Uma geração inteira de espectadores cresceu assistindo a franquia ‘Missão Impossível’ nos cinemas, vendo Tom Cruise em situações cada vez mais inacreditáveis (no real sentido da palavra) e se superando desde 1996, quando estreou o primeiro filme. De lá para cá é ilusório pensar que cineastas e roteiristas de filmes de ação não tenham sido influenciados de alguma forma pela franquia, que é, goste-se ou não, um sucesso mundial. Para quem curte esse tipo de entretenimento, ‘Carter’, sucesso da semana da Netflix, é o programão ideal.
Carter Lee (Joo Won) é um assassino de aluguel desmemoriado. Ele é literalmente acordado por uma equipe da CIA que o encontra em um quarto de motel, falando em inglês, perguntando quem ele é. Confuso e pelado, no que ele tenta responder Carter literalmente ouve uma voz em sua cabeça lhe dando instruções para sair dali o quanto antes, pois o prédio vai explodir. A partir desse momento, sua vida vira uma corrida contra o tempo, pois a voz lhe comunica que ele precisa salvar a criança Ha-na (Kim Bo-Min), pois o sangue dela possui a única substância capaz de gerar uma vacina contra um vírus letal que está assolando o mundo e transformando as pessoas em uma espécie de zumbis. Porém, os governos dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e da Coreia do Norte estão usando essa criança como ferramenta de disputa para iniciar uma guerra mundial, e Carter terá que confiar em seus próprios instintos para sobreviver, uma vez que todo mundo parece querer prejudicá-lo em sua missão.
Em longuíssimas duas horas e quinze de duração, ‘Carter’ tem uma história de espionagem mirabolante demais e difícil de acompanhar dada as intermináveis sequências de ação que compõem o recheio da produção. O roteiro de Byeong-sik Jung e Byung-gil Jung parece querer abarcar todos os temas polêmicos que possam atrair o público – político (briga EUA x Coreia do Norte), de saúde (pandemia, vírus) e biológico (corrida pelas vacinas) – para servir como pano de fundo para um argumento que quer mesmo só oferecer sequências sem fim de cenas de luta e de ação. Se o objetivo era esse, nem precisava de tanta história, pois, nas poucas vezes em que o enredo para, na tentativa de se explicar, só confunde o espectador, que se perde na história e nos objetivos dos personagens.
O que vale mesmo é a ação em ‘Carter’, e nisso o diretor Byung-gil Jung dedica todos os seus esforços (e seu orçamento). Desde o primeiro plano-sequência do motel que vai parar numa sauna com uma centena de homens de tanguinha e bunda de fora lutando e espirrando sangue para todos os lados a situações impossíveis como o protagonista pendurado segurando-se pelos dedos em um avião em queda livre, as cenas de ação são puro suco de adrenalina sem parar sem parar sem parar – dá até uma cansada e uma vertigem, tão frequentes são as viradas de câmera e de ângulo para acompanhar os movimentos do protagonista.
Numa imersão a la ‘Call of Duty’, ‘Carter’ é um ótimo filme de ação para quem curte, desde que se deixe a história de lado. Aos espectadores com labirintite e outras sensibilidades, recomenda-se algumas pausas ao longo da exibição.