segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica de Álbum | Iggy Azalea se livra de suas amarras em ‘In My Defense’

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Cinco anos depois de lançar seu primeiro álbum de estúdio, a rapper australiana Iggy Azalea roubou nossa atenção nesta última madrugada ao lançar o aguardado In My Defense – cujo anúncio foi feito no final do ano passado e, desde então, vem nos alimentando com a promessa de um digno comeback. É claro que, conhecendo a conturbada história que a cantora teve ao longo desses últimos tempos (incluindo parcerias traiçoeiras e trocas inusitadas de produtora), grande parte do público almejava por uma obra competente que recuperasse seu estilo e sua incrível habilidade de nos envolver logo nas primeiras batidas. Felizmente, o resultado correspondeu às expectativas cultivadas com os singles promocionais e, de forma catártica, a libertou das duras amarras em que estava encarcerada.

A nova produção é compacta o suficiente para não perder sua originalidade, mas não breve o bastante para que funcione como mais um esquecível. Ao contrário, Azalea ganha vários pontos pela irreverência de suas composições, feitas ao lado do conhecido J. White Did It – um dos principais responsáveis pelo lançamento independente da artista. E, bom, para aqueles familiarizados com as inócuas canções de suas investidas anteriores, é necessário dizer que Iggy deixou de se importar com isso e pungentes lyrics já preconizadas com a tétrica faixa de abertura, “Thanks I Get”. O desabafo em coro é uma clara indireta (nem tão indireta assim) para um passado marcado por traumas: “fui eu quem mostrou a essas vad*as como causar, e esse é […] o obrigado que eu recebo?”.



De fato, é automático perceber que o novo álbum de Azalea carrega consigo uma profundidade muito maior que ‘The New Classic’; os escopos instrumentais dialogam em uma fluidez aplaudível que arranca o melhor do hip-hop e do rap e, por isso, representa uma maturidade contraditória para a discografia da lead singer. Contraditória pelo fato dela ter sofrido com altos e baixos tanto em sua vida pessoal quanto na profissional – canalizada de forma travestida em alguns sutis versos de “Commes Des Garçons”. Mas não estamos aqui para falar de uma trágica epopeia, e sim de um tour-de-force que conta, passo a passo, de que forma ela se reergueu, voltou ao topo e nos entregou uma inebriante e visceral extensão de sua personalidade.

Assista também:
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Iggy faz um ótimo uso dos elementos mais dark dos gêneros em questão, fomentando um arco musical que tangencia um patamar etéreo. Não é surpresa que também encontramos as excentricidades do drill music praticamente em todas as tracks – aparecendo com força descomunal em “Started”, segundo single cujo único defeito e não abusar mais de suas ambíguas colocações. “Eu comecei do nada e agora sou rica” é a premissa que rege esse cativante e desconstruído coming-of-age que ganha camadas de puro divertimento com o clipe oficial – e não poderia ter sido melhor construído com a magnética e proposital repetição dos sintetizadores.

A música em questão, seguindo os passos de outras como “Hoemita”, é a prova de que a cantora não abandona por completo sua ingenuidade e até mesmo seus vocais de obras predecessoras. “Black Widow”, um de seus hits mais famosos, empresta influência inegável (fora do chorus, é claro) da identidade sonora, principalmente os bridges. O místico toque, construído com soberbo minimalismo, é abraçado por “Clap Back” e, mesmo assim, insurge em uma originalidade refrescante para sua carreira. Não podemos tirar mérito, entretanto, de que Azalea opta por um recuo das conhecidas batidas do trap em prol de um ritmo marcante, ainda que ceda a uma infindável e saturada repetição.

A artista também abre espaço para resgatar influências cujo palanque tornou-se notável nos últimos anos – mantendo relações dialógicas entre o pano de fundo de “Sally Walker” e “Money”, esta última performada pela rapper Cardi B. A utilização de uma conhecida cantiga infantil é transformada em uma dançante e misteriosa trilha que explode numa exaltação bastante explícita da personagem-título. Essa arquitetura voltaria a se repetir claramente em “Spend It”, cujos cíclicos versos funcionam com um pouco mais de praticidade, visto que entra de forma dinâmica e aprazível, afastando-se de uma suposta complacência.

Entretanto, é inegável dizer que, conforme exploramos as faixas, a obra em si mergulha em uma linearidade que adquire expressiva voz: a estética minimalista já mencionada é, de fato, uma escolha nova para Iggy – mas parece se restringir em uma única zona, fechando as portas a investidas que teriam espaço de sobra dentro da proposta. Claro, é sempre bom vê-la trilha seu próprio caminho e não seguir à risca o que a indústria pede, mas os momentâneos deslizes se fixam com mais força em canções como na chocante “Just Wanna” e sua óbvia continuação “Pussy Pop”.

In My Defense é uma entrada bastante hábil e memorável para a carreira de uma das maiores rappers da atualidade. Através de doze curtas faixas, Iggy Azalea faz seleções interessantes e que se aglutinam em uma progressão coerente – além de arrancar melódicos e sarcásticos raps que, convenhamos, já faz parte de sua icônica personalidade.

