quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Crimes Ocultos

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A Lista de Stalin

Para um filme ser bem sucedido não basta a intenção. Muitos ainda confundem, por exemplo, a importância histórica de determinado fato apresentado em uma produção, com o resultado do filme em si. Crimes Ocultos se encaixa exatamente em tal paradigma. O filme é a adaptação do aclamado livro “Criança 44”, do escritor britânico Tom Rob Smith – o primeiro de uma trilogia envolvendo o personagem Leo Demidov, continuado com “The Secret Speech” e “Agent Six”.

A trama usa como mote dois interessantes elementos reais. O primeiro, é situar a história na União Soviética de Stalin, no início da década de 1950. O segundo, envolve a caçada a um maníaco assassino de meninos, baseado em Andrei Chikatilo, que ficou conhecido pelos apelidos de Estripador de Rostov, o Açougueiro de Rostov e o Estripador Vermelho, e foi condenado e executado pelo assassinato de 52 crianças. No filme, sua identidade é alterada para Vladimir Malevich.



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Tom Hardy (em cartaz nos cinemas com Mad Max: Estrada da Fúria) vive o protagonista Leo Demidov, um agente da MGB (Ministério da Segurança de Estado). Sua função dentro da agência é encontrar traidores do regime socialista e capturá-los. Pense no Coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o caçador de judeus em Bastardos Inglórios (2009) – Crimes Ocultos guarda uma sequência muito semelhante ao início do filme de Tarantino, com os militares russos invadindo uma fazenda e capturando foragidos.

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A ditadura soviética condenava ao paredão de fuzilamento todos que fossem considerados inimigos do Estado, e este é justamente o destino de Anatoly Brodsky, personagem de Jason Clarke (Planeta dos Macacos: A Origem). Em uma nota de curiosidade, Crimes Ocultos marca a reunião de Clarke e Tom Hardy, que trabalharam juntos no eficiente Os Infratores (2012). O terror impera e o sentimento de medo é constante, inclusive para os funcionários do lado da lei. Tal medo se concretiza para o protagonista quando sua companheira, a professora Raisa (por si só uma pensadora livre), é suspeita de traição.

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Cabe ao protagonista, que esconde a relação com a moça, investigar se de fato ela faz parte de algum plano de bastidores. Raisa é interpretada pela sueca Noomi Rapace, a Lisbeth Salander original da trilogia Millenium. Em uma segunda nota de curiosidade, Rapace também se reúne com Tom Hardy aqui – a dupla havia divido a cena e primeiramente encenado um romance conturbado em A Entrega (2014), lançado recentemente direto no mercado de vídeo brasileiro. A dinâmica criada ao redor do relacionamento do casal é a melhor coisa de Crimes Ocultos.

Seu relacionamento precisa ser mantido em segredo, e quando a dúvida de traição recai sobre a mulher, o protagonista se vê com um grande peso nos ombros: privilegia o amor, mesmo correndo o risco de estar enganado, ou segue os deveres patrióticos e passa por cima dos sentimentos? Para salvar a própria pele, Raisa revela sua gravidez. A fim de proteger sua recém-formada família, Demidov enfrenta altas consequências e termina relocado para uma pequena cidade, longe de Moscou. A fragilidade do relacionamento dos personagens de Hardy e Rapace dentro do regime ditatorial daria um filme por si só, mas Crimes Ocultos ainda reserva outras subtramas.

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O ótimo ator e diretor Paddy Considine interpreta Malevich, o psicopata. Considine fica com a parte mais sem fôlego do filme, que soa deslocada de todo o resto. Talvez o principal defeito do filme de Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo) seja a falta de foco, sobre qual história deseja contar aqui. Se a resposta for todas as apresentadas, um equilíbrio maior seria a pedida. O interessante da subtrama envolvendo o Estripador é apenas o contexto em que se insere. No regime socialista de Stalin, era inaceitável a existência de um assassino serial, claramente uma criação provida de governos capitalistas (os que não têm roubam dos que têm).

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Por tanto, a conclusão de tal ato psicótico era inconcebível. O governo chegava inclusive ao ponto de acobertar tais crimes, taxando-os de acidentes – quando o filho de um amigo é morto, o motivo é reportado como um atropelamento de trem, mesmo que o menino tenha sido encontrado sem roupas. O próprio protagonista é quem leva as “evidências” da morte acidental. A construção dos personagens, suas motivações e arcos (em especial da dupla protagonista) são fortes. No entanto, Crimes Ocultos (com seus 137 minutos) parece nunca conseguir se desamarrar estruturalmente do lugar comum.

O roteiro de Richard Price (O Preço de um Resgate) em partes é o culpado por não criar cenas verdadeiramente memoráveis e diálogos gelados, que nos ponha na beirada da cadeira de tensão, além de não dar espaço para coadjuvantes de luxo como Gary Oldman, Joel Kinnaman (terceira nota de curiosidade, Kinnaman substituiu Hardy no vindouro blockbuster Esquadrão Suicida) e Vincent Cassel – todos apenas batendo ponto. O clima sem dúvidas está lá, mas Crimes Ocultos infelizmente nunca decola.

