quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Red: Crescer é uma Fera – Domee Shi cria uma vibrante aventura com a INCRÍVEL animação

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São poucos os estúdios de animação que consegue se manter vivos dentro de uma indústria que muda dia após dia – e a Pixar é um deles. Tendo seu início ainda em 1995 com o lançamento do atemporal ‘Toy Story’, a companhia ascendeu a uma fama e a um sucesso inesperados e inenarráveis, consagrando-se como um antro de criatividade e de histórias bastante profundas cujo maior feito é a capacidade de dialogar com os mais diversos públicos (desde as crianças, com suas investidas coloridas, cheias de vida e explodindo com mensagens motivacionais, até os adultos, com subtextos impactantes e que nos levam a refletir sobre a funcionalidade do mundo.

Pouco depois de ter lançado ‘Soul’ e ‘Luca’, duas produções bastante diferentes entre si e que tiveram problemas próprios para enfrentarem, a Pixar retomou sua parceria com a incrível Domee Shi, vencedora do Oscar pelo curta-metragem Bao, para uma de suas narrativas mais honestas. Tomando forma no título de Red: Crescer é uma Fera, Shi, aliando-se a uma equipe técnica e artística aplaudível, constrói uma jornada relacionável pelas complexidades do amadurecimento e pelos conflitos intergeracionais – algo que é costumeiro dentro desse panteão animado. A diferença é que, pela primeira vez, começamos a ter uma representatividade mais acentuada com personagens complexos e que fogem da bolha mainstream dos últimos anos (cortesia da diretora e de um elenco de dublagem que não perde a mão em qualquer que seja a cena).



A narrativa é centrada em Mei Lee (Rosalie Chiang), uma jovem de treze anos que mora com os pais na cidade de Toronto, no Canadá, e vê sua vida mudar totalmente quando passa a se transformar em um gigante panda vermelho quando passa por experiências de estresse ou de emoções muito fortes. Depois que descobre que essa “habilidade secreta” é uma herança milenar de família, ela mergulha em um arco de autorreflexão que determinará quem ela é e como ela deseja se portar de agora em diante – como a filha perfeita de Ming Lee, sua mãe superprotetora (dublada pela sempre incrível Sandra Oh), ou finalmente desfrutar de um gostinho de liberdade ao lado de um grupo de amigas inseparáveis que traz à tona um de seus lados mais rebeldes.

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Através dos extensos materiais promocionais, é compreensível que parte do público fique com um pé atrás, acreditando que a trama seja extremamente simples e que os visuais incríveis sejam uma forma de mascarar essa falta de ousadia – entretanto, não é isso o que acontece. Shi, assim como sua obra anterior, demonstra ter uma habilidade inegável em comandar, de forma certeira, cada sequência que se dispõe à sua frente: lidamos com uma menina chinesa-canadense, cuja família autoritária reitera a cultura asiática de honrar a família e sempre colocar seus parentes de sangue acima de tudo, contrapondo-se às personalidades gritantes e desinibidas de Miriam (Ava Morse), Priya (Maitreyi Ramakrishnan) e Abby (Hyein Park). Mais do que isso, há um pungente confronto do que realmente são os laços familiares e como a engessada construção social desse núcleo pode ser quebrada da maneira mais cândida possível.

Shi pode até se valer de algumas metáforas explícitas demais, mas aqui o objetivo é permitir que não apenas as crianças e adolescentes de outrora se reconectem com um passado não muito distante, como também a nova geração e os laços que criamos com os nossos pais e com as nossas amizades. Mei Lee, assim como todos que já passaram pela transição da infância à adolescência, acredita que sabe tudo e que nada pode machucá-la – motivo pelo qual quer mostrar para seus colegas seu “poder mágico”, sem pensar nas consequências. É claro que ela comete erros, mas a profundidade de sua construção permite que ela inverta papéis com a mãe e que ela perceba que mesmo uma mulher sedenta pela perfeição e pelo autocontrole pode cometer um deslize (incluindo um trauma que a assombra desde criança).

Algumas similaridades com títulos passados da Pixar são encontradas pelo enredo – sendo perceptíveis aquelas que se restringem ao intrincado relacionamento de Mei e Ming (uma tradução mais estilizada de Nemo e Marlin, de Merida e Elinor, e de Luca e Daniela). Todavia, é impossível desassociar o filme de uma originalidade imagética que nunca foi vista dentro da companhia e que celebra uma cultura que, cada vez mais, se insere no cenário hollywoodiano e norte-americano. As expressões arquitetadas para os personagens partem de uma estética que relembra os mangás e os doramas, com referências que viajam desde ‘Sakura’ a ‘Cavaleiros do Zodíaco’ a ‘Pokémon’, enquanto a transformação de Mei Lee em panda se vale do significado espiritual de paciência para os chineses (algo que a protagonista precisa encontrar, mesmo em meio a obstáculos).

Em diversas entrevistas, Shi comentou sobre o longa ser um encerramento de seus anos quando criança e dos problemas que enfrentou, bem como uma homenagem à mãe e às coisas de que gostava mais nova – a boyband 4*Town, cujas músicas foram assinadas por Billie Eilish e Finneas O’Connell, faz alusão ao sucesso dos grupos N*SYNC e Backstreet Boys, por exemplo. É essa humildade e tamanho carisma de trazer experiências íntimas às telonas e compartilhá-las com o restante do planeta que deixa a obra ainda mais convidativa e recheada de momentos sensacionais.

