quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Desencantada’ é uma singela sequência que usa e abusa do talento de Amy Adams

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Há 15 anos, a Walt Disney nos convidava para uma divertida e memorável aventura intitulada ‘Encantada‘, cuja história acompanhou a Princesa Giselle (Amy Adams), uma sonhadora jovem que foi enganada por uma rainha soberba e maligna e veio parar no nosso mundo, forçada a se adaptar a uma realidade totalmente desconhecida. Agora, em pleno 2022, a Casa Mouse resolve desbloquear nossas memórias com a vindoura sequência ‘Desencantada‘, que chega amanhã, 18 de novembro, ao catálogo do Disney+.

A principal ideia do longa-metragem é explorar o que acontece depois do “felizes para sempre”, colocando uma instigante reviravolta em uma das protagonistas mais adoráveis e bondosas do panteão da companhia. Aqui, voltamos a seguir Giselle em uma busca contínua para manter vivo tudo o que conseguiu – mas percebendo que as coisas não são tão simples assim. Afinal, ela deve lidar com o fato da enteada, Morgan (Gabriella Baldacchino) ser uma adolescente, e também a chegada da jovem Sophia à família – que os força a deixar Nova York para trás e os leva para o pitoresco subúrbio de Monroeville, administrado por Malvina Monroe (Maya Rudolph). Acreditando que poderia resgatar um pedacinho de sua terra natal, Andalasia, Giselle passa por problemas que a impulsionam em um vórtice destemido e inconsequente que muda tudo o que conhece para sempre – e que envolve uma poderosa varinha mágica.



Depois de ter uma profunda discussão com Morgan, ela pede para que sua vida, de fato, se transforme em um conto de fadas. O que ela não imaginava, porém, é que o pedido se tornaria realidade e buscasse os clássicos elementos das histórias a que estamos acostumados para transformá-la na vilã. É isso mesmo: ao ter tudo o que sempre desejou, a princesa se esquece de que um conto de fadas precisa de uma antagonista vaidosa, movida pela ambição e sem qualquer empatia com outras pessoas – transformando-a, pouco a pouco, em uma cópia das icônicas vilãs do cinema (uma mistura de Lady Tremaine com Cruella de Vil). Embebida em uma maldição quase irreversível, ela tem o poder de desfazer o que quis antes do relógio soar à meia-noite, para salvar aqueles que ama e a própria Andalasia, cuja magia se esvai para eternizar o pedido de Giselle.

O filme não chega nem perto da grandiosidade nostálgica do predecessor, mas ainda serve como uma honesta investida, perfeita para aproveitar o final do ano. Adam Shankman, que retorna à cadeira de direção, deixa de lado o espetáculo visual do primeiro capítulo (como se esquecer da épica luta entre Giselle e a Rainha Má?) e aposta fichas em algo mais caseiro e íntimo, tangenciando o pitoresco e diminuindo a escala de cenários em prol de virar os holofotes ao espetacular elenco. É claro que a equipe criativa acerta em cheio na direção de arte e na explosão de cores que delineia cada um dos atos da obra (dando destaque ao conflito imagético entre o antes e o depois do desejo), mas o restante é pincelado com notas mais singelas e que podem ser um problema para os fãs mais ávidos.

Alan Menken e Stephen Schwartz também foram escalados para retornar à sequência, ficando responsáveis pela trilha sonora e, da mesma maneira que os outros aspectos artísticos, há algo de bucólico que permeia as canções originais. Adams e Rudolph fazem um trabalho espetacular e envolvente, enquanto Baldacchino nos surpreende com uma potente rendição e Idina Menzel, reprisando Nancy, tem seu merecido solo e encontra-se numa teatralidade que a arremessa de volta aos palcos da Broadway; todavia, o arranjo de instrumentos parece mais uma amálgama de incursões anteriores de Menken do que algo que respira por conta própria – um detalhe que, inclusive, se alastra para as inúmeras referências jogadas ao longo de duas horas de tela.

A primeira metade do longa funciona em sua completude, levando o tempo necessário para explorar terreno familiar e indicar quais serão os conflitos principais: as engrenagens do núcleo principal e os embates intergeracionais entre Giselle e Morgan; a presença ameaçadora de Malvina; e a necessidade derradeira que a protagonista tem de controlar tudo ao seu redor e fazer com que todos fiquem felizes. Com a chegada da segunda parte, em que somos convidados a ver como a trama irá desenrolar, percebemos um cansaço que se alastra ate os créditos finais, marcado por falhas de ritmo e um forte apego emocional ao passado. Felizmente, a química do elenco e a natureza cândida da produção são o bastante para que compremos a ideia e não consigamos desviar o olhar, nem por um momento.

