domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica com spoilers | ‘Aquaman 2: O Reino Perdido’ encerra o DCEU de forma agridoce

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Já está nos cinemas a nova – e última aventura – de Jason Momoa como o rei de Atlântida. Aquaman 2: O Reino Perdido marca a despedida do Universo Estendido DC, no ano que seriam comemorados seus dez anos de existência. Sabendo disso, parte do público já torceu o nariz para o filme, porque esses últimos anos venderam aos fãs esse conceito de que longas só prestam se servirem ao ‘propósito maior’ do universo cinematográfico compartilhado. Quem não deu a mínima para isso foi o diretor James Wan, que aproveitou a chance para contar sua história do jeitinho que quis. Não que isso garanta a qualidade de um filme, mas é sempre bom ver diretores exercendo sua liberdade criativa nas telonas.



Ao longo de pouco mais de duas horas, o público pode acompanhar tudo aquilo que fez sucesso no longa anterior ser trabalhado no mesmo esquema, quase como uma receita de bolo. Jason Momoa exalando carisma? Confere. Diálogos canalhas, cafonas e engraçados? Confere. Vasta vida marinha interagindo com os heróis? Confere. Uma viagem inesperada ao deserto? Confere. Uma floresta escondida no meio do nada com fauna e flora pronta para matar os visitantes? Confere.

Wan fez quase um reboot do primeiro longa, mas sem conseguir imprimir o mesmo ritmo, que foi um dos principais responsáveis por Aquaman (2018) conquistar público e crítica. Na aventura original, o diretor e roteirista se apoiou no universo de Júlio Verne para criar um mundo mágico fascinante. Tudo era trabalhado na bioluminescência e no conceito de explorado o desconhecido. Na sequência, porém, o visual perde um pouco do encanto, porque tudo passa aquela sensação de ‘já vi isso antes’. Isso parece refletir um pouco do momento que vivem as produções com super-heróis, e o diretor faz questão de abraçar isso para fazer um filme que aceita ser brega e não faz muito esforço para tentar surpreender uma audiência que aparentemente já viu de tudo.

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Essa repetição já era esperada, porque os vilões do filme são exatamente os mesmos do primeiro filme. O Arraia Negra e o Orm, que tem seu arco de redenção, apesar de ser vilanizado brevemente na reta final, retornam. O primeiro não tem o menor desenvolvimento, permanecendo exatamente o mesmo, enquanto o segundo tem sua redenção trabalhada de forma natural e divertida.

Patrick Wilson, inclusive, se destaca por realmente trabalhar uma atuação, principalmente quando posto ao lado do Momoa, que é praticamente ele mesmo fazendo suas ‘Momoísses’ por duas horas. O cara é carismático, divertido e parece reunir todos os estereótipos possíveis de um chefe de torcida organizada. E isso é excelente, porque James Wan adora o Jason e explora isso bastante. Teve um momento completamente aleatório que foi um Jason Momoa in a Nutshell”. Ele está mostrando o mundo para seu bebê em uma sequência dele bebendo cerveja, comendo hambúrguer e dando cavalo de pau na moto. É divertido demais. Wilson, por outro lado, transiciona do irmão ressentido para o irmão compreensivo, mostrando raiva, desconfiança e arrependimento muito bem.

A diferença e grande coração dessa sequência é o núcleo familiar do Aquaman. O herói virou pai de um bebê fofíssimo que dá a ele novas prioridades na vida. Por alguns momentos, Arthur ensaia mudar seu estilo de vida, usando o pequeno Arthur Jr. como desculpa para fugir das politicagens do mundo submarino. E é muito divertido ver como o bonachão dos oceanos começa a abrir mão de certas ações para se dedicar a criar o príncipe marinho. Wan conseguiu sintetizar bem a ideia do ‘pai solteiro’, fazendo uma montagem bastante divertida. E como os rumores indicavam que o bebê seria brutalmente assassinado na trama, ele te conquista muito rápido e te deixa apreensivo a cada momento, porque o pobre do Arthur Jr. é muito carismático também.

Feliz ou infelizmente, os rumores de que o filme seria o fim da família Curry não se concretizaram. Não morre ninguém, apesar do pai ficar gravemente ferido. Inicialmente, essa decisão poderia significar uma ação covarde da direção. Mas parando pra pensar, não faria sentido pesar tanto o clima para encerrar um ciclo que não terá mais desenvolvimento depois. Não há dúvidas de que se fosse haver um Aquaman 3, Wan teria matado o pai e o bebê, explorando os impactos do luto na próxima aventura. Mas aqui? Pra que concluir a jornada do herói mais carismático do DCEU com mortes e perdas? Pode desagradar a alguns, mas entendo como opção do diretor de dar um final feliz para um personagem querido.

