Desenvolvida por Lauren Morelli (Orange Is The New Black) e baseada nos livros de Armistead Maupin, a produção Crônicas de San Francisco ganhou uma nova temporada dezoito anos após a exibição de Outras Crônicas de San Francisco. Desta vez, o público acompanha o retorno de Mary Ann Singleton (Laura Linney), agora uma mulher de meia-idade, a San Francisco, mais especificamente a 28 Barbary Lane, para o aniversário de 90 anos de Anna Madrigal (Olympia Dukakis), após passar vinte anos em outro estado.
Ao final da série de 2001, Mary Ann estava se casando com Brian Hawkins (hoje sendo interpretado pelo primeiro ator, Paul Gross), e nesta temporada, descobrimos que eles adotaram uma menina chamada Shawna (Ellen Page) e que a personagem de Linney deixou a filha para ser criada pelo pai para viver o sonho da carreira de apresentadora. Quando ela retorna, o atual casamento está em processo de divórcio e a mesma decide ficar em San Francisco para tentar, também, se reaproximar da jovem (Shawna) e entender o motivo dela não saber a verdade sobre sua adoção.
É claro que não seria Crônicas de San Francisco sem um mistério e desta vez, o caso gira entorno de Anna, que está sendo ameaçada por algo que aconteceu no seu passado. O roteiro, então, gira ao redor desta trama principal e aproveita para mostrar ao espectador como o fato de Mary Ann ter ido embora repercutiu na vida dos protagonistas: Anna, Brian, Shawna e Michael Tolliver, o Mouse (Murray Bartlett), que teve seu ator mudado pela terceira vez.
A construção da dramaturgia acerta quando se trata dos protagonistas e possui uma abordagem intrigante, chamativa, despertando a vontade no público que já conhece as temporadas anteriores de continuar assistindo. É, sem sombras de dúvidas, cativante de acompanhar. Entretanto, para aqueles que não conhecem o passado desses personagens, a produção pode causar estranheza, pois o scrip trata tudo com muita familiaridade, como se todos já tivessem visto os acontecimentos de antes.
Outro ponto que diminui a qualidade desta etapa de 2019 são os novos personagens, que não provocam simpatia alguma no telespectador e possuem histórias desinteressantes. É como se estivessem ali somente para encher linguiça. É frustrante quando a cena muda e são os novos que aparecem, afinal, o ponto mais interessante, crucial e atraente desta nova Crônicas de San Francisco são os antigos personagens e suas tramas.
É necessário tirar um momento para elogiar as atuações de Laura Linney, Olympia Dukakis, Paul Gross e Murray Bartlett que não permitem dúvidas sobre os protagonistas apresentados, a essência dos mesmos está lá, firme e forte, e o amadurecimento ocorrido aparece de forma natural. É como se o espectador adentrasse 28 Barbary Lane e todo aquele sentimento de acolhimento retornasse, graças a essas maravilhosas atuações.
Por outro lado, Ellen Page parece o mais do mesmo que já foi visto dela. Na verdade, em muitas cenas sequer parece que ela está atuando. Jake Rodriguez (Garcia), Margot Pak (May Hong), Ani Winter (Ashley Park), Jonathan Raven Winter (Christopher Larkin) e Claire Duncan (Zosia Mamet) são desinteressantes e desnecessários, com ou sem eles ali a história ainda andaria. A única surpresa positiva de personagem novo é a presença de Samuel Harland (Victor Garber) que possui momentos excelentes com Anna e Mary Ann.
No quesito técnico a série garante uma direção que está em paralelo ao roteiro, ou seja, de acordo com o que é pedido e brinca com alguns ângulos que relembram as produções anteriores. A trilha sonora é moderna, relembrando que já estamos nesta era e consegue acompanhar bem a história apresentada. A direção de arte dá um show ao trazer o público para a era dos millennials.
No geral, Crônicas de San Francisco vale muito a pena ser conferida devido a presença dos personagens que já conhecemos de outrora, é nostálgico e gostoso acompanhar mais um pouco sobre os mesmos. Só ignorar os novos para não acabar criando ranço da série.