domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Cor’, novo álbum de ANAVITÓRIA, é um ótimo jeito de começar 2021

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ANAVITÓRIA, dupla formada por Ana Caetano e Vitória Falcão, se formou em 2014, levando dois anos até fazerem sua grande estreia com o álbum homônimo em 2016 – que rendeu uma estatueta do Grammy Latino ao duo e outra indicação. Conhecidas por sua escrita bastante metafórica e por uma sonoridade que mistura passado e presente, Caetano e Falcão ascenderam a um sucesso inesperado e, no primeiro dia do ano, agraciaram seus fãs com Cor, uma pequena “oferenda” para nos lembrar do conturbado ano que finalmente chegou ao fim, servindo como o capítulo inicial de um necessário processo de cura. O quarto álbum de estúdio se afasta das concepções realistas e melancólicas outrora manifestados com força em suas músicas mais famosas para uma idealização romântica e bastante patriótica que se estende ao longo de breves catorze faixas muito bem pensadas.

Honestamente, a carreira dessas duas ótimas cantoras e compositoras sempre passou longe do radar desse crítico que vos escreve, mas resolvi me render ao que apenas posso chamar do melhor jeito para começar uma nova era. Afinal, a obra é uma mistura evocativa e emocionante de todas as incursões folk brasileiras – ou seja, a amálgama sincera das raízes sertanejas com as baladas interioranas de Minas Gerais e de São Paulo – com a sutileza momentânea de sintetizadores eletrônicos e da pungência metálica da guitarra e do baixo, pincelando uma lírica poética monumental, para dizer o mínimo. Enquanto certos versos são familiares entre si, ainda mais por falar de um romance shakespeariano que deixou suas marcas e que não pode ser apagado, é isso que fornece a coesão que amarra direitinho as tracks. Ademais, a preferência da dupla por finalizações bruscas é um dos únicos aspectos que mancha o CD.



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“Amarelo, azul e branco” é uma produção que tem muito a dizer, mas não consegue se achar. Não se enganem, a abertura do álbum é muito bem-vinda para preparar os ouvintes ao que os aguarda no restante da jornada – e até nutre de certos elementos com grupos musicais como Barbatuques, em que a percepção sensorial é transferida para potentes tambores e um autodescobrimento empoderador que clama pela liberdade e pela expressividade. Porém, a fusão de contraditoriedades toma proporções frenéticas que mereciam maior atenção (dito isso, sendo ofuscados pela química e pelas harmonias de ambas as performers).

Assista também:
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Os melhores momentos de Cor insurgem quando a dupla não se limita a construir algo simplista – como acontece com “Te amar é massa demais”. A obviedade do título é logo varrida para debaixo do tapete quando é-nos apresentada uma conflitante e apaixonante explosão de samba e bossa-nova que nos arremessa de volta para os anos 1920 do subúrbio carioca, enquanto abre espaço para inflexões à la Tom Jobim e Maria Gadú, com reflexos distantes à fase mais pé-no-chão de Elis Regina (e tais caracterizações explicam o motivo de ser um dos pontos altos da iteração). Já “Tenta acreditar” é um antro em que vulnerabilidade e teatralidade encontram um espectro em comum num circense e pessoal desabafo.

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A obra alcança sucesso imenso ao manter o frescor atual das múltiplas facetas da cultura brasileira ao mesmo tempo que presta homenagem bastante mimética aos ídolos que a influenciaram – sejam eles nacionais ou internacionais. O extraordinário interlúdio “(dia 34)” é porta de entrada para uma reverência à Rita Lee (que empresta sua voz para a faixa inicial) nos primeiros anos da década de 2000, intitulada “Ainda é tempo” – em que a profusão do new rave é reduzida ao classicismo do piano e as brechas que o instrumento cultiva para a popular guitarra da semi-balada “Eu sei quem é você”. Em “Terra”, o doo-wop e o soul ganham vida através de inferências que respaldam na icônica discografia de Rihanna, mais especificamente no icônico ‘ANTI’ (2016); “Lisboa”, canção que fecha com chave de ouro, resgata as últimas aventuras de Adriana Calcanhotto no ano passado com ‘Só’, mas não se limita apenas a imitá-la, e sim trazê-la para um escopo original e bastante narcótico.

Nada disso seria possível sem a competente produção supervisionada por ninguém menos que Caetano ao lado de Tó Brandileone – uma parceria perfeita que une dois estilos bastante semelhantes em algo que pode vir a ditar as preferências instrumentais deste ano para a música brasileira. Os detalhes acústicos, que puxam elementos do B-pop, da eletrônica e da melodia sinestésica do violão (como em “Carvoeiro” ou em “Explodir”), são os responsáveis por impedir que as tracks se rendam a uma similaridade monótona e esquecível. Aliás, o compilado de originais é uma grande memorabília atemporal que não se amordaça a um momento, e sim a vários deles que despontam em uma cronologia onírica.