Voltando a falar da vilania, o novo núcleo do Arraia Negra é divertido e sintetiza bem a visão de James Wan para o projeto. Yahya Abdul-Mateen II é um excelente ator e tem muita presença de tela. Porém, ele não ganha muito para trabalhar em cima. Seu vilão quer vingança e isso é tudo que basta. Desta vez, ele ganha uma dose extra de poder com o Tridente Negro, que é possuído por um rei morto e amaldiçoado que busca liberdade de seu cárcere sobrenatural. Tanto como humano quanto como criatura possuída, Yahya tem interpretação bastante regular, cumprindo seu papel de cara mau cheio de ódio.

Junto a ele, Randall Park segue divertidíssimo em mais uma participação como coadjuvante em filme de herói. Aqui ele faz um cientista relutante que foi iludido pela possibilidade de conhecer mundos inexplorados e acabou contribuindo para um plano de dominação mundial. Cada aparição dele é comédia purinha, suavizando um pouco das maiores atrocidades cometidas pelo Arraia. Ah, ele consegue ter mais destaque do que a Amber Heard, que teve sua participação como Mera extremamente reduzida, em meio as polêmicas do julgamento. Veja bem, ela aparece até que bastante tempo, mas só abre a boca para falar alguma coisa em umas cinco oportunidades. Sério, juntando todas as aparições, a Mera não chega a um minuto de diálogo. É como se sua figura estivesse lá, mas a personagem em si, não.

Em meio a suas breguices propositais, Aquaman 2: O Reino Perdido tem momentos de pura diversão e aventura, menos inventivas e inspiradas que no longa anterior, mas que garantem um bom entretenimento. O humor de James Wan é muito cativante e até mesmo provocativo. E nada sintetiza isso melhor do que a tão falada cena pós-créditos do longa. Depois de dez anos acompanhando um universo errante, que saiu de nada pra lugar nenhum, comandado por acionistas que só visavam o lucro imediato, nada mais significativo do que a última cena do Universo Estendido DC ser um sanduíche de barata. Foi a risada final, quase constrangida, do diretor ante a bagunça em que se meteu. No apagar das luzes, o DCEU trouxe mais um filme bobinho, divertido e que assim como o universo em questão, tinha muito mais potencial, mas se contentou com um tradicional filme Sessão da Tarde.

Aquaman 2: O Reino Perdido está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Ao longo de pouco mais de duas horas, o público pode acompanhar tudo aquilo que fez sucesso no longa anterior ser trabalhado no mesmo esquema, quase como uma receita de bolo. Jason Momoa exalando carisma? Confere. Diálogos canalhas, cafonas e engraçados? Confere. Vasta vida marinha interagindo com os heróis? Confere. Uma viagem inesperada ao deserto? Confere. Uma floresta escondida no meio do nada com fauna e flora pronta para matar os visitantes? Confere.

Wan fez quase um reboot do primeiro longa, mas sem conseguir imprimir o mesmo ritmo, que foi um dos principais responsáveis por Aquaman (2018) conquistar público e crítica. Na aventura original, o diretor e roteirista se apoiou no universo de Júlio Verne para criar um mundo mágico fascinante. Tudo era trabalhado na bioluminescência e no conceito de explorado o desconhecido. Na sequência, porém, o visual perde um pouco do encanto, porque tudo passa aquela sensação de ‘já vi isso antes’. Isso parece refletir um pouco do momento que vivem as produções com super-heróis, e o diretor faz questão de abraçar isso para fazer um filme que aceita ser brega e não faz muito esforço para tentar surpreender uma audiência que aparentemente já viu de tudo.

Essa repetição já era esperada, porque os vilões do filme são exatamente os mesmos do primeiro filme. O Arraia Negra e o Orm, que tem seu arco de redenção, apesar de ser vilanizado brevemente na reta final, retornam. O primeiro não tem o menor desenvolvimento, permanecendo exatamente o mesmo, enquanto o segundo tem sua redenção trabalhada de forma natural e divertida.