Desencantada‘ pode até ter problemas significativos e não se equiparar ao primeiro filme, mas isso não tira sua beleza. O coração da obra está no lugar certo e, no final das contas, cumpre com o prometido ao discorrer acerca de temas que falam sobre o poder das memórias de entes queridos e daqueles que podemos chamar de família.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A principal ideia do longa-metragem é explorar o que acontece depois do “felizes para sempre”, colocando uma instigante reviravolta em uma das protagonistas mais adoráveis e bondosas do panteão da companhia. Aqui, voltamos a seguir Giselle em uma busca contínua para manter vivo tudo o que conseguiu – mas percebendo que as coisas não são tão simples assim. Afinal, ela deve lidar com o fato da enteada, Morgan (Gabriella Baldacchino) ser uma adolescente, e também a chegada da jovem Sophia à família – que os força a deixar Nova York para trás e os leva para o pitoresco subúrbio de Monroeville, administrado por Malvina Monroe (Maya Rudolph). Acreditando que poderia resgatar um pedacinho de sua terra natal, Andalasia, Giselle passa por problemas que a impulsionam em um vórtice destemido e inconsequente que muda tudo o que conhece para sempre – e que envolve uma poderosa varinha mágica.

Depois de ter uma profunda discussão com Morgan, ela pede para que sua vida, de fato, se transforme em um conto de fadas. O que ela não imaginava, porém, é que o pedido se tornaria realidade e buscasse os clássicos elementos das histórias a que estamos acostumados para transformá-la na vilã. É isso mesmo: ao ter tudo o que sempre desejou, a princesa se esquece de que um conto de fadas precisa de uma antagonista vaidosa, movida pela ambição e sem qualquer empatia com outras pessoas – transformando-a, pouco a pouco, em uma cópia das icônicas vilãs do cinema (uma mistura de Lady Tremaine com Cruella de Vil). Embebida em uma maldição quase irreversível, ela tem o poder de desfazer o que quis antes do relógio soar à meia-noite, para salvar aqueles que ama e a própria Andalasia, cuja magia se esvai para eternizar o pedido de Giselle.

O filme não chega nem perto da grandiosidade nostálgica do predecessor, mas ainda serve como uma honesta investida, perfeita para aproveitar o final do ano. Adam Shankman, que retorna à cadeira de direção, deixa de lado o espetáculo visual do primeiro capítulo (como se esquecer da épica luta entre Giselle e a Rainha Má?) e aposta fichas em algo mais caseiro e íntimo, tangenciando o pitoresco e diminuindo a escala de cenários em prol de virar os holofotes ao espetacular elenco. É claro que a equipe criativa acerta em cheio na direção de arte e na explosão de cores que delineia cada um dos atos da obra (dando destaque ao conflito imagético entre o antes e o depois do desejo), mas o restante é pincelado com notas mais singelas e que podem ser um problema para os fãs mais ávidos.

Alan Menken e Stephen Schwartz também foram escalados para retornar à sequência, ficando responsáveis pela trilha sonora e, da mesma maneira que os outros aspectos artísticos, há algo de bucólico que permeia as canções originais. Adams e Rudolph fazem um trabalho espetacular e envolvente, enquanto Baldacchino nos surpreende com uma potente rendição e Idina Menzel, reprisando Nancy, tem seu merecido solo e encontra-se numa teatralidade que a arremessa de volta aos palcos da Broadway; todavia, o arranjo de instrumentos parece mais uma amálgama de incursões anteriores de Menken do que algo que respira por conta própria – um detalhe que, inclusive, se alastra para as inúmeras referências jogadas ao longo de duas horas de tela.

A primeira metade do longa funciona em sua completude, levando o tempo necessário para explorar terreno familiar e indicar quais serão os conflitos principais: as engrenagens do núcleo principal e os embates intergeracionais entre Giselle e Morgan; a presença ameaçadora de Malvina; e a necessidade derradeira que a protagonista tem de controlar tudo ao seu redor e fazer com que todos fiquem felizes. Com a chegada da segunda parte, em que somos convidados a ver como a trama irá desenrolar, percebemos um cansaço que se alastra ate os créditos finais, marcado por falhas de ritmo e um forte apego emocional ao passado. Felizmente, a química do elenco e a natureza cândida da produção são o bastante para que compremos a ideia e não consigamos desviar o olhar, nem por um momento.

Desencantada‘ pode até ter problemas significativos e não se equiparar ao primeiro filme, mas isso não tira sua beleza. O coração da obra está no lugar certo e, no final das contas, cumpre com o prometido ao discorrer acerca de temas que falam sobre o poder das memórias de entes queridos e daqueles que podemos chamar de família.

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