quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Drácula: A Última Viagem do Deméter’ cansa e não inova em filme FRUSTRANTE

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Considerado o vampiro mais famoso da história, o Conde Drácula, criado há 126 anos, já foi retratado, seja com fidelidade ou por meio de paródias, de todas as formas possíveis nas telonas. Despertando medo ou se vendendo como uma figura carismática, o personagem já aprontou com as mais diversas vítimas, e agora vai aterrorizar a tripulação de um navio mercante indo da Bulgária para a Inglaterra, em 1897.



A história do filme é a adaptação de um capítulo do Drácula de Bram Stoker, que conta como o vampirão saiu da Bulgária para Londres nos porões do Deméter, um navio mercante cuja tripulação achou que estava fazendo um baita negócio ao topar transportar 50 caixas de madeira para a Inglaterra. Afinal, eles estavam pagando um valor muito acima do normal para uma viagem de aproximadamente um mês, com direito a bônus se os caixotes fossem entregues no prazo.

O que eles não esperavam, porém, é que um endiabrado vampiro estaria repousando sob a terra da Transilvânia depositada no interior de uma dessas caixas. Agora, em alto-mar, Drácula desperta e vai atrás dos membros da tripulação. Um por um.

Apesar de ser contado pelo diário de bordo do falecido capitão do navio, o longa é conduzido sob a ótica de Clemens (Corey Hawkings), um médico que embarca de última hora no buffet marítimo do Conde Drácula. Ele é apresentado como um rapaz cético que, tal qual todo jovem recém-formado na faculdade, sofre para encontrar um emprego. Porém, isso só é abordado no final, quando acontece um discurso sobre o preconceito sofrido por ser um médico negro. É um ponto abordado de forma bem superficial, praticamente como todo o resto do filme. Ele tem um grande potencial para explorar personagens, cenários e criar situações para o terror, mas se prende a uma fórmula que já cansa na segunda morte.

Por meio das impressões de Clemens, que é um típico cara legal que entrou de gaiato no navio, o público conhece um pouco mais do perfil dos marinheiros do Deméter. E o que poderia ser uma ferramenta interessante para humanizar esses personagens, fazendo com que o espectador venha a sentir suas vindouras mortes, acaba sendo um tiro no pé, porque o médico os enxerga como uns mocorongos, ao melhor estilo “marinheiro estereotipado”. Eles só querem saber dos prazeres do dinheiro, para gastar tudo em barbeiros, bebidas e bordéis. E cá entre nós, depois de passar um mês em alto-mar sem tomar banho, racionando comida e matando rato pra se divertir, poder curtir um pouco da vida mundana é um desejo completamente justificável e até mesmo humano desses navegadores. Por isso que o filme se perde. As vítimas do Drácula não são carismáticas, mas também não são detestáveis. E num filme de terror, é fundamental você criar algum tipo de sentimento pelas futuras vítimas, nem que seja ódio para conseguir torcer por sua morte o quanto antes.

No filme, os únicos personagens que ganham algum tipo de desenvolvimento são o próprio Clemens, o Capitão do Navio e o pequeno Toby, que é justamente aquele que mais se aproxima e chega a desenvolver uma amizade com o protagonista. A forasteira Anna também ganha um certo destaque, mas nada que se mostre realmente interessante. É complicado porque o anúncio de um filme do Drácula atacante gente no meio do oceano deixou muitos animados, justamente pelas possibilidades de criar um terror embalsamado pela tensão e claustrofobia de não ter para onde ir, restando apenas lutar ou aceitar a morte como seu destino. Há de se convir que é uma ideia promissora, principalmente pensando na linguagem cinematográfica, mas faltou criatividade e até mesmo vontade da direção de brincar com as estruturas do navio e explorar suas possibilidades.

É completamente frustrante constatar que 80% das mortes do filme acontecem no deck do navio. E como o Drácula só se manifesta na parte da noite, a própria direção praticamente ignora os períodos diurnos, mostrando esse período quase como um fardo narrativo. Os personagens discutem sobre o monstro à noite, eles fazem seus planos à noite, eles procuram a criatura só depois que o sol se põe. Pelo amor de Deus, tudo bem que a escolaridade era baixa na época, mas até nesse contexto fica difícil de comprar a ideia de uma série de mortes misteriosas acontecerem à noite e os consagrados acharem que é coincidência. E o pior é que a direção poderia até mesmo preencher esses períodos diurnos com diálogos que realmente desenvolvessem os personagens ou criando situações que trouxessem o mínimo de empatia do público para com eles. Só que o roteiro se preocupa mesmo em se livrar ao máximo das 12h diárias de sol.

