domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | De Carona para o Amor – Filme francês aposta no humor incorreto

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Os tempos mudaram, mas…

A onda do politicamente correto parece ter chegado para ficar. No início tratada como vigília chata onde não se podia dizer mais nada sem ofender alguém, hoje a compreensão aumenta cada vez mais sobre a tolerância com o que é diferente. Discursos de racismo, machismo e homofobia não são mais aceitáveis, podendo causar demissões e exclusão de meios sociais. Hollywood que o diga. Sim, os tempos mudaram. E embora a maioria tenha abraçado a nova condição com o pensamento da evolução do ser humano, uma parcela ainda continua tratando tudo com repudio.

É verdade que exageros e radicalismo existem (bastante), mas ainda parte da minoria. É preciso achar um meio termo e entender o que importa e o que tem questões políticas (ou meramente lucrativas) por trás. Seja como for, os franceses seguem com seu jeito blasé, tolerantes a certos comportamentos já tratados como inaceitáveis em grande parte do mundo. Quem lembra, por exemplo, do grupo de atrizes e personalidades do país que se pronunciaram contra as denúncias de assédio em Hollywood? Segundo as francesas: “as americanas são muito conservadoras e pudicas”.



Assim, muitas obras cinematográficas saídas da França seguem apostando no teor politicamente incorreto, como é o caso com este De Carona para o Amor -escrito, dirigido e protagonizado por Franck Dubosc. Tudo bem que aqui até existe a promessa de redenção no arco do protagonista, que se redime ao se transformar numa pessoa melhor na conclusão. Mas, mesmo esta sendo a proposta, há de se convir que uma premissa na qual um solteirão convicto e mulherengo se passa por cadeirante a fim de levar para a cama a vizinha de sua falecida mãe, não desce tão redondo hoje quanto poderia no passado.

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No início, não é apenas o comportamento do protagonista Jocelyn (Dubosc), um bem sucedido empresário, que soa errático, mas o filme em si. Para corroborar a atmosfera permeada de testosterona de seu personagem, o diretor escolhe ângulos mais atrevidos para objetificar mulheres que estão na mira do sedutor – tomadas vindas de baixo e por trás enquanto elas andam e muitos decotes recheiam a tela. No entanto, a ideia sendo essa, como fazer diferente?

Por outro lado, embora à primeira vista possa parecer uma espécie de glorificação deste comportamento, a ideia tentada por Dubosc é criticá-lo, para depois modificá-lo. Se cola ou não são outros quinhentos.

Como dito, na trama, Jocelyn é um conquistador incorrigível. Ao ser confundido com um cadeirante, o sujeito resolve embarcar no equívoco a fim de seduzir a vizinha – a estonteante Julie (Caroline Anglade). A “brincadeira” começa a ir longe demais e logo o protagonista se vê preso numa teia de mentiras, que ainda envolve a irmã de sua pretendente, com quem desenvolve laços afetivos ao longo da projeção. A partir da entrada em cena de Florence, é onde a trama realmente se concentra. Cadeirante de verdade, Florence, a irmã, irá cativar e reeducar o dissimulador.

Assim como o personagem principal, vamos mudando nosso conceito do filme aos poucos; igualmente nos sentindo tão tocados pelo charme irresistível de Florence, começamos a abrir nossos horizontes para esta possível regeneração. Grande parte do crédito deve ir para Alexandra Lamy, a encantadora intérprete da personagem citada. Lamy é uma destas pessoas cujo sorriso hipnotiza, dona de um carisma maior do que metade das estrelas de Hollywood. O filme já valeria só por sua participação.

De Carona para o Amor é uma comédia de erros. Uma comédia de farsa, com teor ácido e humor controverso. É o tipo de filme que tira sarro de si mesmo, mas sem se tornar completamente ofensivo. Pense em Intocáveis (2011), com Omar Sy. Apesar de sabermos exatamente para onde essa história vai caminhar, o interesse não nos abandona ao longo da projeção. Dubosc consegue criar conexão com o espectador, mesmo com uma premissa e abertura de gosto duvidoso. A doçura fala mais alto e o cineasta consegue criar belos momentos, como o do jantar submerso, por exemplo.

