quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Custódia – Produção francesa discute o abuso doméstico até a tragédia

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Besson vs. Besson

Em 1979, Hollywood falava abertamente de divórcio e as mazelas acarretadas, em especial aos filhos pequenos de pais separados, em suas produções cinematográficas. Dentro desta seara, o diretor Robert Benton se consagrava ao brindar o mundo com sua obra quintessencial sobre o tema, Kramer vs. Kramer, protagonizado por Dustin Hoffman e Meryl Streep, e vencedor de 5 prêmios no Oscar – incluindo uma estatueta para todos os citados acima, além de melhor filme.

Quase quatro décadas depois, num mundo mais ácido e descontrolado, e o cineasta francês Xavier Legrand resolve dar sua versão do tópico, servindo inclusive como passo além para aquela história contada no fim da década de 1970. Custódia, seu mais recente trabalho, tem muito a ver com o primo Hollywoodiano, igualmente aborda a separação de um casal e o peso que a briga pela guarda dos filhos têm nos pequenos.



A primeira cena, extremamente verborrágica, não dá descanso em seu retrato de personalidades. Pai, mãe e advogados lutam tentando viabilizar suas visões da dramática situação. Nós, o público, chegando no escuro, vamos apenas adquirindo as informações, assim como os transeuntes designados a avaliar uma ocorrência da qual não fazem ideia de qualquer veracidade.

O que chama atenção em Custódia é a transição narrativa na qual Legrand borda os atos do longa. Primeiro começamos com uma briga nos tribunais onde não conhecemos os envolvidos e na qual tomar partido se mostra uma tarefa ingrata. Aos poucos, o cineasta vai desenvolvendo perante nossos olhos as personalidades de seus jogadores: mãe, pai e filhos. Assim seguimos um pouco mais de perto, cada vez juntando mais as peças que nos farão discernir sobre certos e errados – não existe muita ambiguidade na proposta do diretor e roteirista (Legrand assume as duas funções), mas aqui o fato casa sincronicamente com a proposta.

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A intenção do jovem ator francês, que realiza com a obra seu primeiro longa como diretor, é ludibriar o público da forma que os melhores artesãos da sétima arte sempre fizeram: brincar com gêneros. Legrand vai subindo a temperatura conforme o escalar da projeção, e vai aumentando o volume da tensão. Parte da conquista se deve em especial ao trio de protagonistas e suas performances condizentes e naturalistas: o pequeno Thomas Gioria (o filho), a fragilidade encarnada por Léa Drucker (mãe) e a intensidade que só um ator do nível de Denis Ménochet (pai), mais conhecido como Perrier LaPadite da abertura de Bastardos Inglórios (2009), poderia dar.

O desfecho de Custódia é histérico e eleva o nervosismo à máxima potência. Isso só é possível pela construção criada em seu tempo, sem atropelos e de forma deliberada pelo cineasta – demonstrando mão para o domínio narrativo e controle cênico. O impacto, no entanto, passa longe de ser apenas pelo choque, e abre um leque amplo para um tema muito pertinente a ser discutido, adereçado de forma responsável por Legrand – o abuso doméstico em toda a sua forma e plenitude.

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Em 1979, Hollywood falava abertamente de divórcio e as mazelas acarretadas, em especial aos filhos pequenos de pais separados, em suas produções cinematográficas. Dentro desta seara, o diretor Robert Benton se consagrava ao brindar o mundo com sua obra quintessencial sobre o tema, Kramer vs. Kramer, protagonizado por Dustin Hoffman e Meryl Streep, e vencedor de 5 prêmios no Oscar – incluindo uma estatueta para todos os citados acima, além de melhor filme.

Quase quatro décadas depois, num mundo mais ácido e descontrolado, e o cineasta francês Xavier Legrand resolve dar sua versão do tópico, servindo inclusive como passo além para aquela história contada no fim da década de 1970. Custódia, seu mais recente trabalho, tem muito a ver com o primo Hollywoodiano, igualmente aborda a separação de um casal e o peso que a briga pela guarda dos filhos têm nos pequenos.

A primeira cena, extremamente verborrágica, não dá descanso em seu retrato de personalidades. Pai, mãe e advogados lutam tentando viabilizar suas visões da dramática situação. Nós, o público, chegando no escuro, vamos apenas adquirindo as informações, assim como os transeuntes designados a avaliar uma ocorrência da qual não fazem ideia de qualquer veracidade.

O que chama atenção em Custódia é a transição narrativa na qual Legrand borda os atos do longa. Primeiro começamos com uma briga nos tribunais onde não conhecemos os envolvidos e na qual tomar partido se mostra uma tarefa ingrata. Aos poucos, o cineasta vai desenvolvendo perante nossos olhos as personalidades de seus jogadores: mãe, pai e filhos. Assim seguimos um pouco mais de perto, cada vez juntando mais as peças que nos farão discernir sobre certos e errados – não existe muita ambiguidade na proposta do diretor e roteirista (Legrand assume as duas funções), mas aqui o fato casa sincronicamente com a proposta.

A intenção do jovem ator francês, que realiza com a obra seu primeiro longa como diretor, é ludibriar o público da forma que os melhores artesãos da sétima arte sempre fizeram: brincar com gêneros. Legrand vai subindo a temperatura conforme o escalar da projeção, e vai aumentando o volume da tensão. Parte da conquista se deve em especial ao trio de protagonistas e suas performances condizentes e naturalistas: o pequeno Thomas Gioria (o filho), a fragilidade encarnada por Léa Drucker (mãe) e a intensidade que só um ator do nível de Denis Ménochet (pai), mais conhecido como Perrier LaPadite da abertura de Bastardos Inglórios (2009), poderia dar.

O desfecho de Custódia é histérico e eleva o nervosismo à máxima potência. Isso só é possível pela construção criada em seu tempo, sem atropelos e de forma deliberada pelo cineasta – demonstrando mão para o domínio narrativo e controle cênico. O impacto, no entanto, passa longe de ser apenas pelo choque, e abre um leque amplo para um tema muito pertinente a ser discutido, adereçado de forma responsável por Legrand – o abuso doméstico em toda a sua forma e plenitude.

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