sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Close – Indicado ao Oscar, filme chega na Netflix e aborda a confusão dos sentimentos na adolescência

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Existe uma fase da vida em que tudo é exagerado, exacerbado e exasperado. As pequenas  descobertas tornam-se grandes espetáculos e as decepções são punhaladas latentes no peito. 

Posto em evidências os extremos das emoções da adolescência (ou pré-adolescência, nesta caso), Close, do belga Lukas Dhont, é meticuloso nesta explosão de sentimentos.  Se a dor já é forte quando recebemos um não ainda na primeira infância, a ponto de um berreiro colérico. Poucos anos depois, ainda não sabemos lidar com todos esses hormônios e catarse, os adolescentes também têm ações rápidas de indignação.



O filme estreou na Netflix e já está entre os mais vistos do catálogo.

A partir da amizade de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos por volta dos 13 anos, os roteiristas Lukas Dhont e Angelo Tijssens questionam a adaptação dos jovens saídos do seio familiar à sociedade por meio dos colegas da escola. Em seu primeiro longa, Girl – O Florescer de Uma Garota (2018), o diretor/roteirista já nos colocava em confronto com as vivências de uma jovem bailarina transgênero, desta vez ele nos tenciona aos sentimentos entre dois jovens amigos. 

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Se de um lado, é possível sentir um certo redemoinho de sensações entre o sensível e filho único Rémi e o sociável Léo, filho mais novo de fazendeiros do sul da França. Por outro lado, é palpável um desencontro na evolução de sentimentos homoafetivos entre os garotos. A posição familiar dos dois meninos é importante para entender a solidão de Rémi em contraposição a incompreensão de Léo. 

Em um belo cenário provincial, os dois amigos brincam de batalhas imaginárias, fazem e recebem cócegas, se abraçam, dormem juntos um na casa do outro, como se Léo fosse o irmão não concebido pelos pais de Rémi. Com uma criança apegada ao seu objeto de consolo, Rémi é 100% dedicado ao amigo, mas o começo das aulas faz Léo afastar-se. 

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O motivo do afastamento é claro no roteiro: os colegas começam a questionar se os dois garotos são um casal. Léo nega veementemente: “somos amigos”; enquanto Rémi não se abala com as insinuações e continua inocente em seus carinhos, abraços e deseja recosta-se na barriga do amigo em público. Por outro lado, o gesto — agora — incomoda Léo. 

O que mudou entre os amigos? O discurso. Se ações entre eles não tinham nome, os colegas começaram a classificar os atos e, assim, inicia-se a confusão de sentimentos e, possivelmente, a reflexão sobre as primeiras descobertas sexuais levantadas pelo autor. A partir de uma nomenclatura de emoções ainda em estado gestacional, os dois pré-adolescentes têm reações completamente diferentes. 

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Embora o grande tema do filme seja a confusão dos sentimentos, não são apenas esses — a homoafetividade e a amizade — discutidos em Close. A partir da metade da narrativa, outros elementos entram em cena por conta dos choques de emoções e ações exacerbadas das vivências desse período da vida. 

Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2022, Close mergulha em uma lenta abordagem sobre negação, raiva, culpa, revolta e, por fim, aceitação e cura. Visto majoritariamente pelo ponto de vista dos jovens, a participação dos pais parece alienada dos assombros do cotidiano dos seus filhos. Assim, o diretor apresenta a ideia que cada indivíduo vive a sua trajetória de forma única, isto é, os pais não imaginam o que passa na mente e coração dos seus herdeiros. 

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Com uma intensidade perfurante, Lukas Dhont nos propõe olhar um cenário de tragédia desenvolvido pelo ardor dos nossos sentimentos e pela falta de aceitação social de comportamentos “desviantes”. Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2023, Close possui uma temática importante e profunda, tecendo uma delicada malha de confiança e aceitação do início da adolescência.  

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Posto em evidências os extremos das emoções da adolescência (ou pré-adolescência, nesta caso), Close, do belga Lukas Dhont, é meticuloso nesta explosão de sentimentos.  Se a dor já é forte quando recebemos um não ainda na primeira infância, a ponto de um berreiro colérico. Poucos anos depois, ainda não sabemos lidar com todos esses hormônios e catarse, os adolescentes também têm ações rápidas de indignação.

O filme estreou na Netflix e já está entre os mais vistos do catálogo.

A partir da amizade de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos por volta dos 13 anos, os roteiristas Lukas Dhont e Angelo Tijssens questionam a adaptação dos jovens saídos do seio familiar à sociedade por meio dos colegas da escola. Em seu primeiro longa, Girl – O Florescer de Uma Garota (2018), o diretor/roteirista já nos colocava em confronto com as vivências de uma jovem bailarina transgênero, desta vez ele nos tenciona aos sentimentos entre dois jovens amigos. 

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Se de um lado, é possível sentir um certo redemoinho de sensações entre o sensível e filho único Rémi e o sociável Léo, filho mais novo de fazendeiros do sul da França. Por outro lado, é palpável um desencontro na evolução de sentimentos homoafetivos entre os garotos. A posição familiar dos dois meninos é importante para entender a solidão de Rémi em contraposição a incompreensão de Léo. 

Em um belo cenário provincial, os dois amigos brincam de batalhas imaginárias, fazem e recebem cócegas, se abraçam, dormem juntos um na casa do outro, como se Léo fosse o irmão não concebido pelos pais de Rémi. Com uma criança apegada ao seu objeto de consolo, Rémi é 100% dedicado ao amigo, mas o começo das aulas faz Léo afastar-se. 

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O motivo do afastamento é claro no roteiro: os colegas começam a questionar se os dois garotos são um casal. Léo nega veementemente: “somos amigos”; enquanto Rémi não se abala com as insinuações e continua inocente em seus carinhos, abraços e deseja recosta-se na barriga do amigo em público. Por outro lado, o gesto — agora — incomoda Léo. 

O que mudou entre os amigos? O discurso. Se ações entre eles não tinham nome, os colegas começaram a classificar os atos e, assim, inicia-se a confusão de sentimentos e, possivelmente, a reflexão sobre as primeiras descobertas sexuais levantadas pelo autor. A partir de uma nomenclatura de emoções ainda em estado gestacional, os dois pré-adolescentes têm reações completamente diferentes. 

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Embora o grande tema do filme seja a confusão dos sentimentos, não são apenas esses — a homoafetividade e a amizade — discutidos em Close. A partir da metade da narrativa, outros elementos entram em cena por conta dos choques de emoções e ações exacerbadas das vivências desse período da vida. 

Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2022, Close mergulha em uma lenta abordagem sobre negação, raiva, culpa, revolta e, por fim, aceitação e cura. Visto majoritariamente pelo ponto de vista dos jovens, a participação dos pais parece alienada dos assombros do cotidiano dos seus filhos. Assim, o diretor apresenta a ideia que cada indivíduo vive a sua trajetória de forma única, isto é, os pais não imaginam o que passa na mente e coração dos seus herdeiros. 

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Com uma intensidade perfurante, Lukas Dhont nos propõe olhar um cenário de tragédia desenvolvido pelo ardor dos nossos sentimentos e pela falta de aceitação social de comportamentos “desviantes”. Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2023, Close possui uma temática importante e profunda, tecendo uma delicada malha de confiança e aceitação do início da adolescência.  

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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