Nota por faixa:

  • Thanks I Get – 4/5
  • Clap Back – 5/5
  • Sally Walker – 4,5/5
  • Hoemita (feat. Lil Yachty) – 3,5/5
  • Started – 5/5
  • Spend It – 4,5/5
  • Fuck It Up (feat. Kash Doll) – 5/5
  • Big Bag (feat. Stini) – 3,5/5
  • Comme Des Garçons – 4/5
  • Freak of the Week (feat Juicy J) – 3/5
  • Just Wanna – 3/5
  • Pussy Pop – 2/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Cinco anos depois de lançar seu primeiro álbum de estúdio, a rapper australiana Iggy Azalea roubou nossa atenção nesta última madrugada ao lançar o aguardado In My Defense – cujo anúncio foi feito no final do ano passado e, desde então, vem nos alimentando com a promessa de um digno comeback. É claro que, conhecendo a conturbada história que a cantora teve ao longo desses últimos tempos (incluindo parcerias traiçoeiras e trocas inusitadas de produtora), grande parte do público almejava por uma obra competente que recuperasse seu estilo e sua incrível habilidade de nos envolver logo nas primeiras batidas. Felizmente, o resultado correspondeu às expectativas cultivadas com os singles promocionais e, de forma catártica, a libertou das duras amarras em que estava encarcerada.

A nova produção é compacta o suficiente para não perder sua originalidade, mas não breve o bastante para que funcione como mais um esquecível. Ao contrário, Azalea ganha vários pontos pela irreverência de suas composições, feitas ao lado do conhecido J. White Did It – um dos principais responsáveis pelo lançamento independente da artista. E, bom, para aqueles familiarizados com as inócuas canções de suas investidas anteriores, é necessário dizer que Iggy deixou de se importar com isso e pungentes lyrics já preconizadas com a tétrica faixa de abertura, “Thanks I Get”. O desabafo em coro é uma clara indireta (nem tão indireta assim) para um passado marcado por traumas: “fui eu quem mostrou a essas vad*as como causar, e esse é […] o obrigado que eu recebo?”.

De fato, é automático perceber que o novo álbum de Azalea carrega consigo uma profundidade muito maior que ‘The New Classic’; os escopos instrumentais dialogam em uma fluidez aplaudível que arranca o melhor do hip-hop e do rap e, por isso, representa uma maturidade contraditória para a discografia da lead singer. Contraditória pelo fato dela ter sofrido com altos e baixos tanto em sua vida pessoal quanto na profissional – canalizada de forma travestida em alguns sutis versos de “Commes Des Garçons”. Mas não estamos aqui para falar de uma trágica epopeia, e sim de um tour-de-force que conta, passo a passo, de que forma ela se reergueu, voltou ao topo e nos entregou uma inebriante e visceral extensão de sua personalidade.

Iggy faz um ótimo uso dos elementos mais dark dos gêneros em questão, fomentando um arco musical que tangencia um patamar etéreo. Não é surpresa que também encontramos as excentricidades do drill music praticamente em todas as tracks – aparecendo com força descomunal em “Started”, segundo single cujo único defeito e não abusar mais de suas ambíguas colocações. “Eu comecei do nada e agora sou rica” é a premissa que rege esse cativante e desconstruído coming-of-age que ganha camadas de puro divertimento com o clipe oficial – e não poderia ter sido melhor construído com a magnética e proposital repetição dos sintetizadores.

A música em questão, seguindo os passos de outras como “Hoemita”, é a prova de que a cantora não abandona por completo sua ingenuidade e até mesmo seus vocais de obras predecessoras. “Black Widow”, um de seus hits mais famosos, empresta influência inegável (fora do chorus, é claro) da identidade sonora, principalmente os bridges. O místico toque, construído com soberbo minimalismo, é abraçado por “Clap Back” e, mesmo assim, insurge em uma originalidade refrescante para sua carreira. Não podemos tirar mérito, entretanto, de que Azalea opta por um recuo das conhecidas batidas do trap em prol de um ritmo marcante, ainda que ceda a uma infindável e saturada repetição.

A artista também abre espaço para resgatar influências cujo palanque tornou-se notável nos últimos anos – mantendo relações dialógicas entre o pano de fundo de “Sally Walker” e “Money”, esta última performada pela rapper Cardi B. A utilização de uma conhecida cantiga infantil é transformada em uma dançante e misteriosa trilha que explode numa exaltação bastante explícita da personagem-título. Essa arquitetura voltaria a se repetir claramente em “Spend It”, cujos cíclicos versos funcionam com um pouco mais de praticidade, visto que entra de forma dinâmica e aprazível, afastando-se de uma suposta complacência.

Entretanto, é inegável dizer que, conforme exploramos as faixas, a obra em si mergulha em uma linearidade que adquire expressiva voz: a estética minimalista já mencionada é, de fato, uma escolha nova para Iggy – mas parece se restringir em uma única zona, fechando as portas a investidas que teriam espaço de sobra dentro da proposta. Claro, é sempre bom vê-la trilha seu próprio caminho e não seguir à risca o que a indústria pede, mas os momentâneos deslizes se fixam com mais força em canções como na chocante “Just Wanna” e sua óbvia continuação “Pussy Pop”.

In My Defense é uma entrada bastante hábil e memorável para a carreira de uma das maiores rappers da atualidade. Através de doze curtas faixas, Iggy Azalea faz seleções interessantes e que se aglutinam em uma progressão coerente – além de arrancar melódicos e sarcásticos raps que, convenhamos, já faz parte de sua icônica personalidade.

Nota por faixa:

  • Thanks I Get – 4/5
  • Clap Back – 5/5
  • Sally Walker – 4,5/5
  • Hoemita (feat. Lil Yachty) – 3,5/5
  • Started – 5/5
  • Spend It – 4,5/5
  • Fuck It Up (feat. Kash Doll) – 5/5
  • Big Bag (feat. Stini) – 3,5/5
  • Comme Des Garçons – 4/5
  • Freak of the Week (feat Juicy J) – 3/5
  • Just Wanna – 3/5
  • Pussy Pop – 2/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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