domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Collateral – Carey Mulligan em minissérie sobre crime racial da Netflix

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Dedo na ferida da intolerância

É inegável. Atualmente as produções audiovisuais criadas para exibição nas telinhas tem muito cacife e não precisam sequer mais exigir respeito. Pois já o têm. Pensa só, não existe basicamente nenhum grande artista do meio – seja diretor, atores ou roteiristas – que já não tenha migrado para esta outra mídia e conseguido emplacar algum sucesso. E a coisa pode até ter começado nas TVs a cabo, mas se consolidou mesmo com as plataformas de streaming, encabeçadas pelo colosso Netflix. Esse é o futuro, e em breve mídias assim surgirão aos montes – este é apenas o prenúncio – e se juntarão à corrida por audiência da Amazon, Hulu e outras.

A lista de séries, filmes e minisséries é imensa e só aumenta. E só estou me referindo às que se destacam. Neste quesito, acaba de se juntar ao pacote a nova minissérie Collateral, que é uma produção em conjunto da BBC britânica e da Netflix. À frente do projeto está a jovem atriz inglesa Carey Mulligan, a talentosa indicada ao Oscar por Educação (2009), e de filmes como Shame (2011), Drive (2011) e o recente Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi (2017). Com quatro episódios de 1 hora de duração (o que pode ser visto como um longo filme de 4 horas), esta minissérie britânica desenvolve uma investigação policial no estilo mais “raiz” da palavra. Pense, por exemplo, em The Night Of (2016), da HBO.



Na trama, Mulligan interpreta a detetive da polícia inglesa Kip Glaspie, ex-esportista profissional. A melhor forma para descrever a personagem seria compará-la a Marge Gunderson, a policial grávida, doce, de aparência ingênua, porém, esperta como uma raposa, interpretada por Frances McDormand no papel que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em Fargo (1996). Tais traços físicos e de personalidade se encaixam perfeitamente na personagem de Mulligan também. A diferença está na localidade (sai a gélida Fargo nos EUA, e entra a igualmente fria, mas sem neve, Londres) e o tipo de crime investigado.

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Desta forma, Glaspie levanta da cama confortável ao lado do marido após atender a uma ligação e aceitar um caso de assassinato. A vítima: um simples entregador de pizza. O motivo mais provável: crime de intolerância racial – já que o rapaz era sírio. Ao lado do parceiro, papel de Nathaniel Martello-White, a protagonista junta as peças e vai descortinando praticamente uma conspiração por trás do que parecia ser um crime comum, possivelmente associado a roubo ou preconceito racial.

Neste meio tempo, somam-se à narrativa subtramas envolvendo uma militar passando pelo maior trauma de sua carreira, papel da bela Jeany Spark; uma clériga lésbica (Nicola Walker) e sua companheira vietnamita ilegal no país (Kae Alexander) – que presencia o assassinato – a drogada ex-mulher de um político (Billie Piper); a gerente da pizzaria na qual a vítima trabalhava (Harley Squires); e a família do sujeito, suas duas irmãs (Ahd – sim, este é o nome da atriz que interpreta Fatima, a mais falante da dupla, A-H-D, e July Namir).

O interessante do roteiro de Collateral, todo confeccionado por David Hare (de As Horas e O Leitor), é que vai aos poucos descascando as camadas do que imaginávamos caminhar por um lado, para mostrar agendas pessoais, num amontoado de acasos, que de forma alguma esquecem de sua crítica inicial à intolerância, denunciando a política atual dos imigrantes na Europa, em especial na Inglaterra, e nos EUA.

Esse paralelo é bem traçado no roteiro de Hare, que equilibra a investigação com os discursos e postura do personagem David Mars (John Simms), o tal deputado que se pronuncia abertamente contra a exclusão de imigrantes no país. Seus diálogos inflamados sobre a postura de segregação sem dúvida reflete muito do pensamento do autor, que nem precisou colocar tais diálogos na boca de sua protagonista, embora saibamos exatamente o que a policial pensa sobre o assunto, num debate com o corrupto agente do MI-5 – o qual vocifera o pensamento de governantes radicais.

Além deste forte paralelo com o momento atual do mundo, o que faz de Collateral uma obra urgente e de relevância extrema, a minissérie é confeccionada com esmero, prestando atenção em detalhes e dando ênfase a um trabalho de qualidade. Agora, imagine Mindhunter, série produzida por David Fincher, na qual a investigação policial é levada a sério em seus mínimos detalhes. Collateral chega neste rastro, então esqueça se seu objetivo é um suspense acelerado, cheio de adrenalina, cortes rápidos e montagem frenética.

