segunda-feira , 25 novembro , 2024

Crítica | Christabel – Belo filme brasileiro baseado em poema vampiresco de Samuel Taylor Coleridge

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Samuel Taylor Coleridge foi um dos principais poetas ingleses de todos os tempos, reconhecido, junto com outros coleguinhas, por ser um dos fundadores do Romantismo inglês. Nascido no terço final do século XVIII, seus poemas inspiraram muitas manifestações artísticas, como, por exemplo, a do grupo de metal Iron Maiden, que adaptou o poema ‘A Balada do Velho Marinheiro’ em seu álbum Powerslave, de 1984. Agora, em 2021, chega aos cinemas ‘Christabel’, filme brasileiro inspirado livremente no poema homônimo do escritor inglês.



Christabel’ se passa no coração do cerrado brasileiro. Seu Leonel (Julio Adrião) é um pobre trabalhador rural que mora com a filha, Christabel (Milla Fernandez), uma moça órfã cujas tarefas domésticas diárias são a única ocupação de sua vida. Depois que o noivo (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de ‘Cidade de Deus’) sai para levar o gado, a jovem se sente extremamente solitária em sua casa. Até que, certa noite, o surgimento de uma mulher misteriosa atiça a curiosidade da moça, que a leva para dentro de sua casa para cuidar dela. Só que a presença da enigmática Geraldine (Lorena Castanheira) irá abalar as relações pré-estabelecidas entre pai e filha.

Em se tratando de uma adaptação literária de um poema (longuíssimo, por sinal), o filme de uma hora e quarenta de duração encontra boas soluções para conseguir ao mesmo tempo contar a narrativa e adaptá-la para o formato cinematográfico. Alex Levy-Heller faz um bom espelhamento do romantismo inglês meio gótico do século XVIII para uma realidade brasileira atual. Se o espectador não sabe a fonte de inspiração, nem irá desconfiar da sua origem. A principal alternativa encontrada aparece na figura de uma espécie de trovador no meio do caminho, que, com sua sanfona, canta os versos adaptados para a língua e a realidade brasileira, enquanto conversa com Seu Leonel sobre a origem de Geraldine.

A produção faz bom uso da locação no cerrado, de modo a dar espaço para a bela fotografia orquestrada por Vinicius Berger. Não só as paisagens são de tirar o fôlego, gravadas nas primeiras horas da manhã, mas também o enquadramento das cenas, que busca sempre colocar a câmera em lugares inusitados, fazendo o espectador espiar o que acontece dentro da casa da família. A direção de fotografia conta uma linha narrativa só dela, optando por mostrar quando acha por bem, ou simplesmente insinuar, deixar a imaginação do espectador correr solta, trazendo novas formas de se dizer as coisas sem necessariamente mostrá-las.

A história é carregada pelo dueto Milla Fernandez e Lorena Castanheira, que trabalha bem o jogo de sedução vampiresca X tentação sem ser vulgar ou caricato. Julio Adrião, porém, passa a sensação de muitas vezes errar a entrada das suas falas, demonstrando certa insegurança no papel. Dada a importância do personagem na trama, poderia ter sido melhor trabalhado.

Christabel’ é um filme arte bonito, com ritmo bem devagar e uma proposta de nicho bem específico. Atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros, deve atrair o público intelectual através da com sua linguagem poética e narrativa metafórica.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Christabel’ se passa no coração do cerrado brasileiro. Seu Leonel (Julio Adrião) é um pobre trabalhador rural que mora com a filha, Christabel (Milla Fernandez), uma moça órfã cujas tarefas domésticas diárias são a única ocupação de sua vida. Depois que o noivo (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de ‘Cidade de Deus’) sai para levar o gado, a jovem se sente extremamente solitária em sua casa. Até que, certa noite, o surgimento de uma mulher misteriosa atiça a curiosidade da moça, que a leva para dentro de sua casa para cuidar dela. Só que a presença da enigmática Geraldine (Lorena Castanheira) irá abalar as relações pré-estabelecidas entre pai e filha.

Em se tratando de uma adaptação literária de um poema (longuíssimo, por sinal), o filme de uma hora e quarenta de duração encontra boas soluções para conseguir ao mesmo tempo contar a narrativa e adaptá-la para o formato cinematográfico. Alex Levy-Heller faz um bom espelhamento do romantismo inglês meio gótico do século XVIII para uma realidade brasileira atual. Se o espectador não sabe a fonte de inspiração, nem irá desconfiar da sua origem. A principal alternativa encontrada aparece na figura de uma espécie de trovador no meio do caminho, que, com sua sanfona, canta os versos adaptados para a língua e a realidade brasileira, enquanto conversa com Seu Leonel sobre a origem de Geraldine.

A produção faz bom uso da locação no cerrado, de modo a dar espaço para a bela fotografia orquestrada por Vinicius Berger. Não só as paisagens são de tirar o fôlego, gravadas nas primeiras horas da manhã, mas também o enquadramento das cenas, que busca sempre colocar a câmera em lugares inusitados, fazendo o espectador espiar o que acontece dentro da casa da família. A direção de fotografia conta uma linha narrativa só dela, optando por mostrar quando acha por bem, ou simplesmente insinuar, deixar a imaginação do espectador correr solta, trazendo novas formas de se dizer as coisas sem necessariamente mostrá-las.

A história é carregada pelo dueto Milla Fernandez e Lorena Castanheira, que trabalha bem o jogo de sedução vampiresca X tentação sem ser vulgar ou caricato. Julio Adrião, porém, passa a sensação de muitas vezes errar a entrada das suas falas, demonstrando certa insegurança no papel. Dada a importância do personagem na trama, poderia ter sido melhor trabalhado.

Christabel’ é um filme arte bonito, com ritmo bem devagar e uma proposta de nicho bem específico. Atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros, deve atrair o público intelectual através da com sua linguagem poética e narrativa metafórica.

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