Os Estados Unidos tem uma característica estranha em sua cultura: achar que no momento em que o homem ou a mulher se casam e constituem família, a vida acabou. Vira e mexe esse tema volta a ser assunto de filmes e séries blockbusters produzidos em Hollywood, que falam o quanto a rotina da família é um saco e os gloriosos momentos da solteirice é que devem ser resgatados para que a pessoa possa ser ou voltar a ser feliz. É estranho, mas é uma mensagem frequentemente passada em muitos filmes, principalmente os de comédia, como o novo lançamento da Netflix ‘De Férias da Família’, que chegou esse final de semana para os assinantes.
Sonny Fisher (Kevin Hart) é um exemplar pai de família e dono de casa. Ele se envolve em tudo na vida dos filhos e da casa: leva-os para a escola, faz suas lancheiras, participa do show de calouros dos estudantes, organiza as atividades extracurriculares, enquanto sua esposa, Maya (Regina Hall) é uma bem-sucedida arquiteta que trabalha para o renomado investidor Armando (Luis Guerardo Méndez). Quando seu melhor amigo, Huck (Mark Wahlberg) telefona, chamando-o para sua festa de aniversário de 44 anos, após 3 anos sem se verem por causa da pandemia, Sonny diz que não o encontrará, pois precisa viajar com a família no feriadão. Porém, Maya decide que deve fazer essa viagem sozinha com os filhos, para se reconectar com eles, uma vez que só vive em função do trabalho, e encoraja Sonny a ir à festa de Huck. O que ninguém esperava era que os eventos do feriadão ficassem totalmente fora do controle.
Misturando um monte de comédia, referências pop e conceitos tortuosos propagados na indústria estadunidense, ‘De Férias da Família’ pega tudo isso, joga num liquidificador e sai do outro lado como uma papa colorida e insalubre. O filme é bem produzido – reúne um elenco de peso e conta ainda com a inacreditável participação do cantor Seal –, com orçamento milionário – tem cena com barcos, destruição de carro, ônibus decorado, mansão e um bocado de figurante – e bastante solar, com muitas tomadas abertas que aproveitam a iluminação do dia para dar um colorido a mais na aventura do par de amigos.
O lance é que tudo disso é enfeite num filme que reaproveita sacadas de sucessos anteriores. Todo o núcleo festivo de Sonny e Huck é um reuso do que deu certo em ‘Se Beber Não Case’ e ‘Vizinhos’, com cenas literalmente copiadas, só que com os personagens usando moletons a la ‘Round 6’. Escrito e dirigido por John Hamburg (produtor de ‘Entrando Numa Fria Maior Ainda’), o longa falha na parte do ensinamento, na volta por cima dos personagens que, supostamente, deveriam encontrar um equilíbrio em suas vidas. O roteiro acaba dando importância a elementos (como o ciúme de Sonny pelo chefe da esposa), para, no final, não resolver com profundidade a birra, o que passa a sensação de que toda a bagunça que o protagonista arruma é literalmente autorizada no fim, porque não há um conflito à altura das coisas que ele apronta. Suas inconsequências têm pouca ou nenhuma consequência, e não é bem assim na vida né.
Com excesso de cenas de cocô, pum e brincadeiras erradas com animais, fica até difícil aceitar personagens quase cinquentões se comportando como se tivessem quinze anos. ‘De Férias da Família’ tem seus momentos cômicos, mas sua história é tão rasa quanto extrato bancário no fim do mês.