sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Cowboy Bebop – Netflix lança série fiel e estilosa, mas bem inferior ao anime

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Mesmo quem não gosta das famigeradas animações japonesas tende a respeitar algumas dessas produções que se sobressaíram e viraram referência dentro da cultura pop. Neon Genesis Evangelion, Ghost in the Shell e Fullmetal Alchemist: Brotherhood são só alguns dos exemplos que conseguiram furar a tal barreira e atingir outros públicos. Obras com particularidades próprias, personagens complexos e temas amplos, que geraram debates interessantes e tornaram-se verdadeiros símbolos para a mídia em questão. Outro anime que também não fica atrás e ganha destaque por sua originalidade é o jovem clássico Cowboy Bebop, um western espacial dirigido pelo cineasta japonês Shinichiro Watanabe, recheado de muita ação e embalado pelo jazz bebop da compositora Yoko Kanno. Além da linguagem sci-fi dinâmica e dos elementos cyberpunk que circundam o universo empreendido, Cowboy Bebop é o tipo de realização elegante que encanta com facilidade.

De modo que não é de hoje o interesse dos estúdios americanos em querer transformar o desenho cult numa produção hollywoodiana e assim tornar a franquia maior e consideravelmente rentável. O mais próximo disso aconteceu, em 2009, quando Keanu Reeves foi confirmado no papel do protagonista da série, Spike, onde o próprio Shinichiro Watanabe e a roteirista Keiko Nobumoto seriam produtores associados. Infelizmente (ou não) o projeto acabou sendo engavetado e durante muito tempo ninguém mais falou a respeito.



Mas eis que em 2016 anunciaram que Cowboy Bebop ganharia uma série para TV, em formato live-action, através de uma parceria firmada entre o Tomorrow Studios, a ITV e a Marty Adelstein, permitindo que a Sunrise, responsável pelo anime original, atuasse como parte da produção executiva do novo show. A ideia finalmente avançou e o roteiro ficou a cargo de Christopher Yost (Thor: Ragnarok), com a dupla Alex Garcia Lopez (Demolidor) e Michael Katleman (Life on Mars) assumindo a direção do projeto. John Cho (Star Trek) ganhou o papel de Spike e Mustafa Shakir (Luke Cage) do seu parceiro Jet Black. Daniella Pineda fecha o trio de protagonistas dando vida a Faye Valentine.

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Também chamada de Cowboy Bebop, a produção que estreia mundialmente pela Netflix chega fazendo barulho e dividindo parte da crítica internacional, no entanto tem agradado veículos especializados na vertente. Afinal, o que essa nova série tem a acrescentar artisticamente, será que de fato funciona e é uma obra fiel ao material original, ou chutou o balde e desvirtuou a coisa toda, vide o constrangedor Death Note (2017), filme que saiu pelo mesmo serviço de streaming. Nesse sentido, os fãs podem ficar tranquilos, a série, como um todo, respeita não apenas o cerne e formato da história, como também faz questão de transpor com fidelidade a estética criada por Watanabe.

O Cowboy Bebop da Netflix exala estilo e faz um esforço tremendo para conseguir imprimir visualmente tudo que é visto no anime. O orçamento, que não é lá dos maiores, fez os realizadores trocarem todo aparato técnico por uma estética mais arrojada e alegórica, sem medo de soar falsa. Sobretudo pelo figurino exagerado e a cor vibrante do sangue salpicado nas paredes a cada tiro. Na verdade, tudo isso pode ser enxergado por outra ótica, há quem ache toda canastrice um charme. As lutas parecem esquematizadas pela coreografia ser um tanto lenta, mas o jogo de câmeras ajuda a criar um dinamismo próprio que, no fim das contas, funciona e faz com que o público embarque na brincadeira.

Narrativamente, ainda que o seriado não possua a mesma classe da animação, a pegada aventuresca, no maior estilo Lupin III, traz um ritmo particular que capenga aqui e ali, mas é suficiente para manter o foco. Falta a atmosfera bucólica e noir da animação, sobram as set pieces infindáveis e ininterruptas, longas cenas de ação que não causam muito impacto, porém surgem como elemento de condução, já que o show tem como base esses embates constantes. O formato é o mesmo visto na série animada, episódios que trazem diferentes histórias com os caçadores de recompensa e podem funcionar isoladamente – ainda que, dessa vez, a trama principal seja mais presente devido as constantes aparições do personagem Vicious, interpretado por Alex Hassell (The Boys).

E já falando sobre o elenco, este é um aspecto que se mantém ileso, pois, como já comentamos, Cowboy Bebop anda em cima de atuações caricaturais, de maneira que os interpretes não veem problemas em exagerar nas expressões e trejeitos quando são acionados. Assim como também convencem em cenas dramáticas pontuais, vide àquela que Jet Black leva um cachorrinho para a filha e acaba brigando com a sua ex-esposa. Mustafa Shakir já tinha mostrado o seu talento na ótima segunda temporada de Luke Cage, onde viveu o sensacional Bushmaster, agora, na pele de uma figura mais caricata, o ator não encontra dificuldades em trafegar entre os dois extremos. O mesmo vale para John Cho que constrói a personalidade do seu Spike Spiegel, sendo mais enérgico e sarcástico do que propriamente irônico e arrogante como o personagem original.