De Carona para o Amor funciona e transcende a descrença inicial, percorrendo por uma tênue linha, mas conseguindo chegar a seu objetivo sem grande incômodo.

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É verdade que exageros e radicalismo existem (bastante), mas ainda parte da minoria. É preciso achar um meio termo e entender o que importa e o que tem questões políticas (ou meramente lucrativas) por trás. Seja como for, os franceses seguem com seu jeito blasé, tolerantes a certos comportamentos já tratados como inaceitáveis em grande parte do mundo. Quem lembra, por exemplo, do grupo de atrizes e personalidades do país que se pronunciaram contra as denúncias de assédio em Hollywood? Segundo as francesas: “as americanas são muito conservadoras e pudicas”.

Assim, muitas obras cinematográficas saídas da França seguem apostando no teor politicamente incorreto, como é o caso com este De Carona para o Amor -escrito, dirigido e protagonizado por Franck Dubosc. Tudo bem que aqui até existe a promessa de redenção no arco do protagonista, que se redime ao se transformar numa pessoa melhor na conclusão. Mas, mesmo esta sendo a proposta, há de se convir que uma premissa na qual um solteirão convicto e mulherengo se passa por cadeirante a fim de levar para a cama a vizinha de sua falecida mãe, não desce tão redondo hoje quanto poderia no passado.

No início, não é apenas o comportamento do protagonista Jocelyn (Dubosc), um bem sucedido empresário, que soa errático, mas o filme em si. Para corroborar a atmosfera permeada de testosterona de seu personagem, o diretor escolhe ângulos mais atrevidos para objetificar mulheres que estão na mira do sedutor – tomadas vindas de baixo e por trás enquanto elas andam e muitos decotes recheiam a tela. No entanto, a ideia sendo essa, como fazer diferente?

Por outro lado, embora à primeira vista possa parecer uma espécie de glorificação deste comportamento, a ideia tentada por Dubosc é criticá-lo, para depois modificá-lo. Se cola ou não são outros quinhentos.

Como dito, na trama, Jocelyn é um conquistador incorrigível. Ao ser confundido com um cadeirante, o sujeito resolve embarcar no equívoco a fim de seduzir a vizinha – a estonteante Julie (Caroline Anglade). A “brincadeira” começa a ir longe demais e logo o protagonista se vê preso numa teia de mentiras, que ainda envolve a irmã de sua pretendente, com quem desenvolve laços afetivos ao longo da projeção. A partir da entrada em cena de Florence, é onde a trama realmente se concentra. Cadeirante de verdade, Florence, a irmã, irá cativar e reeducar o dissimulador.

Assim como o personagem principal, vamos mudando nosso conceito do filme aos poucos; igualmente nos sentindo tão tocados pelo charme irresistível de Florence, começamos a abrir nossos horizontes para esta possível regeneração. Grande parte do crédito deve ir para Alexandra Lamy, a encantadora intérprete da personagem citada. Lamy é uma destas pessoas cujo sorriso hipnotiza, dona de um carisma maior do que metade das estrelas de Hollywood. O filme já valeria só por sua participação.

De Carona para o Amor é uma comédia de erros. Uma comédia de farsa, com teor ácido e humor controverso. É o tipo de filme que tira sarro de si mesmo, mas sem se tornar completamente ofensivo. Pense em Intocáveis (2011), com Omar Sy. Apesar de sabermos exatamente para onde essa história vai caminhar, o interesse não nos abandona ao longo da projeção. Dubosc consegue criar conexão com o espectador, mesmo com uma premissa e abertura de gosto duvidoso. A doçura fala mais alto e o cineasta consegue criar belos momentos, como o do jantar submerso, por exemplo.

De Carona para o Amor funciona e transcende a descrença inicial, percorrendo por uma tênue linha, mas conseguindo chegar a seu objetivo sem grande incômodo.

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