segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Campo do Medo – A Versão de ‘João e Maria’ de Stephen King

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Outubro é o mês do terror, e nada mais justo do que a Dona Netflix trazer já na primeira semana um longa baseado em uma história do mestre do gênero, Stephen King. A novidade é que esse ‘Campo do Medo’ é, na verdade, inspirado em um conto escrito por ele e pelo seu filho, Joe Hill (também escritor, só que mais conhecido por suas histórias de suspense). Todas essas informações são relevantes porque por mais que alguns dos elementos clássicos do “estilo Stephen King” estejam presentes, dá para sentir que nem todas as cenas se assemelham com o tipo de escolha que seus personagens fariam – e isso faz a diferença no tamanho da nossa expectativa quando optamos por ver um filme que traz em sua sinopse “baseado na obra de Stephen King”.



 

Tudo começa quando Becky (Laysla De Oliveira) e seu irmão Cal Denuth (Avery Whitted) estão dirigindo para San Diego, mas, no meio do caminho Becky se sente mal por causa da sua gravidez e pede para que Cal pare o carro. O rapaz encosta o veículo em frente a uma igreja cercada por mato alto e, tão logo eles param, ouvem a voz de um menino pedindo socorro. Indecisos sobre o que fazer, os irmãos resolvem, por fim, entrar no matagal para ajudar o garoto Tobin (Will Buie Jr.) – e aí começa o grande pesadelo deles.

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O matagal é um enorme labirinto sem fim, cujas perspectivas e referências cardiais mudam espontaneamente, fazendo com que os personagens percam a noção de onde estão e tenham dificuldades para descobrir o caminho certo. Por essa perspectiva, podemos ver ‘Campo do Medo’ como uma releitura do clássico infantil ‘João e Maria’, no qual (tcharam!) dois irmãos se perdem numa floresta obscura, devem enfrentar os desafios de estarem sozinhos e tentar escapar de uma ameaça central. Por outro viés, há elementos também de ‘O Mágico de Oz’, seja no formato dos personagens (temos até um cachorro!), seja pelo desejo de voltar para casa.

 

Com uma hora e quarenta de filme, o longa de Vincenzo Natali (roteirista do bizarro ‘Cubo’) se esforça, mas oferece pouco desafio para o espectador. A bem da verdade, depois da primeira meia hora de filme a trama já parece resolvida. Talvez o formato circular e passivo não tenha sido a melhor escolha para um enredo que funcionaria bem melhor se tivesse a participação ativa do espectador. Considerando que a distribuição é da plataforma Netflix – que trouxe o inesquecível ‘Bandersnach’ – talvez o formato “escolha você o que o personagem deve fazer” fosse uma opção mais acertada, imergindo melhor o espectador naquele universo inexplicável.

 

Ainda assim, ‘Campo do Medo’ entretém a seu modo. Com pouquíssimas cenas de violência e de terror e quase nada de sangue, é uma boa opção para pessoas com pouca tolerância a cenas pesadas. Mas fica o aviso: é desses filmes com começo e fim bem estilo Stephen King, ou seja, o que importa mesmo é o desenvolvimento e as escolhas dos personagens dentro daquela situação de perigo. De resto, é um filme bem chuchu, com roteiro bacana e atuações legais dentro de um looping eterno, mas sem tempero algum.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Outubro é o mês do terror, e nada mais justo do que a Dona Netflix trazer já na primeira semana um longa baseado em uma história do mestre do gênero, Stephen King. A novidade é que esse ‘Campo do Medo’ é, na verdade, inspirado em um conto escrito por ele e pelo seu filho, Joe Hill (também escritor, só que mais conhecido por suas histórias de suspense). Todas essas informações são relevantes porque por mais que alguns dos elementos clássicos do “estilo Stephen King” estejam presentes, dá para sentir que nem todas as cenas se assemelham com o tipo de escolha que seus personagens fariam – e isso faz a diferença no tamanho da nossa expectativa quando optamos por ver um filme que traz em sua sinopse “baseado na obra de Stephen King”.

 

Tudo começa quando Becky (Laysla De Oliveira) e seu irmão Cal Denuth (Avery Whitted) estão dirigindo para San Diego, mas, no meio do caminho Becky se sente mal por causa da sua gravidez e pede para que Cal pare o carro. O rapaz encosta o veículo em frente a uma igreja cercada por mato alto e, tão logo eles param, ouvem a voz de um menino pedindo socorro. Indecisos sobre o que fazer, os irmãos resolvem, por fim, entrar no matagal para ajudar o garoto Tobin (Will Buie Jr.) – e aí começa o grande pesadelo deles.

O matagal é um enorme labirinto sem fim, cujas perspectivas e referências cardiais mudam espontaneamente, fazendo com que os personagens percam a noção de onde estão e tenham dificuldades para descobrir o caminho certo. Por essa perspectiva, podemos ver ‘Campo do Medo’ como uma releitura do clássico infantil ‘João e Maria’, no qual (tcharam!) dois irmãos se perdem numa floresta obscura, devem enfrentar os desafios de estarem sozinhos e tentar escapar de uma ameaça central. Por outro viés, há elementos também de ‘O Mágico de Oz’, seja no formato dos personagens (temos até um cachorro!), seja pelo desejo de voltar para casa.

 

Com uma hora e quarenta de filme, o longa de Vincenzo Natali (roteirista do bizarro ‘Cubo’) se esforça, mas oferece pouco desafio para o espectador. A bem da verdade, depois da primeira meia hora de filme a trama já parece resolvida. Talvez o formato circular e passivo não tenha sido a melhor escolha para um enredo que funcionaria bem melhor se tivesse a participação ativa do espectador. Considerando que a distribuição é da plataforma Netflix – que trouxe o inesquecível ‘Bandersnach’ – talvez o formato “escolha você o que o personagem deve fazer” fosse uma opção mais acertada, imergindo melhor o espectador naquele universo inexplicável.

 

Ainda assim, ‘Campo do Medo’ entretém a seu modo. Com pouquíssimas cenas de violência e de terror e quase nada de sangue, é uma boa opção para pessoas com pouca tolerância a cenas pesadas. Mas fica o aviso: é desses filmes com começo e fim bem estilo Stephen King, ou seja, o que importa mesmo é o desenvolvimento e as escolhas dos personagens dentro daquela situação de perigo. De resto, é um filme bem chuchu, com roteiro bacana e atuações legais dentro de um looping eterno, mas sem tempero algum.

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