Essa falta de tato com os personagens e de criatividade em lidar com as possibilidades do terror em um ambiente fechado, sem escapatória para as vítimas, piora quando acontecem as poucas sequências realmente boas do filme, porque explicita que toda a construção do terror poderia ser boa. Faltou inspiração, mas há, sim, momentos em que o longa não se apoia apenas em cenas silenciosas seguidas de uma aparição repentina acompanhada de um barulho ou trilha no volume máximo (como acontece na maior parte do tempo). São poucos, mas estão lá.

Então fica o questionamento: Se o diretor André Øvredal sabe construir boas cenas de tensão, por que se contentou em preencher a maior parte do filme com os “sustos” mais genéricos possíveis? Poxa, é o Drácula, o vilão da ficção que, segundo o Guinness Book, é o mais vezes retratado na mídia, sabe? Se você não fizer um trabalho com personalidade, sua obra será completamente engolida pelas outras tantas que já foram feitas. E é justamente isso que acontece aqui. O filme é construído de forma completamente esquecível. Desperdiçar um personagem tão icônico quanto o Conde Drácula em uma obra que será esquecida imediatamente após as intermináveis 2h (que parecem 3h) de filme é muito complicado.

Entretanto, para não dizer que o filme é uma série de decepções, a estética suja e fria é interessante, com um trabalho bem competente de reconstrução histórica, principalmente no porto da Bulgária. Só que, ainda nessa questão estética, durante o anúncio do filme foi prometido um verdadeiro banho de sangue. Quem for nessa expectativa vai, novamente, se frustrar. As lesões causadas pelo vampiro são bem padrões e não tem um momento que realmente choque pelo grafismo.

Já o próprio Drácula, a grande estrela da produção, foi criado numa mistura de efeitos práticos com CGI. Sim, o ator Javier Botet entrou num traje de borracha e usou quilos de maquiagem para interpretar um Drácula com jeitão de Nosferatu e teve suas expressões finalizadas com a computação gráfica. O problema é que o resultado final ficou mais próximo de um bonecão de CGI do que um ator fantasiado. Complicado.

Drácula: A Última Viagem do Deméter é uma empreitada com potencial que termina como uma experiência cansativa, repetitiva e frustrante. O final dá a entender que o longa foi feito pensando em iniciar uma franquia. No entanto, no que depender desse filme, parece pouco provável que essa saga vá para frente.

Drácula: A Última Viagem do Deméter chega aos cinemas em 24 de agosto de 2023.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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A história do filme é a adaptação de um capítulo do Drácula de Bram Stoker, que conta como o vampirão saiu da Bulgária para Londres nos porões do Deméter, um navio mercante cuja tripulação achou que estava fazendo um baita negócio ao topar transportar 50 caixas de madeira para a Inglaterra. Afinal, eles estavam pagando um valor muito acima do normal para uma viagem de aproximadamente um mês, com direito a bônus se os caixotes fossem entregues no prazo.

O que eles não esperavam, porém, é que um endiabrado vampiro estaria repousando sob a terra da Transilvânia depositada no interior de uma dessas caixas. Agora, em alto-mar, Drácula desperta e vai atrás dos membros da tripulação. Um por um.

Apesar de ser contado pelo diário de bordo do falecido capitão do navio, o longa é conduzido sob a ótica de Clemens (Corey Hawkings), um médico que embarca de última hora no buffet marítimo do Conde Drácula. Ele é apresentado como um rapaz cético que, tal qual todo jovem recém-formado na faculdade, sofre para encontrar um emprego. Porém, isso só é abordado no final, quando acontece um discurso sobre o preconceito sofrido por ser um médico negro. É um ponto abordado de forma bem superficial, praticamente como todo o resto do filme. Ele tem um grande potencial para explorar personagens, cenários e criar situações para o terror, mas se prende a uma fórmula que já cansa na segunda morte.

Por meio das impressões de Clemens, que é um típico cara legal que entrou de gaiato no navio, o público conhece um pouco mais do perfil dos marinheiros do Deméter. E o que poderia ser uma ferramenta interessante para humanizar esses personagens, fazendo com que o espectador venha a sentir suas vindouras mortes, acaba sendo um tiro no pé, porque o médico os enxerga como uns mocorongos, ao melhor estilo “marinheiro estereotipado”. Eles só querem saber dos prazeres do dinheiro, para gastar tudo em barbeiros, bebidas e bordéis. E cá entre nós, depois de passar um mês em alto-mar sem tomar banho, racionando comida e matando rato pra se divertir, poder curtir um pouco da vida mundana é um desejo completamente justificável e até mesmo humano desses navegadores. Por isso que o filme se perde. As vítimas do Drácula não são carismáticas, mas também não são detestáveis. E num filme de terror, é fundamental você criar algum tipo de sentimento pelas futuras vítimas, nem que seja ódio para conseguir torcer por sua morte o quanto antes.

