segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | CAM – Suspense cibernético e sombrio como Black Mirror

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Com uma ousada percepção do mundo cibernético e uma construção centrada na experiência da personagens Alice/Lola (Madeline Brewer), Cam (Cam) é um supreendente suspense que nos remete a alguns episódios do seriado inglês Black Mirror (2011-). A analogia é possível porque o filme, escrito por Isa Mazzei, aborda o trabalho de garotas se expondo na internet em busca de admiradores e contribuintes do seu show particular online, uma mistura de strip-tease e salas de bate-papo.

A concepção dessa ideia é boa graça às experiências reais da roteirista neste mundo virtual, onde cada ação é agraciada com alguns doláres de homens dispostos a investir neste entretenimento de apelo sexual. Acompanhamos desde o início a ambição de Lola em chegar entre as 50 primeiras no ranking da plataforma. Sua performace neste cenário é de fato a sua profissão, ela investe tempo, criatividade e mantém um planejamento temático de cada transmissão.



A organização da história dividia em mundo real e vitural soa bastante verídica em termos estéticos e na atuação de Madeline Brewer. Alice conserva sua vida virtual/profissional em segredo da sua mãe, além disso ela estipula regras para manter a sua personagem, conversa com os seus espectadores, tal como um atendimento especial ao cliente em busca de ganhar mais condecorações e subir no ranking.

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Ao mesmo tempo que constroi-se um modo de vida rentável, ela danifica as suas relações sociais no mundo real. Suas amigas são outras meninas participantes da mesma plataforma, ou seja, a amizade faz parte da competição entre elas. Quando surge uma amiga antiga em cena, Alice não sabe como reagir e mente sobre sua vida profissional. Com mérito à atriz Madeline Brewer, a personagem é envolvente e audaciosa para sua pouca idade.

Com casa própria e luxos excessivos, bem distantes da realidade da mãe cabeleireira, Alice tem como principal objetivo conquistar o topo do ranking. Contudo, um obstáculo em forma de hacker surge no seu caminho. De repente, o perfil de Lola passa a fazer transmissões sem a sua presença e,  enquanto ela tenta recuperar o seu perfil, o seu alter ego começa a fazer mais sucesso e atingir sua vida real.

O suspense do filme é muito bem construído, pois Alice não desiste de recuperar o seu perfil e descobrir quem se passa por ela, tornando-se um jogo psicológico macabro. Cam consegue transmitir a angústia e a revolta da protagonista quando tem a sua identidade virtual roubada, sobretudo apresenta como a verdade pode ter diversas camadas a partir de diferentes perspectivas. Afinal de contas, todos os personagens do filme são suspeitos.

Para este dilema, Alice vai longe na loucura do mundo online, uma espécie de história de inteligencia artificial apresentada nos episódios de Black Mirror. A inspiração para o roteiro de Cam pode ter partido de um desses devaneios distópicos tão palpáveis que assustam e impressionam.

Os personagens masculinos Tinker (Patch Darragh) – um perseguidor obsessivo -, e Barney (Michael Dempsey) – um cafetão generoso, são ótimos na construção do público-alvo do produto que Lola representa na internet. Apesar de não se despir ou manter relações sexuais com os clientes, o imaginário coloca Alice em um patamar de prostituição na sociedade, mas o filme de Daniel Goldhaber persiste na reflexão mais aprofundada e carrega uma aura feminista em sua personagem independente e obstinada, apesar de totalmente seduzida pela vida virtual.

Em questão de apresentação técnica, Cam é simples entre a tela do computador e a reação da atriz. O grande trunfo deste suspense é o roteiro bem coordenado e surpreendente, estimulador de um pensamento crítico sobre os próximos passos da humanidade em relação à internet. Além disso, Cam deve sua ousada narrativa à interpretação fabulosa da jovem Madeline Brewer.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com uma ousada percepção do mundo cibernético e uma construção centrada na experiência da personagens Alice/Lola (Madeline Brewer), Cam (Cam) é um supreendente suspense que nos remete a alguns episódios do seriado inglês Black Mirror (2011-). A analogia é possível porque o filme, escrito por Isa Mazzei, aborda o trabalho de garotas se expondo na internet em busca de admiradores e contribuintes do seu show particular online, uma mistura de strip-tease e salas de bate-papo.

A concepção dessa ideia é boa graça às experiências reais da roteirista neste mundo virtual, onde cada ação é agraciada com alguns doláres de homens dispostos a investir neste entretenimento de apelo sexual. Acompanhamos desde o início a ambição de Lola em chegar entre as 50 primeiras no ranking da plataforma. Sua performace neste cenário é de fato a sua profissão, ela investe tempo, criatividade e mantém um planejamento temático de cada transmissão.

A organização da história dividia em mundo real e vitural soa bastante verídica em termos estéticos e na atuação de Madeline Brewer. Alice conserva sua vida virtual/profissional em segredo da sua mãe, além disso ela estipula regras para manter a sua personagem, conversa com os seus espectadores, tal como um atendimento especial ao cliente em busca de ganhar mais condecorações e subir no ranking.

Ao mesmo tempo que constroi-se um modo de vida rentável, ela danifica as suas relações sociais no mundo real. Suas amigas são outras meninas participantes da mesma plataforma, ou seja, a amizade faz parte da competição entre elas. Quando surge uma amiga antiga em cena, Alice não sabe como reagir e mente sobre sua vida profissional. Com mérito à atriz Madeline Brewer, a personagem é envolvente e audaciosa para sua pouca idade.

Com casa própria e luxos excessivos, bem distantes da realidade da mãe cabeleireira, Alice tem como principal objetivo conquistar o topo do ranking. Contudo, um obstáculo em forma de hacker surge no seu caminho. De repente, o perfil de Lola passa a fazer transmissões sem a sua presença e,  enquanto ela tenta recuperar o seu perfil, o seu alter ego começa a fazer mais sucesso e atingir sua vida real.

O suspense do filme é muito bem construído, pois Alice não desiste de recuperar o seu perfil e descobrir quem se passa por ela, tornando-se um jogo psicológico macabro. Cam consegue transmitir a angústia e a revolta da protagonista quando tem a sua identidade virtual roubada, sobretudo apresenta como a verdade pode ter diversas camadas a partir de diferentes perspectivas. Afinal de contas, todos os personagens do filme são suspeitos.

Para este dilema, Alice vai longe na loucura do mundo online, uma espécie de história de inteligencia artificial apresentada nos episódios de Black Mirror. A inspiração para o roteiro de Cam pode ter partido de um desses devaneios distópicos tão palpáveis que assustam e impressionam.

Os personagens masculinos Tinker (Patch Darragh) – um perseguidor obsessivo -, e Barney (Michael Dempsey) – um cafetão generoso, são ótimos na construção do público-alvo do produto que Lola representa na internet. Apesar de não se despir ou manter relações sexuais com os clientes, o imaginário coloca Alice em um patamar de prostituição na sociedade, mas o filme de Daniel Goldhaber persiste na reflexão mais aprofundada e carrega uma aura feminista em sua personagem independente e obstinada, apesar de totalmente seduzida pela vida virtual.

Em questão de apresentação técnica, Cam é simples entre a tela do computador e a reação da atriz. O grande trunfo deste suspense é o roteiro bem coordenado e surpreendente, estimulador de um pensamento crítico sobre os próximos passos da humanidade em relação à internet. Além disso, Cam deve sua ousada narrativa à interpretação fabulosa da jovem Madeline Brewer.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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