
O último mês do ano é marcado por celebrações em todas as religiões. E também é marcado por um período em que muitas crianças estão de férias, em casa, precisando se entreter de alguma forma. Somando as duas coisas, a Netflix vem desenvolvendo ao menos um grande filme de Natal para o fim do ano que seja voltado para o público mirim. Esse ano, a plataforma apostou em dois títulos: ‘Uma Invenção de Natal’, história inédita, e ‘Crônicas de Natal: Parte Dois’, continuação do sucesso de 2018.
Embora ainda acredite muito no Papai Noel, Kate (Darby Camp) está bastante frustrada este ano, pois sua mãe a levou para passar o fim de ano numa praia, junto com Bob (Tyrese Gibson) e o filho dele, Jack (Jahzir Bruno). Kate acha que sua mãe a está negligenciando e planeja fugir dessa viagem – ao que é atendida por Belsnickel (Julian Dennison), um terrível elfo que se tornou humano e quer se vingar de Papai Noel (Kurt Russell) e da Mamãe Noel (Goldie Hawn), roubando a estrela de Belém. Para isso, Belsnickel envia Kate e Jack para a vila do Papai Noel, para causar uma distração no bom velhinho e conseguir atingir seu objetivo.
A continuação da aventura natalina da Netflix é toda voltada para o público de até doze anos de idade, de modo que a linguagem, os desafios e, principalmente, as soluções, ingênuas e pouco explicadas, pois conta com a suspensão da descrença do espectador mirim. Até aí, tudo bem, afinal, inserir elementos que agradem seu público-alvo é fundamental para promover o sucesso de um filme, mas em ‘Crônicas de Natal: Parte Dois’ há muitos elementos descaradamente reciclados de outros sucessos concorrentes (os elfos mais parecem minions, inclusive com a mesma voz; a origem do embate entre o Papai Noel e Belsnickel, que repete o mesmo argumento apresentado em ‘Uma Invenção de Natal’), e isso contribui para que nossos olhos tenham a sensação de já ter visto o que estamos vendo.
Numa tentativa de desenvolver dois núcleos para contemplar meninos e meninas, o roteiro de Matt Lieberman e Chris Columbus se divide, e acaba não aprofundando nenhum dos dois. Jack atravessa sua jornada sozinho – sinal de que não conseguiram costurar esse personagem na trama; Kate, por sua vez, é uma garota completamente insuportável que precisa aprender uma lição, e que pode desagradar às meninas; o vilão, Belsnickel, é apenas um sujeito meio stalker, quase tão chato quanto a protagonista e com uma motivação é fraca, interpretada com a mesma falta de carisma que Julian Dennison apresentou em ‘Deadpool 2’.
O encanto em ‘Crônicas de Natal: Parte Dois’ reside, por sua vez, na direção de arte, que produziu um ambiente natalino belíssimo, de encher os olhos mesmo, e as cenas de ação e aventura, que empolgam. Os adultos terão a chance de se divertir com as piadas que ultrapassam o universo infantil, como o espanto de Jack ao ouvir que Mamãe Noel poderia colar seus dedos congelados e o Papai Noel tocando saxofone, fazendo menção aos famosos bonecos do bom velhinho tocando esse instrumento de óculos escuros, que são encontradas em quase todas as lojas de artigo natalino.

‘Crônicas de Natal: Parte Dois’ cumpre sua proposta de entreter a garotada e pode se tornar um desses filmes que as crianças adoram assistir repetidas vezes por conta das cenas de aventura e diversão. Não à toa, não saiu da lista dos mais vistos da Netflix desde a sua estreia.