sábado , 28 dezembro , 2024

Crítica | Desperados – Comédia da Netflix é mediana, mas Diverte…

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Estamos vivendo uma época em que é preciso repensar as representações, as representatividades e como determinados assuntos são abordados. E tudo isso se torna ainda mais sensível no gênero da comédia, que por tantos anos fez sucesso apontando o dedo pro outro e rindo das pessoas que não se encaixavam dentro de uma dita normatividade. Ainda assim, é possível fazer comédia, e de forma inteligente. Mas não é o que aconteceu em ‘Desperados’, novo filme do gênero da Netflix.



Wesley (Nasim Pedrad) não tem emprego, nem namorado, tem mil dívidas e, pra piorar, um poste cai sobre seu carro e o destrói. Ela desabafa com suas melhores amigas, Brooke (Anna Camp) e Kaylie (Sarah Burns), e tem certeza de que as coisas só vão começar a se encaminhar na sua vida quando ela achar o cara certo – e casar e ter filhos com ele. Então, ela conhece Jared (Robbie Amell), e decide ser a mulher ideal para ele porque, se for quem é, ele se afastaria. Só que uma reviravolta a faz enviar um e-mail bastante desaforado pra ele, mas, segundos depois ela se arrepende e, pra tentar consertar a besteira que fez, ela decide viajar com suas amigas até o México, para brilhantemente invadir o quarto de hotel onde Jared está hospedado, roubar seu computador e apagar o email.

O roteiro de Ellen Rapoport parte de uma premissa que já não conquista genuinamente seu público alvo – a mulher que corre atrás do carinha porque está desesperada pra casar. Como se não bastasse isso, as situações cômicas que são inseridas no filme são extremamente xenofóbicas e de mau gosto. [*SPOILER*] Exemplo disso é quando Wesley chega no hotel e deixa cair seu vibrador da bolsa, ao que um menino de uns 12 anos inocentemente pega e fica curioso com o objeto; mais tarde, Wesley sem querer acaba entrando de toalha no quarto desse garoto, só que a toalha cai e, numa tentativa de devolver a toalha para Wesley, o garoto toca nos seios dela. O nervosismo da atriz na cena gera o riso, porém, vamos inverter a coisa: se fosse uma menina de 12 anos tocando na bunda ou no pênis de um homem adulto, essa mesma cena seria engraçada? Pois é. [*FIM DO SPOILER*]

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A diretora LP se esforça em usar os planos para suavizar as piadas problemáticas, sem mostrar estes pontos pois, sem evidências, não há problema. Mas quando você tem uma história em que personagens norte-americanos vão para o México para fazer besteira, no final das contas você só está reforçando estereótipos tóxicos e xenofóbicos.

O que faz rir em ‘Desperados’ é na verdade o potencial do seu elenco, com atuações e reações genuínas e diálogos bastante naturais. O destaque vai para Lamorne Morris, bem à vontade no papel de um rapaz que meio que cai de paraquedas nessa loucura das três amigas.

Embora ‘Desperados’ tenha pontos positivos – protagonismo feminino, protagonismo negro que não recai na temática racial, mulheres fazendo comédia, etc – ele é tão profundamente errado em tantos níveis, que gera desconforto no espectador consciente. A gente ri porque os atores são bons, mas, no fundo, ficamos constrangidos com o que estamos vendo e ouvindo.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Estamos vivendo uma época em que é preciso repensar as representações, as representatividades e como determinados assuntos são abordados. E tudo isso se torna ainda mais sensível no gênero da comédia, que por tantos anos fez sucesso apontando o dedo pro outro e rindo das pessoas que não se encaixavam dentro de uma dita normatividade. Ainda assim, é possível fazer comédia, e de forma inteligente. Mas não é o que aconteceu em ‘Desperados’, novo filme do gênero da Netflix.

Wesley (Nasim Pedrad) não tem emprego, nem namorado, tem mil dívidas e, pra piorar, um poste cai sobre seu carro e o destrói. Ela desabafa com suas melhores amigas, Brooke (Anna Camp) e Kaylie (Sarah Burns), e tem certeza de que as coisas só vão começar a se encaminhar na sua vida quando ela achar o cara certo – e casar e ter filhos com ele. Então, ela conhece Jared (Robbie Amell), e decide ser a mulher ideal para ele porque, se for quem é, ele se afastaria. Só que uma reviravolta a faz enviar um e-mail bastante desaforado pra ele, mas, segundos depois ela se arrepende e, pra tentar consertar a besteira que fez, ela decide viajar com suas amigas até o México, para brilhantemente invadir o quarto de hotel onde Jared está hospedado, roubar seu computador e apagar o email.

O roteiro de Ellen Rapoport parte de uma premissa que já não conquista genuinamente seu público alvo – a mulher que corre atrás do carinha porque está desesperada pra casar. Como se não bastasse isso, as situações cômicas que são inseridas no filme são extremamente xenofóbicas e de mau gosto. [*SPOILER*] Exemplo disso é quando Wesley chega no hotel e deixa cair seu vibrador da bolsa, ao que um menino de uns 12 anos inocentemente pega e fica curioso com o objeto; mais tarde, Wesley sem querer acaba entrando de toalha no quarto desse garoto, só que a toalha cai e, numa tentativa de devolver a toalha para Wesley, o garoto toca nos seios dela. O nervosismo da atriz na cena gera o riso, porém, vamos inverter a coisa: se fosse uma menina de 12 anos tocando na bunda ou no pênis de um homem adulto, essa mesma cena seria engraçada? Pois é. [*FIM DO SPOILER*]

A diretora LP se esforça em usar os planos para suavizar as piadas problemáticas, sem mostrar estes pontos pois, sem evidências, não há problema. Mas quando você tem uma história em que personagens norte-americanos vão para o México para fazer besteira, no final das contas você só está reforçando estereótipos tóxicos e xenofóbicos.

O que faz rir em ‘Desperados’ é na verdade o potencial do seu elenco, com atuações e reações genuínas e diálogos bastante naturais. O destaque vai para Lamorne Morris, bem à vontade no papel de um rapaz que meio que cai de paraquedas nessa loucura das três amigas.

Embora ‘Desperados’ tenha pontos positivos – protagonismo feminino, protagonismo negro que não recai na temática racial, mulheres fazendo comédia, etc – ele é tão profundamente errado em tantos níveis, que gera desconforto no espectador consciente. A gente ri porque os atores são bons, mas, no fundo, ficamos constrangidos com o que estamos vendo e ouvindo.

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