Red: Crescer é uma Fera não é apenas um grande acerto da Pixar, como uma das animações mais honestas e verdadeiras de seu universo. Pavimentando caminho para o início de uma nova era do estúdio, a produção celebra a vida, a família e os amigos com o coração no lugar certo – e uma paixão por aquilo que nos torna únicos.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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São poucos os estúdios de animação que consegue se manter vivos dentro de uma indústria que muda dia após dia – e a Pixar é um deles. Tendo seu início ainda em 1995 com o lançamento do atemporal ‘Toy Story’, a companhia ascendeu a uma fama e a um sucesso inesperados e inenarráveis, consagrando-se como um antro de criatividade e de histórias bastante profundas cujo maior feito é a capacidade de dialogar com os mais diversos públicos (desde as crianças, com suas investidas coloridas, cheias de vida e explodindo com mensagens motivacionais, até os adultos, com subtextos impactantes e que nos levam a refletir sobre a funcionalidade do mundo.

Pouco depois de ter lançado ‘Soul’ e ‘Luca’, duas produções bastante diferentes entre si e que tiveram problemas próprios para enfrentarem, a Pixar retomou sua parceria com a incrível Domee Shi, vencedora do Oscar pelo curta-metragem Bao, para uma de suas narrativas mais honestas. Tomando forma no título de Red: Crescer é uma Fera, Shi, aliando-se a uma equipe técnica e artística aplaudível, constrói uma jornada relacionável pelas complexidades do amadurecimento e pelos conflitos intergeracionais – algo que é costumeiro dentro desse panteão animado. A diferença é que, pela primeira vez, começamos a ter uma representatividade mais acentuada com personagens complexos e que fogem da bolha mainstream dos últimos anos (cortesia da diretora e de um elenco de dublagem que não perde a mão em qualquer que seja a cena).

A narrativa é centrada em Mei Lee (Rosalie Chiang), uma jovem de treze anos que mora com os pais na cidade de Toronto, no Canadá, e vê sua vida mudar totalmente quando passa a se transformar em um gigante panda vermelho quando passa por experiências de estresse ou de emoções muito fortes. Depois que descobre que essa “habilidade secreta” é uma herança milenar de família, ela mergulha em um arco de autorreflexão que determinará quem ela é e como ela deseja se portar de agora em diante – como a filha perfeita de Ming Lee, sua mãe superprotetora (dublada pela sempre incrível Sandra Oh), ou finalmente desfrutar de um gostinho de liberdade ao lado de um grupo de amigas inseparáveis que traz à tona um de seus lados mais rebeldes.

Através dos extensos materiais promocionais, é compreensível que parte do público fique com um pé atrás, acreditando que a trama seja extremamente simples e que os visuais incríveis sejam uma forma de mascarar essa falta de ousadia – entretanto, não é isso o que acontece. Shi, assim como sua obra anterior, demonstra ter uma habilidade inegável em comandar, de forma certeira, cada sequência que se dispõe à sua frente: lidamos com uma menina chinesa-canadense, cuja família autoritária reitera a cultura asiática de honrar a família e sempre colocar seus parentes de sangue acima de tudo, contrapondo-se às personalidades gritantes e desinibidas de Miriam (Ava Morse), Priya (Maitreyi Ramakrishnan) e Abby (Hyein Park). Mais do que isso, há um pungente confronto do que realmente são os laços familiares e como a engessada construção social desse núcleo pode ser quebrada da maneira mais cândida possível.

Shi pode até se valer de algumas metáforas explícitas demais, mas aqui o objetivo é permitir que não apenas as crianças e adolescentes de outrora se reconectem com um passado não muito distante, como também a nova geração e os laços que criamos com os nossos pais e com as nossas amizades. Mei Lee, assim como todos que já passaram pela transição da infância à adolescência, acredita que sabe tudo e que nada pode machucá-la – motivo pelo qual quer mostrar para seus colegas seu “poder mágico”, sem pensar nas consequências. É claro que ela comete erros, mas a profundidade de sua construção permite que ela inverta papéis com a mãe e que ela perceba que mesmo uma mulher sedenta pela perfeição e pelo autocontrole pode cometer um deslize (incluindo um trauma que a assombra desde criança).

Algumas similaridades com títulos passados da Pixar são encontradas pelo enredo – sendo perceptíveis aquelas que se restringem ao intrincado relacionamento de Mei e Ming (uma tradução mais estilizada de Nemo e Marlin, de Merida e Elinor, e de Luca e Daniela). Todavia, é impossível desassociar o filme de uma originalidade imagética que nunca foi vista dentro da companhia e que celebra uma cultura que, cada vez mais, se insere no cenário hollywoodiano e norte-americano. As expressões arquitetadas para os personagens partem de uma estética que relembra os mangás e os doramas, com referências que viajam desde ‘Sakura’ a ‘Cavaleiros do Zodíaco’ a ‘Pokémon’, enquanto a transformação de Mei Lee em panda se vale do significado espiritual de paciência para os chineses (algo que a protagonista precisa encontrar, mesmo em meio a obstáculos).

Em diversas entrevistas, Shi comentou sobre o longa ser um encerramento de seus anos quando criança e dos problemas que enfrentou, bem como uma homenagem à mãe e às coisas de que gostava mais nova – a boyband 4*Town, cujas músicas foram assinadas por Billie Eilish e Finneas O’Connell, faz alusão ao sucesso dos grupos N*SYNC e Backstreet Boys, por exemplo. É essa humildade e tamanho carisma de trazer experiências íntimas às telonas e compartilhá-las com o restante do planeta que deixa a obra ainda mais convidativa e recheada de momentos sensacionais.

Red: Crescer é uma Fera não é apenas um grande acerto da Pixar, como uma das animações mais honestas e verdadeiras de seu universo. Pavimentando caminho para o início de uma nova era do estúdio, a produção celebra a vida, a família e os amigos com o coração no lugar certo – e uma paixão por aquilo que nos torna únicos.

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