sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | Depp vs Heard – TENDENCIOSA, Docussérie da Netflix Surfa na Internet Para dar seu Veredito

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Hollywood é um universo particular. A maioria das pessoas que trabalha com cinema sonha em trabalhar lá. Glamour, fama, celebridades, cachês milionários: Hollywood é uma promessa tentadora, mas que também traz seu lado sombrio, especialmente quando as coisas começam a dar errado. Então, o conto de fadas vira um pesadelo. Às vezes, até mesmo esse pesadelo ganha os tabloides e a atenção da mídia. Foi o que aconteceu com o casamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard, cujo fim catastrófico extrapolou o ambiente doméstico e foi parar nos tribunais. Surfando neste episódio que não parece esgotar nunca o interesse público, a Netflix acaba de lançar a minissérieDepp v. Heard’.

Tudo começou quando os dois se apaixonaram perdidamente no set do filme ‘Diário de um Jornalista Bêbado’. De lá pra cá, Depp, que tinha quase o dobro da idade de Amber, começou a aparecer publicamente com a sua noiva, com quem se casaria anos mais tarde. Mas parece que o casamento foi o início do fim, pois uma série de episódios violentos começou a ser frequente na vida do casal. Decididos a dar um fim ao relacionamento, os dois optam por se divorciar. A história poderia ter parado por aí, não fosse o fato de Amber ter feito uma declaração pública no jornal The Washington Post, alegando ser vítima de violência doméstica – que seria o rosto do movimento #MeToo, que ganhava força na época. Por conta disso Depp decidiu processar as ex-mulher, alegando que ela o estava caluniando publicamente, e assim começou um dos processos judiciais mais midiáticos de todos os tempos.

Ao contrário do que poderia se esperar a docussérieDepp v. Heard’ não é imparcial; na verdade a diretora Emma Cooper deixa bem evidente o quanto a coisa toda foi elaborada e consequentemente favorável a Johnny Depp. Para tal, a edição dos depoimentos (que foram transmitidos em tempo real, em 2022, quanto muita gente ainda estava em reclusão social por conta da pandemia, e, consequentemente, tinha disponibilidade para assistir o ao vivo) costura uma narrativa que demonstra o interesse do ator em processar publicamente a ex-esposa numa tentativa de limpar o próprio nome publicamente, independentemente da veracidade das alegações. Ou seja, se por um lado Amber alega ter sofrido violência física e psicológica, o julgamento não é nem sobre disputa de bens nem sobre a possível violência ocorrida: o foco é desmentir a ex-esposa publicamente, tirando a credibilidade de suas alegações, mostrando o quanto ela manipulou provas e mentiu sobre fatos. Ao fazer com que o processo fosse sobre calúnia, a equipe de advogados de Depp (encabeçada pela excelente Camille Vasquez) consegue invalidar de vez toda e qualquer acusação que Amber queira fazer, deixando em segundo plano as violências cometidas e sofridas por ambos.

O mais problemático da série não é que ela toma partido, mas sim a edição e a pesquisa realizadas na sua montagem. Emma Cooper traz como comentaristas do assunto youtubers e pessoas da internet que especularam sobre o assunto de maneira irresponsável e intensa, especialmente no TikTok, plataforma que cresceu durante a pandemia e que construiu um verdadeiro tribunal paralelo sobre o assunto. Com a desculpa de mostrar o quanto as redes sociais foram decisivas para o veredito do caso, o roteiro faz uso dessa mesma especulação irresponsável para edificar os três episódios de cinquenta minutos que tentam resumidamente contar o julgamento. A escolha desses supostos especialistas é de gosto duvidoso, uma vez que boa parte deles são apresentadores de internet que abertamente lucraram comentando o assunto, muitas das vezes escondendo a própria identidade e com aquele jeitinho irritante de gritar e exagerar nos comentários.

Especulativo, parcial é irresponsável, a minissérieDepp v. Heard’ tem como objetivos lucrar em cima do drama alheio e impedir com que o assunto morra. Mas como todo mundo adora uma fofoca dos famosos, a estreia da série logo no top 10 da Netflix é totalmente compreensível.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Tudo começou quando os dois se apaixonaram perdidamente no set do filme ‘Diário de um Jornalista Bêbado’. De lá pra cá, Depp, que tinha quase o dobro da idade de Amber, começou a aparecer publicamente com a sua noiva, com quem se casaria anos mais tarde. Mas parece que o casamento foi o início do fim, pois uma série de episódios violentos começou a ser frequente na vida do casal. Decididos a dar um fim ao relacionamento, os dois optam por se divorciar. A história poderia ter parado por aí, não fosse o fato de Amber ter feito uma declaração pública no jornal The Washington Post, alegando ser vítima de violência doméstica – que seria o rosto do movimento #MeToo, que ganhava força na época. Por conta disso Depp decidiu processar as ex-mulher, alegando que ela o estava caluniando publicamente, e assim começou um dos processos judiciais mais midiáticos de todos os tempos.

Ao contrário do que poderia se esperar a docussérieDepp v. Heard’ não é imparcial; na verdade a diretora Emma Cooper deixa bem evidente o quanto a coisa toda foi elaborada e consequentemente favorável a Johnny Depp. Para tal, a edição dos depoimentos (que foram transmitidos em tempo real, em 2022, quanto muita gente ainda estava em reclusão social por conta da pandemia, e, consequentemente, tinha disponibilidade para assistir o ao vivo) costura uma narrativa que demonstra o interesse do ator em processar publicamente a ex-esposa numa tentativa de limpar o próprio nome publicamente, independentemente da veracidade das alegações. Ou seja, se por um lado Amber alega ter sofrido violência física e psicológica, o julgamento não é nem sobre disputa de bens nem sobre a possível violência ocorrida: o foco é desmentir a ex-esposa publicamente, tirando a credibilidade de suas alegações, mostrando o quanto ela manipulou provas e mentiu sobre fatos. Ao fazer com que o processo fosse sobre calúnia, a equipe de advogados de Depp (encabeçada pela excelente Camille Vasquez) consegue invalidar de vez toda e qualquer acusação que Amber queira fazer, deixando em segundo plano as violências cometidas e sofridas por ambos.

O mais problemático da série não é que ela toma partido, mas sim a edição e a pesquisa realizadas na sua montagem. Emma Cooper traz como comentaristas do assunto youtubers e pessoas da internet que especularam sobre o assunto de maneira irresponsável e intensa, especialmente no TikTok, plataforma que cresceu durante a pandemia e que construiu um verdadeiro tribunal paralelo sobre o assunto. Com a desculpa de mostrar o quanto as redes sociais foram decisivas para o veredito do caso, o roteiro faz uso dessa mesma especulação irresponsável para edificar os três episódios de cinquenta minutos que tentam resumidamente contar o julgamento. A escolha desses supostos especialistas é de gosto duvidoso, uma vez que boa parte deles são apresentadores de internet que abertamente lucraram comentando o assunto, muitas das vezes escondendo a própria identidade e com aquele jeitinho irritante de gritar e exagerar nos comentários.

Especulativo, parcial é irresponsável, a minissérieDepp v. Heard’ tem como objetivos lucrar em cima do drama alheio e impedir com que o assunto morra. Mas como todo mundo adora uma fofoca dos famosos, a estreia da série logo no top 10 da Netflix é totalmente compreensível.

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