terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Calls – Série do diretor de ‘A Morte do Demônio’ causa sensação de angústia e tensão

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Quando você acha que já viu de tudo em Hollywood, alguém vai lá e inventa uma parada inovadora, que você não esperava que fosse feito – e que, agora que fizeram, faz todo sentido. Esse alguém é Fede Alvarez, responsável pelos sucessos ‘O Homem nas Trevas’ e ‘Millenium: A Garota na Teia de Aranha’. E o que ele criou se chama ‘Calls’, uma série um bocado surpreendente, disponível na Apple TV+.

Para início de conversa, ‘Calls’ não é bem uma série para ser vista, e sim ouvida. É que ela não possui elementos visuais estéticos para construir sua narrativa – na verdade, os episódios são independentes entre si e cada um conta uma bizarra história de uma ligação feita entre pessoas comuns e/ou a polícia e estranhos pedidos de socorro. Os únicos recursos visuais que ocorrem são as reproduções das estáticas sonoras (que acompanham a entonação de voz das pessoas/personagens) e a legenda em inglês, que, mesmo no original aparece na tela, para ajudar-nos a compreender bem o que falam as pessoas (uma vez que em determinadas situações as vozes ficam abafadas por estarem ao telefone).

Considerando que Fede Alvarez fez grande sucesso com um filme cujo personagem principal passa de vítima a agressor e é justamente privado do sentido da visão, este projeto, ‘Calls’ (ligações, telefonemas, em tradução livre), retoma esse mesmo mote e se baseia inteiramente na mesma privação da visão. Com isso, o espectador é convidado a ouvir – a duvidar e confiar naquilo que ouve para tirar suas próprias conclusões sobre o que está acontecendo.

Dividida em nove episódios curtinhos de cerca de quinze minutos de duração cada, em teoria ‘Calls’ é uma série maratonável, mas o legal dela é ir vendo – ou ouvindo – aos poucos, para ir sentindo o impacto de cada história e elaborar suas próprias teorias. As ligações revelam todo tipo de bizarrice inexplicável, como criaturas disformes que invadem a casa das pessoas se fazendo parecer com entes queridos, etc. Não é bem o tipo de programa para assistir à noite antes de dormir, mas é ótimo para ver/ouvir com os amigos em vídeo-chamada, que daí o clima de medo aumenta, porque se torna coletivo.

A grande sacada de Fede Alvarez foi construir um programa de entretenimento que se baseasse em sensações. Em ‘Calls’ o lance não é descobrir o que aconteceu ou o porquê das coisas, mas sim senti-las, ouvi-las, percebê-las. Privados da visão, somos obrigados a aguçar a audição e nos colocarmos no lugar dos personagens. Com isso, involuntária e imperceptivelmente vamos mergulhando numa tensão crescente, angustiante, contagiante, marcada pelo ritmo do fôlego dos relatos.

Calls’ é uma série de terror psicológico experimental e sensorial. Uma opção interessante e diferentona de tudo que andamos vendo nos streamings.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Para início de conversa, ‘Calls’ não é bem uma série para ser vista, e sim ouvida. É que ela não possui elementos visuais estéticos para construir sua narrativa – na verdade, os episódios são independentes entre si e cada um conta uma bizarra história de uma ligação feita entre pessoas comuns e/ou a polícia e estranhos pedidos de socorro. Os únicos recursos visuais que ocorrem são as reproduções das estáticas sonoras (que acompanham a entonação de voz das pessoas/personagens) e a legenda em inglês, que, mesmo no original aparece na tela, para ajudar-nos a compreender bem o que falam as pessoas (uma vez que em determinadas situações as vozes ficam abafadas por estarem ao telefone).

Considerando que Fede Alvarez fez grande sucesso com um filme cujo personagem principal passa de vítima a agressor e é justamente privado do sentido da visão, este projeto, ‘Calls’ (ligações, telefonemas, em tradução livre), retoma esse mesmo mote e se baseia inteiramente na mesma privação da visão. Com isso, o espectador é convidado a ouvir – a duvidar e confiar naquilo que ouve para tirar suas próprias conclusões sobre o que está acontecendo.

Dividida em nove episódios curtinhos de cerca de quinze minutos de duração cada, em teoria ‘Calls’ é uma série maratonável, mas o legal dela é ir vendo – ou ouvindo – aos poucos, para ir sentindo o impacto de cada história e elaborar suas próprias teorias. As ligações revelam todo tipo de bizarrice inexplicável, como criaturas disformes que invadem a casa das pessoas se fazendo parecer com entes queridos, etc. Não é bem o tipo de programa para assistir à noite antes de dormir, mas é ótimo para ver/ouvir com os amigos em vídeo-chamada, que daí o clima de medo aumenta, porque se torna coletivo.

A grande sacada de Fede Alvarez foi construir um programa de entretenimento que se baseasse em sensações. Em ‘Calls’ o lance não é descobrir o que aconteceu ou o porquê das coisas, mas sim senti-las, ouvi-las, percebê-las. Privados da visão, somos obrigados a aguçar a audição e nos colocarmos no lugar dos personagens. Com isso, involuntária e imperceptivelmente vamos mergulhando numa tensão crescente, angustiante, contagiante, marcada pelo ritmo do fôlego dos relatos.

Calls’ é uma série de terror psicológico experimental e sensorial. Uma opção interessante e diferentona de tudo que andamos vendo nos streamings.

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