Collateral leva seu tempo, vivencia uma verdadeira investigação policial, apostando no real trabalho de tais profissionais, como interrogatórios e muita conversa e análise com os envolvidos, ou seja, nada de tiroteios, perseguições de carro, ou qualquer elemento batido do gênero. O que nem de perto deixa a minissérie chata ou arrastada, muito pelo contrário, o trabalho da diretora S.J. Clarkson (Orange is the New Black e Os Defensores), que comandou todos os episódios, é tão dinâmico e criativo – encenando inclusive um longo plano sequência chamativo assim que os detetives chegam à cena do crime – que nossa única opção é embarcar nessa viagem pelo lado sombrio de Londres em companhia destes personagens.

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A lista de séries, filmes e minisséries é imensa e só aumenta. E só estou me referindo às que se destacam. Neste quesito, acaba de se juntar ao pacote a nova minissérie Collateral, que é uma produção em conjunto da BBC britânica e da Netflix. À frente do projeto está a jovem atriz inglesa Carey Mulligan, a talentosa indicada ao Oscar por Educação (2009), e de filmes como Shame (2011), Drive (2011) e o recente Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi (2017). Com quatro episódios de 1 hora de duração (o que pode ser visto como um longo filme de 4 horas), esta minissérie britânica desenvolve uma investigação policial no estilo mais “raiz” da palavra. Pense, por exemplo, em The Night Of (2016), da HBO.

Na trama, Mulligan interpreta a detetive da polícia inglesa Kip Glaspie, ex-esportista profissional. A melhor forma para descrever a personagem seria compará-la a Marge Gunderson, a policial grávida, doce, de aparência ingênua, porém, esperta como uma raposa, interpretada por Frances McDormand no papel que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em Fargo (1996). Tais traços físicos e de personalidade se encaixam perfeitamente na personagem de Mulligan também. A diferença está na localidade (sai a gélida Fargo nos EUA, e entra a igualmente fria, mas sem neve, Londres) e o tipo de crime investigado.

Desta forma, Glaspie levanta da cama confortável ao lado do marido após atender a uma ligação e aceitar um caso de assassinato. A vítima: um simples entregador de pizza. O motivo mais provável: crime de intolerância racial – já que o rapaz era sírio. Ao lado do parceiro, papel de Nathaniel Martello-White, a protagonista junta as peças e vai descortinando praticamente uma conspiração por trás do que parecia ser um crime comum, possivelmente associado a roubo ou preconceito racial.

Neste meio tempo, somam-se à narrativa subtramas envolvendo uma militar passando pelo maior trauma de sua carreira, papel da bela Jeany Spark; uma clériga lésbica (Nicola Walker) e sua companheira vietnamita ilegal no país (Kae Alexander) – que presencia o assassinato – a drogada ex-mulher de um político (Billie Piper); a gerente da pizzaria na qual a vítima trabalhava (Harley Squires); e a família do sujeito, suas duas irmãs (Ahd – sim, este é o nome da atriz que interpreta Fatima, a mais falante da dupla, A-H-D, e July Namir).

O interessante do roteiro de Collateral, todo confeccionado por David Hare (de As Horas e O Leitor), é que vai aos poucos descascando as camadas do que imaginávamos caminhar por um lado, para mostrar agendas pessoais, num amontoado de acasos, que de forma alguma esquecem de sua crítica inicial à intolerância, denunciando a política atual dos imigrantes na Europa, em especial na Inglaterra, e nos EUA.

Esse paralelo é bem traçado no roteiro de Hare, que equilibra a investigação com os discursos e postura do personagem David Mars (John Simms), o tal deputado que se pronuncia abertamente contra a exclusão de imigrantes no país. Seus diálogos inflamados sobre a postura de segregação sem dúvida reflete muito do pensamento do autor, que nem precisou colocar tais diálogos na boca de sua protagonista, embora saibamos exatamente o que a policial pensa sobre o assunto, num debate com o corrupto agente do MI-5 – o qual vocifera o pensamento de governantes radicais.

Além deste forte paralelo com o momento atual do mundo, o que faz de Collateral uma obra urgente e de relevância extrema, a minissérie é confeccionada com esmero, prestando atenção em detalhes e dando ênfase a um trabalho de qualidade. Agora, imagine Mindhunter, série produzida por David Fincher, na qual a investigação policial é levada a sério em seus mínimos detalhes. Collateral chega neste rastro, então esqueça se seu objetivo é um suspense acelerado, cheio de adrenalina, cortes rápidos e montagem frenética.

Collateral leva seu tempo, vivencia uma verdadeira investigação policial, apostando no real trabalho de tais profissionais, como interrogatórios e muita conversa e análise com os envolvidos, ou seja, nada de tiroteios, perseguições de carro, ou qualquer elemento batido do gênero. O que nem de perto deixa a minissérie chata ou arrastada, muito pelo contrário, o trabalho da diretora S.J. Clarkson (Orange is the New Black e Os Defensores), que comandou todos os episódios, é tão dinâmico e criativo – encenando inclusive um longo plano sequência chamativo assim que os detetives chegam à cena do crime – que nossa única opção é embarcar nessa viagem pelo lado sombrio de Londres em companhia destes personagens.

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