A série da Netflix não é a adaptação de Cowboy Bebop que todos sonhavam, entretanto é honesta suficiente por trazer uma versão fiel e respeitosa do grande trabalho de Shinichiro Watanabe. Sim, o jazz, latente no anime, continua vivo em quase todos as cenas de fugas e combates, o problema é que o artifício em si não casa tão bem aqui, soando descompassado em certos andamentos. Já do ponto de vista estético, o que parece brega e fora de tom para alguns, pode soar estiloso e acertado na visão de outros. Quem nunca viu a animação deve estranhar de início, tudo é estilizado e incomum, mesmo numa aventura estrelada por um cowboy do espaço, contudo vão logo se acostumar a essa linguagem peculiar, caso consigam, pelo menos, passar do primeiro episódio.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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De modo que não é de hoje o interesse dos estúdios americanos em querer transformar o desenho cult numa produção hollywoodiana e assim tornar a franquia maior e consideravelmente rentável. O mais próximo disso aconteceu, em 2009, quando Keanu Reeves foi confirmado no papel do protagonista da série, Spike, onde o próprio Shinichiro Watanabe e a roteirista Keiko Nobumoto seriam produtores associados. Infelizmente (ou não) o projeto acabou sendo engavetado e durante muito tempo ninguém mais falou a respeito.

Mas eis que em 2016 anunciaram que Cowboy Bebop ganharia uma série para TV, em formato live-action, através de uma parceria firmada entre o Tomorrow Studios, a ITV e a Marty Adelstein, permitindo que a Sunrise, responsável pelo anime original, atuasse como parte da produção executiva do novo show. A ideia finalmente avançou e o roteiro ficou a cargo de Christopher Yost (Thor: Ragnarok), com a dupla Alex Garcia Lopez (Demolidor) e Michael Katleman (Life on Mars) assumindo a direção do projeto. John Cho (Star Trek) ganhou o papel de Spike e Mustafa Shakir (Luke Cage) do seu parceiro Jet Black. Daniella Pineda fecha o trio de protagonistas dando vida a Faye Valentine.

Também chamada de Cowboy Bebop, a produção que estreia mundialmente pela Netflix chega fazendo barulho e dividindo parte da crítica internacional, no entanto tem agradado veículos especializados na vertente. Afinal, o que essa nova série tem a acrescentar artisticamente, será que de fato funciona e é uma obra fiel ao material original, ou chutou o balde e desvirtuou a coisa toda, vide o constrangedor Death Note (2017), filme que saiu pelo mesmo serviço de streaming. Nesse sentido, os fãs podem ficar tranquilos, a série, como um todo, respeita não apenas o cerne e formato da história, como também faz questão de transpor com fidelidade a estética criada por Watanabe.

O Cowboy Bebop da Netflix exala estilo e faz um esforço tremendo para conseguir imprimir visualmente tudo que é visto no anime. O orçamento, que não é lá dos maiores, fez os realizadores trocarem todo aparato técnico por uma estética mais arrojada e alegórica, sem medo de soar falsa. Sobretudo pelo figurino exagerado e a cor vibrante do sangue salpicado nas paredes a cada tiro. Na verdade, tudo isso pode ser enxergado por outra ótica, há quem ache toda canastrice um charme. As lutas parecem esquematizadas pela coreografia ser um tanto lenta, mas o jogo de câmeras ajuda a criar um dinamismo próprio que, no fim das contas, funciona e faz com que o público embarque na brincadeira.

Narrativamente, ainda que o seriado não possua a mesma classe da animação, a pegada aventuresca, no maior estilo Lupin III, traz um ritmo particular que capenga aqui e ali, mas é suficiente para manter o foco. Falta a atmosfera bucólica e noir da animação, sobram as set pieces infindáveis e ininterruptas, longas cenas de ação que não causam muito impacto, porém surgem como elemento de condução, já que o show tem como base esses embates constantes. O formato é o mesmo visto na série animada, episódios que trazem diferentes histórias com os caçadores de recompensa e podem funcionar isoladamente – ainda que, dessa vez, a trama principal seja mais presente devido as constantes aparições do personagem Vicious, interpretado por Alex Hassell (The Boys).

E já falando sobre o elenco, este é um aspecto que se mantém ileso, pois, como já comentamos, Cowboy Bebop anda em cima de atuações caricaturais, de maneira que os interpretes não veem problemas em exagerar nas expressões e trejeitos quando são acionados. Assim como também convencem em cenas dramáticas pontuais, vide àquela que Jet Black leva um cachorrinho para a filha e acaba brigando com a sua ex-esposa. Mustafa Shakir já tinha mostrado o seu talento na ótima segunda temporada de Luke Cage, onde viveu o sensacional Bushmaster, agora, na pele de uma figura mais caricata, o ator não encontra dificuldades em trafegar entre os dois extremos. O mesmo vale para John Cho que constrói a personalidade do seu Spike Spiegel, sendo mais enérgico e sarcástico do que propriamente irônico e arrogante como o personagem original.

A série da Netflix não é a adaptação de Cowboy Bebop que todos sonhavam, entretanto é honesta suficiente por trazer uma versão fiel e respeitosa do grande trabalho de Shinichiro Watanabe. Sim, o jazz, latente no anime, continua vivo em quase todos as cenas de fugas e combates, o problema é que o artifício em si não casa tão bem aqui, soando descompassado em certos andamentos. Já do ponto de vista estético, o que parece brega e fora de tom para alguns, pode soar estiloso e acertado na visão de outros. Quem nunca viu a animação deve estranhar de início, tudo é estilizado e incomum, mesmo numa aventura estrelada por um cowboy do espaço, contudo vão logo se acostumar a essa linguagem peculiar, caso consigam, pelo menos, passar do primeiro episódio.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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