quarta-feira, maio 1, 2024

Crítica | Cassandro: Gael Garcia Bernal vive icônico lutador de Lucha Libre em cinebiografia da Prime Video

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023

Bem longe do padrão de sua tão peculiar profissão, Saúl Armendáriz desafiou seus próprios limites físicos e pessoais para transformar sua franzina estrutura em um espetáculo visual à parte. Com cabelos loiros bem tingidos e figurinos flamboyant que evidenciavam cada detalhe de seu corpo, ele se esgueirou para dentro da tradicional Lucha Libre mexicana como o underdog exótico – aquele que normalmente jamais venceria seus combates. Mas indo contra todos os seus performáticos oponentes e contra as regras informais que regem este esporte, ele foi capaz de fazer de seu alter-ego Cassandro um ícone sociocultural. E ao se contrapor ao status quo, ele naturalmente também fez história para a comunidade LGBTQIA+.

Mesmo distante do nosso escopo cultural, a história de Armendáriz e Cassandro têm muito mais a ver conosco do que imaginamos. Nascido em um lar desestruturado, em um contexto de escassez, ele decidiu percorrer o caminho mais longo, em uma rota um tanto inóspita. Ainda que a Lucha Libre sempre tenha ocupado um enorme lugar no coração do povo mexicano, o caricato esporte faz parte de uma espécie de contracultura. E para alguém que fugia de todos os padrões, transformar o inusitado em carreira parecia muito mais inviável do que um sonho possível. E é a garra e o otimismo do personagem que fazem de Cassandro um filme feito para todos. Independente do contexto sociocultural, o lutador amador carrega um pouco de cada um de nós. E pelas mãos dos roteiristas David Teague e Roger Ross Williams, cada luta, cada derrota e cada recomeço são tratados com delicadeza, bom humor e muito respeito.

Mas o roteiro de Cassandro só consegue nos tomar de uma vez graças a Gael García Bernal. Dono de um talento imensurável, o astro já conquistou Hollywood há décadas, mas continua nos mantendo naquele primeiro amor – a fase do encantamento. Ágil, dinâmico e reluzente em tela, ele é a expressão certeira de Saúl e Cassandro e consegue evidenciar em sua performance todas as nuances que distinguem a figura real de seu alter-ego. E de maneira leve e divertida, o original da Amazon Prime Video se torna uma experiência convidativa, que brinca com os estereótipos de seu protagonista para de fato celebrá-lo pelo dedicado homem que sempre foi.

E conforme também aborda a relação de Armendáriz com sua mãe, Cassandro ainda consegue ser um dramédia familiar – embora não seja de censura baixa. Mostrando a intimista relação que mais marcou a vida do artista, o longa é capaz de crescer em nosso conceito de forma diferente e especial, justamente por transcender as ambições profissionais. Aqui, não vemos a gana de um homem obstinado. Enxergamos um jovem, rejeitado pelo pai, que encontra na relação com sua mãe a coragem que precisa para realizar um sonho. E com simbolismos tão poderosos e identificáveis, Bernal e o cineasta Roger Ross Williams fazem da cinebiografia uma alegoria catártica, apaixonante e essencialmente divertida.

Bem dirigido e com um excelente e suntuoso figurino elaborado por Mariestela Fernández, a comédia dramática ainda explora com naturalidade os desafios do artista em relação a sua sexualidade. Sem transformar a luta pessoal de Armendáriz em um agenda, Williams e Teague abordam os dilemas, a discriminação e a rejeição social enfrentada pelo lutador dentro e fora dos ringues, nos fazendo entender a vida pela ótica de um jovem gay em uma época marcada por preconceitos. E valorizando a culturalidade mexicana a partir do design de produção de J.C. Molina, dos figurinos e das dinâmicas relacionais entre os personagens, Cassandro é também uma celebração ao México, a suas raízes e a sua história. Com Gael nos levando por uma colorida aventura onde o final é só o começo, o filme original da Prime Video é um impulso ao desconhecido, um convite aos sonhos mais insanos que carregamos no coração.

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