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Para um filme ser bem sucedido não basta a intenção. Muitos ainda confundem, por exemplo, a importância histórica de determinado fato apresentado em uma produção, com o resultado do filme em si. Crimes Ocultos se encaixa exatamente em tal paradigma. O filme é a adaptação do aclamado livro “Criança 44”, do escritor britânico Tom Rob Smith – o primeiro de uma trilogia envolvendo o personagem Leo Demidov, continuado com “The Secret Speech” e “Agent Six”.

A trama usa como mote dois interessantes elementos reais. O primeiro, é situar a história na União Soviética de Stalin, no início da década de 1950. O segundo, envolve a caçada a um maníaco assassino de meninos, baseado em Andrei Chikatilo, que ficou conhecido pelos apelidos de Estripador de Rostov, o Açougueiro de Rostov e o Estripador Vermelho, e foi condenado e executado pelo assassinato de 52 crianças. No filme, sua identidade é alterada para Vladimir Malevich.

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Tom Hardy (em cartaz nos cinemas com Mad Max: Estrada da Fúria) vive o protagonista Leo Demidov, um agente da MGB (Ministério da Segurança de Estado). Sua função dentro da agência é encontrar traidores do regime socialista e capturá-los. Pense no Coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o caçador de judeus em Bastardos Inglórios (2009) – Crimes Ocultos guarda uma sequência muito semelhante ao início do filme de Tarantino, com os militares russos invadindo uma fazenda e capturando foragidos.

A ditadura soviética condenava ao paredão de fuzilamento todos que fossem considerados inimigos do Estado, e este é justamente o destino de Anatoly Brodsky, personagem de Jason Clarke (Planeta dos Macacos: A Origem). Em uma nota de curiosidade, Crimes Ocultos marca a reunião de Clarke e Tom Hardy, que trabalharam juntos no eficiente Os Infratores (2012). O terror impera e o sentimento de medo é constante, inclusive para os funcionários do lado da lei. Tal medo se concretiza para o protagonista quando sua companheira, a professora Raisa (por si só uma pensadora livre), é suspeita de traição.

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Cabe ao protagonista, que esconde a relação com a moça, investigar se de fato ela faz parte de algum plano de bastidores. Raisa é interpretada pela sueca Noomi Rapace, a Lisbeth Salander original da trilogia Millenium. Em uma segunda nota de curiosidade, Rapace também se reúne com Tom Hardy aqui – a dupla havia divido a cena e primeiramente encenado um romance conturbado em A Entrega (2014), lançado recentemente direto no mercado de vídeo brasileiro. A dinâmica criada ao redor do relacionamento do casal é a melhor coisa de Crimes Ocultos.

Seu relacionamento precisa ser mantido em segredo, e quando a dúvida de traição recai sobre a mulher, o protagonista se vê com um grande peso nos ombros: privilegia o amor, mesmo correndo o risco de estar enganado, ou segue os deveres patrióticos e passa por cima dos sentimentos? Para salvar a própria pele, Raisa revela sua gravidez. A fim de proteger sua recém-formada família, Demidov enfrenta altas consequências e termina relocado para uma pequena cidade, longe de Moscou. A fragilidade do relacionamento dos personagens de Hardy e Rapace dentro do regime ditatorial daria um filme por si só, mas Crimes Ocultos ainda reserva outras subtramas.

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O ótimo ator e diretor Paddy Considine interpreta Malevich, o psicopata. Considine fica com a parte mais sem fôlego do filme, que soa deslocada de todo o resto. Talvez o principal defeito do filme de Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo) seja a falta de foco, sobre qual história deseja contar aqui. Se a resposta for todas as apresentadas, um equilíbrio maior seria a pedida. O interessante da subtrama envolvendo o Estripador é apenas o contexto em que se insere. No regime socialista de Stalin, era inaceitável a existência de um assassino serial, claramente uma criação provida de governos capitalistas (os que não têm roubam dos que têm).

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Por tanto, a conclusão de tal ato psicótico era inconcebível. O governo chegava inclusive ao ponto de acobertar tais crimes, taxando-os de acidentes – quando o filho de um amigo é morto, o motivo é reportado como um atropelamento de trem, mesmo que o menino tenha sido encontrado sem roupas. O próprio protagonista é quem leva as “evidências” da morte acidental. A construção dos personagens, suas motivações e arcos (em especial da dupla protagonista) são fortes. No entanto, Crimes Ocultos (com seus 137 minutos) parece nunca conseguir se desamarrar estruturalmente do lugar comum.

O roteiro de Richard Price (O Preço de um Resgate) em partes é o culpado por não criar cenas verdadeiramente memoráveis e diálogos gelados, que nos ponha na beirada da cadeira de tensão, além de não dar espaço para coadjuvantes de luxo como Gary Oldman, Joel Kinnaman (terceira nota de curiosidade, Kinnaman substituiu Hardy no vindouro blockbuster Esquadrão Suicida) e Vincent Cassel – todos apenas batendo ponto. O clima sem dúvidas está lá, mas Crimes Ocultos infelizmente nunca decola.

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