terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Dream-pop e new wave regem ‘After Hours’, novo álbum de The Weeknd

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Abel Makkonen Tesfaye pode não soar familiar para os apaixonados por música, mas sem sombra de dúvida o nome artístico The Weeknd já deve ter cruzado caminho com os ouvintes em algum momento nos últimos dez anos. O cantor, compositor e produtor é dono de singles famosos e bem recebidos pela crítica internacional, como “Wanderlust”, “Can’t Feel My Face” e “Starboy”. Entretanto, mais do que sua capacidade inegável de produzir canções mercadológicas e que automaticamente caem no gosto popular, o artista tem uma habilidade única de explorar gêneros um tanto quanto deixados de lado no cenário mainstream da indústria fonográfica, optando por se afastar do que está em voga e abraçar um lado mais dark e mais conceitual.

E foi pensando numa continuidade de sua dramática arte que The Weeknds criou intenções interessantes e promissoras para After Hours, seu quarto álbum de estúdio que, seguindo o passo de tantas outras figuras de alto calibre na esfera contemporânea, resolveu se respaldar nas décadas passadas incrementar icônicas sonoridades com algumas transgressões e fusões outrora inimagináveis. E, ainda que tenha permanecido de certa maneira em sua zona de conforto, é visível o modo como sempre busca por algo diferente para entregar a seus “seguidores” – alcançando proeza invejável em grande parte.

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A produção é essencialmente guiada pelas tendências vanguardistas dos anos 1970 e 1980, aproveitando esse revolucionário momento para imprimir características próprias e que ficaram em segundo em plano em meio ao crescimento do pop com nomes como Madonna e Michael Jackson. Enquanto as lendas da música ficaram a encargo de auxiliar Dua Lipa e Lady Gaga a resgatarem esse sentimento nostálgico em suas obras, a banda britânica A.R. Kane serviu como mote para que o performer desse vida a catorze novas faixas que beiram a perfeição. O CD parte da premissa imersiva do dream-pop, logo de cara nos convidando a uma sinestésica viagem que se inicia com a enriquecida e preliminar “Alone Again” – um título um tanto quanto curioso para dar início a essa jornada, mas que funciona em todos os seus aspectos e cultiva um misticismo sonoro levado com solidez para o restante das canções.

Mesmo quando Tesfaye resolve reapropriar-se do rap e do trap, estilos outrora explorados em suas investidas, ele está embebido em uma propensão mimética ao passado, a um saudosismo cíclico (e aqui utilizo esse adjetivo não de modo pejorativo, e sim enaltecedora) incrustrado sutilmente em algumas escolhas quase imagéticas que refletem seu apreço pela sinestesia musical. Os escopos de “Snowchild” e “Escape from LA”, por exemplo, são representações claras do que o artista ousa nos apresentar: à medida que coloca um pé nos anos 2010, estica suas referências para o século passado e transforma as renovações da contracultura R&B em um fugaz solilóquio político (sem cair nas ruínas do panfletarismo).

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O new wave encontra espaço de sobra aqui e é colocado de modo superficial em tracks como “Too Late” e “Hardest to Love” – e, para os fãs desse borbulhante e colorido gênero, esse suposto descaso é imperdoável. Mas a mentalidade de The Weeknd supera todas as nossas expectativas (incluindo aquelas mais altas) e faz questão de deixar o melhor para o final. A presença impactante dos sintetizadores tira nosso fôlego na irretocável “Blinding Lights”, que presta homenagem a bandas como a-ha, emprestando um sample acelerado de “Take On Me”; tal preferência cresce exponencialmente para “In Your Eyes”, que nos chama para a pista de dança em uma mistura entre techno e disco, fruto das sondagens dos anos 1970, e para “Save Your Tears”, que recua para uma ballad em midtempo que poderia muito bem fazer parte da discografia de Snow Patrol em seu auge teatral.

O álbum parece dividir-se em dois e peca levemente em repetir contrações e distensões instrumentais vistas nos últimos três anos – ainda mais levando em conta a superposição do trap music e das redundantes batidas que acompanham o eu lírico, como é o caso de “Heartless”. Porém, é inegável dizer que a paixão do performer transparece em cada nota que nos entrega e em cada verso que constrói com maestria, deixando as iterações muito acima da média, ainda que passíveis de alguns erros amadores. Felizmente, os deslizes são pontuais, em decorrência da colaboração on point do cantor com os prolíficos Max Martin e Metro Boomin (que ficam responsáveis pelos ápices da obra).

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A nova adição de Tesfaye à sua discografia é uma amálgama solidária àqueles que sentiam falta de um pouco de originalidade e ousadia no mundo da música. Entregando-se de corpo e alma para essa declamatória e envolvente narrativa, o artista faz questão de colocar em After Hoursalgumas das melhores faixas de sua carreira – abrindo a década de 2020 do melhor modo possível.

