blair (1999) é como andar em gelo fino. Primeiro, pela estética que será usada. Em 2000 tivemos a continuação que não utilizava o found footage e não foi aceita. Por outro lado, hoje o found footage cansou, e enjoa mais do que agrada. Como dito, depois de A Bruxa de Blair, dezenas de outras produções utilizaram o visual para contar suas histórias. E a maioria irritou mais do que empolgou. Mas mesmo assim, lá vem eles outra vez, nos empurrando imagens tremidas, muita câmera sacolejando e pouco entendimento do que está se passando na tela. O roteiro de Simon Barrett resolve homenagear demais e termina com gosto de xérox. Já a direção de Adam Wingard realmente opta pelo “ar amador” – afinal, essa é a intenção. No passado, Barrett e Wingard colaboraram em obras mais interessantes, como Você é o Próximo (2011) e o ultra cult The Guest (2014). O fato da dupla estar presente nos créditos pode surpreender a maioria, como o que vos fala.

Se você gosta de 90 minutos de pura correria, gritaria e pouco conteúdo, este pode ser o filme para você. Uma curiosidade, o novo Bruxa de Blair chegou de forma sorrateira, sendo produzido com outro título e só se declarando como um filme da franquia aos 45 dos segundo tempo. Poucos elementos novos e criativos são adicionados na mistura (sendo o melhor deles a explicação da verdadeira utilidade dos infames gravetos em forma de pessoas). Aqui temos drones, câmeras GoPro e Youtube, mas quase nenhuma alma ou diversão. Bruxa de Blair é um filme desagradável, e não no melhor sentido da palavra.

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Não deixe de assistir:

Os personagens desta vez não são simpáticos, pelo contrário, são idiotas que vivem se separando e tomando as piores decisões clichês de todos os filmes de terror. Será que esse povo nunca assistiu a um? Todo o suspense gratificante se esvai quando decidem pela primeira vez na franquia revelar o monstro. Além disso, Bruxa de Blair é um filme de sustos fáceis, infelizmente. Recai naquela máxima muito criticada, na qual os sustos ocorrem de situações banais, como quando personagens se reencontram após terem se separado. Isso acontece de forma recorrente ao longo, aliás, ocorre em todas as vezes que eles se reencontram. Lá vem o som alto, e um susto forçado.

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É muito triste quando um terror precisar apelar a golpes baixos como este na hora de assustar sua plateia e demonstra falta de confiança no material. Imagine, você está perdido na floresta junto de amigos, eles se separam, você os chama e eles não respondem, somente para depois aparecem do seu lado, lhe dando um baita susto. É algo deste nível. Me fez lembrar da infame cena do rádio, na qual a câmera focaliza um rádio (não estou brincando) e o som alto chega logo em seguida, para que tal objeto nos dê o susto. Um dos maiores absurdos recentes, presente em Exorcistas do Vaticano (2015) ou A Possessão do Mal (2014), bom, alguma dessas atrocidades, que não por acaso também faziam uso do estilo found footage.

Bruxa de Blair ainda tem a audácia de recriar momentos idênticos ao do filme de 1999, o desfecho é basicamente o mesmo. A diferença é que com explicações toda a graça se esvai. Assista por sua conta e risco, e somente se for um verdadeiro aficionado por tal mitologia. Bem, se você for, crítica alguma irá convencê-lo de que este não é o melhor filme do ano. Então aproveite a experiência e divirta-se, porque a vida é curta.

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