Às vezes a gente se surpreende com a capacidade da ficção de imitar a realidade com tanta exatidão. Quem poderia imaginar a quantidade de filmes e séries em que uma pandemia ocorre e dizima a população mundial que iriam estrear justamente num momento em que uma pandemia acomete a gente na vida real? É nessa pegada que a série ‘Cidade dos Mortos’ chega na Netflix e, imediatamente, alcança sucesso entre os assinantes.
Na trama, acompanhamos a chegada repentina de um vírus mortal que é transmitido pelo ar cujos sintomas se assemelham ao da gripe (parece familiar?), que começa a contagiar a população de Moscou de repente. Sem saber muito o que fazer, Sergey (Kirill Käro) decide ir até a casa de sua ex-mulher, Irina (Maryana Spivak) para buscar seu filho, Anton, ao mesmo tempo em que seu pai, Boris (Yuriy Kuznetsov), chega em sua casa e fala à atual esposa do filho, Anna (Viktoriya Isakova), e o filho autista dela, Misha (Eldar Kalimulin), que arrumem suas coisas para fugirem da cidade em direção a um abrigo que ele conhece no meio de um lago congelado. No caminho, juntam-se a eles seus vizinhos, Lyonya (Aleksandr Robak), um homem machista bem babacão; sua noiva, Marina (Natalya Zemtsova), uma ex-stripper que está grávida; e a filha dele, Polina (Viktoriya Agalakova). Juntos, todos vão tentar escapar desse vírus misterioso que transforma as pessoas em zumbis.
Em oito episódios de cerca de cinquenta minutos de duração cada, o roteiro de Yana Vagner e Roman Kantor é bastante linear, focando muito mais nas relações interpessoais entre os personagens – e a improbabilidade de pessoas tão diferentes acabarem juntas por força maior da vida. Isso significa que, apesar do argumento, na real a série apresenta bem pouco zumbis e muito mais drama, o que pode acabar frustrando os fãs do gênero que peguem ‘Cidade dos Mortos’ para assistir. Ainda assim, é justamente essas relações entre os personagens que prende o espectador e faz a gente continuar assistindo.
Nos três primeiros episódios o espectador é convidado a observar como as relações entre os personagens são construídas e destruídas diante da ameaça da pandemia e do instinto de sobrevivência, que força as pessoas a tomarem atitudes insensatas; no quarto capítulo, novos personagens são inseridos na trama, e a perspectiva dos protagonistas é ampliada diante da proporção da ameaça; a partir daí, o enredo ganha um pouco mais de dinamismo, ainda que repita bastaaante a fórmula migratória de ‘The Walking Dead’; terminando, por fim, com um gancho maneiro para uma possível segunda temporada.
A direção de Pavel Kostomarov é bastante homogênea e previsível, sem oferecer grandes ousadias na forma com que contou a história de ‘Cidade dos Mortos’. Ainda que aqui e ali a câmera se esconda em um ângulo mais intimista e que nos primeiros episódios essa mesma câmera tenha sido colocado muitas vezes em segunda pessoas (o que dá uma boa enjoada), essa série russa é constante e prende o espectador pela mesma razão que a série estadunidense o faz: a gente fica esperando os personagens fazerem serumanices e botarem tudo a perder.
‘Cidade dos Mortos’ é uma série interessante, que promete mais do que cumpre e que, acima de tudo, se assemelha tanto com nossa realidade, que assusta e vicia. Não à toa, está entre as mais vistas da Netflix.