No filme, os únicos personagens que ganham algum tipo de desenvolvimento são o próprio Clemens, o Capitão do Navio e o pequeno Toby, que é justamente aquele que mais se aproxima e chega a desenvolver uma amizade com o protagonista. A forasteira Anna também ganha um certo destaque, mas nada que se mostre realmente interessante. É complicado porque o anúncio de um filme do Drácula atacante gente no meio do oceano deixou muitos animados, justamente pelas possibilidades de criar um terror embalsamado pela tensão e claustrofobia de não ter para onde ir, restando apenas lutar ou aceitar a morte como seu destino. Há de se convir que é uma ideia promissora, principalmente pensando na linguagem cinematográfica, mas faltou criatividade e até mesmo vontade da direção de brincar com as estruturas do navio e explorar suas possibilidades.

É completamente frustrante constatar que 80% das mortes do filme acontecem no deck do navio. E como o Drácula só se manifesta na parte da noite, a própria direção praticamente ignora os períodos diurnos, mostrando esse período quase como um fardo narrativo. Os personagens discutem sobre o monstro à noite, eles fazem seus planos à noite, eles procuram a criatura só depois que o sol se põe. Pelo amor de Deus, tudo bem que a escolaridade era baixa na época, mas até nesse contexto fica difícil de comprar a ideia de uma série de mortes misteriosas acontecerem à noite e os consagrados acharem que é coincidência. E o pior é que a direção poderia até mesmo preencher esses períodos diurnos com diálogos que realmente desenvolvessem os personagens ou criando situações que trouxessem o mínimo de empatia do público para com eles. Só que o roteiro se preocupa mesmo em se livrar ao máximo das 12h diárias de sol.

Essa falta de tato com os personagens e de criatividade em lidar com as possibilidades do terror em um ambiente fechado, sem escapatória para as vítimas, piora quando acontecem as poucas sequências realmente boas do filme, porque explicita que toda a construção do terror poderia ser boa. Faltou inspiração, mas há, sim, momentos em que o longa não se apoia apenas em cenas silenciosas seguidas de uma aparição repentina acompanhada de um barulho ou trilha no volume máximo (como acontece na maior parte do tempo). São poucos, mas estão lá.

Então fica o questionamento: Se o diretor André Øvredal sabe construir boas cenas de tensão, por que se contentou em preencher a maior parte do filme com os “sustos” mais genéricos possíveis? Poxa, é o Drácula, o vilão da ficção que, segundo o Guinness Book, é o mais vezes retratado na mídia, sabe? Se você não fizer um trabalho com personalidade, sua obra será completamente engolida pelas outras tantas que já foram feitas. E é justamente isso que acontece aqui. O filme é construído de forma completamente esquecível. Desperdiçar um personagem tão icônico quanto o Conde Drácula em uma obra que será esquecida imediatamente após as intermináveis 2h (que parecem 3h) de filme é muito complicado.

Entretanto, para não dizer que o filme é uma série de decepções, a estética suja e fria é interessante, com um trabalho bem competente de reconstrução histórica, principalmente no porto da Bulgária. Só que, ainda nessa questão estética, durante o anúncio do filme foi prometido um verdadeiro banho de sangue. Quem for nessa expectativa vai, novamente, se frustrar. As lesões causadas pelo vampiro são bem padrões e não tem um momento que realmente choque pelo grafismo.

Já o próprio Drácula, a grande estrela da produção, foi criado numa mistura de efeitos práticos com CGI. Sim, o ator Javier Botet entrou num traje de borracha e usou quilos de maquiagem para interpretar um Drácula com jeitão de Nosferatu e teve suas expressões finalizadas com a computação gráfica. O problema é que o resultado final ficou mais próximo de um bonecão de CGI do que um ator fantasiado. Complicado.

Drácula: A Última Viagem do Deméter é uma empreitada com potencial que termina como uma experiência cansativa, repetitiva e frustrante. O final dá a entender que o longa foi feito pensando em iniciar uma franquia. No entanto, no que depender desse filme, parece pouco provável que essa saga vá para frente.

Drácula: A Última Viagem do Deméter chega aos cinemas em 24 de agosto de 2023.

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Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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