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2021 começou com o pé direito – e com ninguém menos que uma dupla brasileira que ainda tem muito a nos contar e que, no final das contas, esperamos que permaneçam nesse caminho de grande sucesso. Cor é uma celebração do amor, da liberdade e de tudo aquilo que a vida nos reserva – motivo pelo qual precisamos do álbum agora mais do que nunca.

Nota por faixa:

1. Amarelo, azul e branco (feat. Rita Lee) – 3/5
2. Te amar é massa demais – 4/5
3. Tenta acreditar – 4,5/5
4. Explodir – 3,5/5
5. Cigarra – 4/5
6. Selva – 4/5
7. (dia 34) – 5/5
8. Ainda é tempo – 5/5
9. Eu sei quem é você – 4/5
10. Terra – 4,5/5
11. Abril – 4/5
12. Te Procuro – 4/5
13. Carvoeiro – 4,5/5
14. Lisboa (feat. Lenine) – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Honestamente, a carreira dessas duas ótimas cantoras e compositoras sempre passou longe do radar desse crítico que vos escreve, mas resolvi me render ao que apenas posso chamar do melhor jeito para começar uma nova era. Afinal, a obra é uma mistura evocativa e emocionante de todas as incursões folk brasileiras – ou seja, a amálgama sincera das raízes sertanejas com as baladas interioranas de Minas Gerais e de São Paulo – com a sutileza momentânea de sintetizadores eletrônicos e da pungência metálica da guitarra e do baixo, pincelando uma lírica poética monumental, para dizer o mínimo. Enquanto certos versos são familiares entre si, ainda mais por falar de um romance shakespeariano que deixou suas marcas e que não pode ser apagado, é isso que fornece a coesão que amarra direitinho as tracks. Ademais, a preferência da dupla por finalizações bruscas é um dos únicos aspectos que mancha o CD.

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“Amarelo, azul e branco” é uma produção que tem muito a dizer, mas não consegue se achar. Não se enganem, a abertura do álbum é muito bem-vinda para preparar os ouvintes ao que os aguarda no restante da jornada – e até nutre de certos elementos com grupos musicais como Barbatuques, em que a percepção sensorial é transferida para potentes tambores e um autodescobrimento empoderador que clama pela liberdade e pela expressividade. Porém, a fusão de contraditoriedades toma proporções frenéticas que mereciam maior atenção (dito isso, sendo ofuscados pela química e pelas harmonias de ambas as performers).

Os melhores momentos de Cor insurgem quando a dupla não se limita a construir algo simplista – como acontece com “Te amar é massa demais”. A obviedade do título é logo varrida para debaixo do tapete quando é-nos apresentada uma conflitante e apaixonante explosão de samba e bossa-nova que nos arremessa de volta para os anos 1920 do subúrbio carioca, enquanto abre espaço para inflexões à la Tom Jobim e Maria Gadú, com reflexos distantes à fase mais pé-no-chão de Elis Regina (e tais caracterizações explicam o motivo de ser um dos pontos altos da iteração). Já “Tenta acreditar” é um antro em que vulnerabilidade e teatralidade encontram um espectro em comum num circense e pessoal desabafo.

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A obra alcança sucesso imenso ao manter o frescor atual das múltiplas facetas da cultura brasileira ao mesmo tempo que presta homenagem bastante mimética aos ídolos que a influenciaram – sejam eles nacionais ou internacionais. O extraordinário interlúdio “(dia 34)” é porta de entrada para uma reverência à Rita Lee (que empresta sua voz para a faixa inicial) nos primeiros anos da década de 2000, intitulada “Ainda é tempo” – em que a profusão do new rave é reduzida ao classicismo do piano e as brechas que o instrumento cultiva para a popular guitarra da semi-balada “Eu sei quem é você”. Em “Terra”, o doo-wop e o soul ganham vida através de inferências que respaldam na icônica discografia de Rihanna, mais especificamente no icônico ‘ANTI’ (2016); “Lisboa”, canção que fecha com chave de ouro, resgata as últimas aventuras de Adriana Calcanhotto no ano passado com ‘Só’, mas não se limita apenas a imitá-la, e sim trazê-la para um escopo original e bastante narcótico.

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2021 começou com o pé direito – e com ninguém menos que uma dupla brasileira que ainda tem muito a nos contar e que, no final das contas, esperamos que permaneçam nesse caminho de grande sucesso. Cor é uma celebração do amor, da liberdade e de tudo aquilo que a vida nos reserva – motivo pelo qual precisamos do álbum agora mais do que nunca.

Nota por faixa:

1. Amarelo, azul e branco (feat. Rita Lee) – 3/5
2. Te amar é massa demais – 4/5
3. Tenta acreditar – 4,5/5
4. Explodir – 3,5/5
5. Cigarra – 4/5
6. Selva – 4/5
7. (dia 34) – 5/5
8. Ainda é tempo – 5/5
9. Eu sei quem é você – 4/5
10. Terra – 4,5/5
11. Abril – 4/5
12. Te Procuro – 4/5
13. Carvoeiro – 4,5/5
14. Lisboa (feat. Lenine) – 5/5

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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