Crescer não é fácil. Quem já passou por isso olha pra trás rindo das memórias do período da adolescência, mas a verdade é que quando ainda se é adolescente as experiências se intensificam, tudo parece ser agora ou nunca. Esse universo nebuloso pelo qual todos atravessam é o universo que a escritora infanto-juvenil Thalita Rebouças traz em seus livros, os quais nos últimos anos vem sendo adaptados com competência aos cinemas brasileiros. Esse é o mote que encontramos em ‘Ela disse, ele disse’.
Rosa (a fofa Duda Matte) é uma menina tímida que entra para uma nova escola no 9º ano. Insegura sobre como agir, como se vestir e como conquistar novos amigos, ela se sente completamente invisível no primeiro dia de aula. Mas, então, o super descolado e também novato Léo (Marcus Bessa) puxa assunto com ela, e Rosa imediatamente passa a se sentir notada – além de começar a desenvolver um crush pelo novo amigo.
Aos poucos o dia a dia na nova escola vai revelando novas amizades com as besties Carol e Luana (as engraçadas Giulia Ayumi e Cecília Warpe, em perfeita sintonia) e com a garota mais popular da escola, Júlia (Maisa Silva, que chega até a cantar na última cena), fixante do Rafa Confusão (Matheus Lustosa). Só que à medida que o interesse de Rosa por Léo aumenta, Júlia resolve se intrometer na história e cobiçar o menino. Vale aqui uma nota especial para a jovem Maisa, que se mostra muito mais amadurecida profissionalmente e completamente à vontade no papel da antagonista. É, sem dúvida, seu melhor papel até hoje.
Além do núcleo principal, o filme conta ainda com participações especialíssimas, como da apresentadora Fernanda Gentil no papel da mãe de Rosa, mostrando-se uma atriz nata; da Youtuber Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, revelando-se no papel da professora Fátima; da apresentadora Ana Maria Braga; e da própria Thalita Rebouças, que já pegou o costume de aparecer nos próprios filmes.
‘Ela disse, ele disse’ é a primeira história de Thalita Rebouças com um protagonista masculino e um de seus livros mais vendidos. Tanto no livro quanto no filme a narrativa é dividida pelo ponto de vista de Rosa e de Léo, mostrando que meninos e meninas experienciam a mesma coisa, porém são impactados de maneira diferente, e também pensam e agem de maneira diferente diante das mesmas situações. A alternância do ponto de vista foi mantida no filme e funcionou perfeitamente para imergir o espectador dentro da trama, pois toda vez que um dos protagonistas quebra a quarta parede e olha para a câmera, nós, espectadores, nos sentimos confidentes deles. Mérito do roteiro cuidadoso de Tati Ingrid Adão e Thalita Rebouças que conversou intrinsicamente com a direção de Claudia Castro. Aliás, esse é um dos pontos altos desse filme: ele é dirigido, produzido, escrito, roteirizado e protagonizado por mulheres. Bravo!
Apesar do uso de clichês – que, cá entre nós, é necessário em comédias românticas – o filme cumpre seu papel de entreter, divertir e, ao mesmo tempo, passar uma boa mensagem de amizade e de amadurecimento, que é, no final das contas, do que se trata o filme. Ou seja, para contar uma boa história adolescente é claro que alguns elementos lugar-comum farão parte do enredo, o que não significa, entretanto, que eles precisam ser o foco da história. E a escritora Thalita Rebouças tem plena compreensão da sutil diferença entre as ambas perspectivas, por isso relê suas próprias história e as repagina para os tempos atuais, sem medo de alterar ou atualizar conceitos anteriormente abordados por ela, mas que hoje já não têm mais lugar. A isso damos o nome de responsabilidade social, algo que Thalita vem cumprindo muito bem ao dialogar diretamente com um público sedento por ver seus próprios dilemas abordados nos filmes.