Patrick Wilson, inclusive, se destaca por realmente trabalhar uma atuação, principalmente quando posto ao lado do Momoa, que é praticamente ele mesmo fazendo suas ‘Momoísses’ por duas horas. O cara é carismático, divertido e parece reunir todos os estereótipos possíveis de um chefe de torcida organizada. E isso é excelente, porque James Wan adora o Jason e explora isso bastante. Teve um momento completamente aleatório que foi um Jason Momoa in a Nutshell”. Ele está mostrando o mundo para seu bebê em uma sequência dele bebendo cerveja, comendo hambúrguer e dando cavalo de pau na moto. É divertido demais. Wilson, por outro lado, transiciona do irmão ressentido para o irmão compreensivo, mostrando raiva, desconfiança e arrependimento muito bem.

A diferença e grande coração dessa sequência é o núcleo familiar do Aquaman. O herói virou pai de um bebê fofíssimo que dá a ele novas prioridades na vida. Por alguns momentos, Arthur ensaia mudar seu estilo de vida, usando o pequeno Arthur Jr. como desculpa para fugir das politicagens do mundo submarino. E é muito divertido ver como o bonachão dos oceanos começa a abrir mão de certas ações para se dedicar a criar o príncipe marinho. Wan conseguiu sintetizar bem a ideia do ‘pai solteiro’, fazendo uma montagem bastante divertida. E como os rumores indicavam que o bebê seria brutalmente assassinado na trama, ele te conquista muito rápido e te deixa apreensivo a cada momento, porque o pobre do Arthur Jr. é muito carismático também.

Feliz ou infelizmente, os rumores de que o filme seria o fim da família Curry não se concretizaram. Não morre ninguém, apesar do pai ficar gravemente ferido. Inicialmente, essa decisão poderia significar uma ação covarde da direção. Mas parando pra pensar, não faria sentido pesar tanto o clima para encerrar um ciclo que não terá mais desenvolvimento depois. Não há dúvidas de que se fosse haver um Aquaman 3, Wan teria matado o pai e o bebê, explorando os impactos do luto na próxima aventura. Mas aqui? Pra que concluir a jornada do herói mais carismático do DCEU com mortes e perdas? Pode desagradar a alguns, mas entendo como opção do diretor de dar um final feliz para um personagem querido.

Voltando a falar da vilania, o novo núcleo do Arraia Negra é divertido e sintetiza bem a visão de James Wan para o projeto. Yahya Abdul-Mateen II é um excelente ator e tem muita presença de tela. Porém, ele não ganha muito para trabalhar em cima. Seu vilão quer vingança e isso é tudo que basta. Desta vez, ele ganha uma dose extra de poder com o Tridente Negro, que é possuído por um rei morto e amaldiçoado que busca liberdade de seu cárcere sobrenatural. Tanto como humano quanto como criatura possuída, Yahya tem interpretação bastante regular, cumprindo seu papel de cara mau cheio de ódio.

Junto a ele, Randall Park segue divertidíssimo em mais uma participação como coadjuvante em filme de herói. Aqui ele faz um cientista relutante que foi iludido pela possibilidade de conhecer mundos inexplorados e acabou contribuindo para um plano de dominação mundial. Cada aparição dele é comédia purinha, suavizando um pouco das maiores atrocidades cometidas pelo Arraia. Ah, ele consegue ter mais destaque do que a Amber Heard, que teve sua participação como Mera extremamente reduzida, em meio as polêmicas do julgamento. Veja bem, ela aparece até que bastante tempo, mas só abre a boca para falar alguma coisa em umas cinco oportunidades. Sério, juntando todas as aparições, a Mera não chega a um minuto de diálogo. É como se sua figura estivesse lá, mas a personagem em si, não.

Em meio a suas breguices propositais, Aquaman 2: O Reino Perdido tem momentos de pura diversão e aventura, menos inventivas e inspiradas que no longa anterior, mas que garantem um bom entretenimento. O humor de James Wan é muito cativante e até mesmo provocativo. E nada sintetiza isso melhor do que a tão falada cena pós-créditos do longa. Depois de dez anos acompanhando um universo errante, que saiu de nada pra lugar nenhum, comandado por acionistas que só visavam o lucro imediato, nada mais significativo do que a última cena do Universo Estendido DC ser um sanduíche de barata. Foi a risada final, quase constrangida, do diretor ante a bagunça em que se meteu. No apagar das luzes, o DCEU trouxe mais um filme bobinho, divertido e que assim como o universo em questão, tinha muito mais potencial, mas se contentou com um tradicional filme Sessão da Tarde.

Aquaman 2: O Reino Perdido está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
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