Mudanças trazem desconforto. Não é fácil abrir mão de algo por conta de uma nova tendência da moda. Tem gente que encara as mudanças com mais animação, ao passo que outras pessoas – geralmente mais velhas – têm mais receio e mais conservadorismo com relação aos novos ventos que sopram. A verdade, porém, é que por mais que se relute, novos estilos acabam emergindo na sociedade, não importa o tempo em que estamos. E, particularmente, o período de maior agitação cultural na história da humanidade foi a transição do século XIX para o século XX (e as primeiras décadas deste) – período de instauração da Modernidade. Na rebarba desse tempo, chega aos cinemas brasileiros esta semana o filme ‘Downton Abbey II: Uma Nova Era’, continuação direta do longa anterior e da série televisiva de sucesso.
O marido de Lady Mary (Michelle Dockery) continua viajando, e ela se sente muito só. Quando um cineasta, Sr. Barber (Hugh Dancy), telefona aleatoriamente, perguntando sobre a possibilidade de gravarem um filme na mansão de Downton Abbey, Mary enxerga nessa ocasião um enorme desafio, mas também uma ótima oportunidade de conseguirem uma grana para consertarem o telhado. Ao mesmo tempo, uma notícia inquietante chega para a matriarca Lady Violet (Maggie Smith): a inesperada herança de uma vila no sul da França, deixada por um antigo amor do passado. Por conta disso, Cora (Elizabeth McGovern), Tom (Allen Leech), Anna (Joanne Froggatt) e Mrs. Crawley (Hugh Bonneville) decidem viajar até o local, a fim de desvendar esse mistério. Também por isso, os funcionários da mansão terão que se redobrar para atender às duas demandas.
O roteiro de Julian Fellowes objetiva fazer com que o enredo aristocrático, que proporcionou o sucesso da franquia até agora, finalmente chegue à modernidade, aproximando um pouquinho mais o tempo narrativo à realidade do espectador. Isso se dá com o plot da tal filmagem cinematográfica (que, por sua vez, retrata a realidade da própria franquia, uma vez que a produção a toda hora tem que pedir aos proprietários de Downton Abbey para filmar na mansão), através dos personagens Myrna (Laura Haddock) e Guy Dexter (Dominic West), que interpretam os atores do cinema mudo em tensa transição para o cinema falado.
Entretanto, ainda que a metalinguagem de ‘Downton Abbey II: Uma Nova Era’ seja muito legal para os cinéfilos, a direção de Simon Curtis é frouxa, de modo que o resultado final de seu longa é uma sequência de picotes agrupados um após o outro, com transição abrupta entre as tramas e pouca continuação para costurá-las. O resultado é uma inquietante sensação de que nenhuma trama tem o tempo certo, com tudo sendo propositalmente acelerado para caber dentro do tempo do longa. Uma pena, pois certos acontecimentos deste filme deveriam ter recebido maior dedicação.
Andando conjuntamente com duas tramas principais ao mesmo tempo, ‘Downton Abbey II: Uma Nova Era’ se constrói em duas horas recortando um bocado de coisa, mas, por fim, entrega uma história de transição muito interessante. Só que, também, deixará os fãs intrigados sobre o futuro da franquia, pois ao mesmo tempo que finaliza encaminhando todos os personagens aos seus destinos, como quem quer encerrar a história, também meio que passa o bastão do elenco original para uma nova turma, ainda por vir na franquia. Qual das duas opções será seguida pela Universal Pictures, só o tempo dirá.