Nota por faixa:

  • Alone Again – 4,5/5
  • Too Late – 4/5
  • Hardest to Love – 4/5
  • Scared to Live – 4/5
  • Snowchild – 4,5/5
  • Escape from LA – 4,5/5
  • Heartless – 4/5
  • Faith – 5/5
  • Blinding Lights – 5/5
  • In Your Eyes – 5/5
  • Save Your Tears – 5/5
  • Repeat After Me
  • After Hours – 4/5
  • Until I Bleed Out – 4,5/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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E foi pensando numa continuidade de sua dramática arte que The Weeknds criou intenções interessantes e promissoras para After Hours, seu quarto álbum de estúdio que, seguindo o passo de tantas outras figuras de alto calibre na esfera contemporânea, resolveu se respaldar nas décadas passadas incrementar icônicas sonoridades com algumas transgressões e fusões outrora inimagináveis. E, ainda que tenha permanecido de certa maneira em sua zona de conforto, é visível o modo como sempre busca por algo diferente para entregar a seus “seguidores” – alcançando proeza invejável em grande parte.

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A produção é essencialmente guiada pelas tendências vanguardistas dos anos 1970 e 1980, aproveitando esse revolucionário momento para imprimir características próprias e que ficaram em segundo em plano em meio ao crescimento do pop com nomes como Madonna e Michael Jackson. Enquanto as lendas da música ficaram a encargo de auxiliar Dua Lipa e Lady Gaga a resgatarem esse sentimento nostálgico em suas obras, a banda britânica A.R. Kane serviu como mote para que o performer desse vida a catorze novas faixas que beiram a perfeição. O CD parte da premissa imersiva do dream-pop, logo de cara nos convidando a uma sinestésica viagem que se inicia com a enriquecida e preliminar “Alone Again” – um título um tanto quanto curioso para dar início a essa jornada, mas que funciona em todos os seus aspectos e cultiva um misticismo sonoro levado com solidez para o restante das canções.

Mesmo quando Tesfaye resolve reapropriar-se do rap e do trap, estilos outrora explorados em suas investidas, ele está embebido em uma propensão mimética ao passado, a um saudosismo cíclico (e aqui utilizo esse adjetivo não de modo pejorativo, e sim enaltecedora) incrustrado sutilmente em algumas escolhas quase imagéticas que refletem seu apreço pela sinestesia musical. Os escopos de “Snowchild” e “Escape from LA”, por exemplo, são representações claras do que o artista ousa nos apresentar: à medida que coloca um pé nos anos 2010, estica suas referências para o século passado e transforma as renovações da contracultura R&B em um fugaz solilóquio político (sem cair nas ruínas do panfletarismo).

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O new wave encontra espaço de sobra aqui e é colocado de modo superficial em tracks como “Too Late” e “Hardest to Love” – e, para os fãs desse borbulhante e colorido gênero, esse suposto descaso é imperdoável. Mas a mentalidade de The Weeknd supera todas as nossas expectativas (incluindo aquelas mais altas) e faz questão de deixar o melhor para o final. A presença impactante dos sintetizadores tira nosso fôlego na irretocável “Blinding Lights”, que presta homenagem a bandas como a-ha, emprestando um sample acelerado de “Take On Me”; tal preferência cresce exponencialmente para “In Your Eyes”, que nos chama para a pista de dança em uma mistura entre techno e disco, fruto das sondagens dos anos 1970, e para “Save Your Tears”, que recua para uma ballad em midtempo que poderia muito bem fazer parte da discografia de Snow Patrol em seu auge teatral.

O álbum parece dividir-se em dois e peca levemente em repetir contrações e distensões instrumentais vistas nos últimos três anos – ainda mais levando em conta a superposição do trap music e das redundantes batidas que acompanham o eu lírico, como é o caso de “Heartless”. Porém, é inegável dizer que a paixão do performer transparece em cada nota que nos entrega e em cada verso que constrói com maestria, deixando as iterações muito acima da média, ainda que passíveis de alguns erros amadores. Felizmente, os deslizes são pontuais, em decorrência da colaboração on point do cantor com os prolíficos Max Martin e Metro Boomin (que ficam responsáveis pelos ápices da obra).

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A nova adição de Tesfaye à sua discografia é uma amálgama solidária àqueles que sentiam falta de um pouco de originalidade e ousadia no mundo da música. Entregando-se de corpo e alma para essa declamatória e envolvente narrativa, o artista faz questão de colocar em After Hoursalgumas das melhores faixas de sua carreira – abrindo a década de 2020 do melhor modo possível.

Nota por faixa:

  • Alone Again – 4,5/5
  • Too Late – 4/5
  • Hardest to Love – 4/5
  • Scared to Live – 4/5
  • Snowchild – 4,5/5
  • Escape from LA – 4,5/5
  • Heartless – 4/5
  • Faith – 5/5
  • Blinding Lights – 5/5
  • In Your Eyes – 5/5
  • Save Your Tears – 5/5
  • Repeat After Me
  • After Hours – 4/5
  • Until I Bleed Out – 4,5/5
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