quarta-feira , 26 fevereiro , 2025

Crítica | Em Ritmo de Fuga – a definição do cinema pop de qualidade


Edgar Wright se veste de Tarantino e Scorsese

O motorista de fuga é aquele sujeito que fica esperando o assalto acontecer, em frente a um banco dentro do carro, para quando seus comparsas chegarem, simplesmente pisar até o metal. Essa figura solitária e emblemática já foi protagonista de diversas obras na história do cinema. Do clássico Caçada da Morte (The Driver, 1978), passando pelo descerebrado Carga Explosiva (Transporter, 2002), até o cult Drive (2011), o atormentado criminoso já teve muitas formas, mas nenhuma igual à de Baby.

Baby (Ansel Elgort) é o melhor piloto de fuga que há. O fato de ser um jovem recém-saído da adolescência cria barreira inicial e certo temor daqueles que irão trabalhar com ele. Esse medo logo é dissipado uma vez que sua capacidade atrás do volante seja compreendida – o que ocorre logo na primeira cena. Essa é a forma que o diretor e roteirista da obra, Edgar Wright, encontrou para tirar nossa descrença igualmente. Afinal, não existe melhor explicação do que simplesmente nos mostrar. E Wright tem talento suficiente para fazer Elgort parecer o  motorista mais habilidoso do mundo. Aliás, ele poderia fazer isso com qualquer um de nós.



Leia nossa matéria ‘Em Ritmo de Fuga – o som e a fúria’

Em Ritmo de Fuga CinePOP1

Wright, um dos jovens diretores mais talentosos da atualidade, obviamente, faz muito mais do que isso em seu novo filme. O que o cineasta consegue é pegar um gênero e acrescentar frescor em sua estrutura. É como se a fórmula dos filmes de assalto tivesse recebido o tratamento Wright, algo como grandes nomes fizeram no passado, vide Tarantino em Cães de Aluguel (1992), Michael Mann em Fogo Contra Fogo (1995) e Martin Scorsese em Os Bons Companheiros (1990). Calma, antes que atirem a primeira pedra, quero dizer que não estou comparando estes diretores, simplesmente adereçando o fato do que conquistaram dentro de fórmulas pré-estabelecidas.

Assista nossa rapidinha com Ansel Elgort

Em Ritmo de Fuga CinePOP5


A história de Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) é simples, mas seu roteiro é rebuscado. A começar pela primeira cena, recheada de ação, reproduzindo um plano-sequência (aqueles momentos filmados sem cortes, ou aparentemente) na qual o diretor mostra a que veio, imprimindo seu cinema de autor numa cena de perseguição de carros. É engraçado como soa diferente de blockbusters empacotados como a série Velozes e Furiosos (e eu adoro esta franquia!). Logo em seguida ganhamos um dos muitos números musicais – acredite, o filme tem o suficiente no quesito para ser considerado quase um musical – no qual Elgort anda, canta e dança pelas ruas até a loja de café. Em Ritmo de Fuga embala cada cena com um momento propício de sua exuberante trilha sonora.

Em Ritmo de Fuga CinePOP2

Os personagens são bastante “coloridos” para se destacarem ganhando vida, e caminharem na tênue linha do estereótipo crível. A ameaça com que Wright os cria, em especial Bats (Jamie Foxx), Doc (Kevin Spacey) e Griff (Jon Bernthal – com muito menos tempo em cena do que gostaríamos) finca estes criminosos no mundo real, dando-lhes urgência extrema ao antagonizarem o protagonista. Esta tensão implícita através de diálogos e composições de cena faz toda a diferença. É quando nos envolvemos tanto que esquecemos estarmos assistindo a um filme, nos entregando emocionalmente (no caso aqui, ao nervosismo de que algo muito ruim pode ocorrer) e sentindo junto aos personagens.

Assista também: 
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Em Ritmo de Fuga CinePOP6

Em Ritmo de Fuga também possui muito humor, sempre permeando as obras de Wright, e suspense. Mas é justo afirmar ser esta uma história de amor. Baby é um herói trágico e relutante. Sua mãe, figura de maior estima dele, morreu em um acidente de carro. Sua via crucis é seu dom e seu ganha pão. É também seu tormento e suplício. Até ele conhecer Debora (a gracinha Lily James), apaixonar-se, com ela desenvolver um relacionamento bem plausível (conquistado e não apressado) e decidir que ela será também sua redenção.

Em Ritmo de Fuga CinePOP3

Existem mais significados nas entrelinhas de Em Ritmo de Fuga do que eu jamais faria jus nesta resenha – como as referências ao cinema de Scorsese, desde os créditos amarelo e preto (Taxi Driver) à pizzaria Goodfellas (Os Bons Companheiros) – fora os que não fui capaz de pescar, ao menos em uma primeira investida. Do lado negativo, o desfecho se alonga desnecessariamente. Em Ritmo de Fuga é um filme maior do que necessita.

Em Ritmo de Fuga CinePOP4

Dizer que Em Ritmo de Fuga é o filme menos Edgar Wright da carreira do cineasta é uma afirmação equivocada. Quem conhece de perto o currículo do diretor identificará todos os elementos utilizados por ele anteriormente, em especial a sátira aos filmes de gênero. A única diferença é que Wright agora chegou a Hollywood, e fez uso de um grande orçamento (mesmo assim, metade do utilizado por ele em Scott Pilgrim Contra o Mundo, 2010 – esse sim, talvez seu filme mais diferente). Com produção da Sony e mirado a um público maior, Em Ritmo de Fuga é uma grande obra pop, mas uma autoral. É também um dos melhores filmes de 2017. Seja bem vindo a Hollywood, Mr. Wright. Estávamos sentindo a sua falta.


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O motorista de fuga é aquele sujeito que fica esperando o assalto acontecer, em frente a um banco dentro do carro, para quando seus comparsas chegarem, simplesmente pisar até o metal. Essa figura solitária e emblemática já foi protagonista de diversas obras na história do cinema. Do clássico Caçada da Morte (The Driver, 1978), passando pelo descerebrado Carga Explosiva (Transporter, 2002), até o cult Drive (2011), o atormentado criminoso já teve muitas formas, mas nenhuma igual à de Baby.

Baby (Ansel Elgort) é o melhor piloto de fuga que há. O fato de ser um jovem recém-saído da adolescência cria barreira inicial e certo temor daqueles que irão trabalhar com ele. Esse medo logo é dissipado uma vez que sua capacidade atrás do volante seja compreendida – o que ocorre logo na primeira cena. Essa é a forma que o diretor e roteirista da obra, Edgar Wright, encontrou para tirar nossa descrença igualmente. Afinal, não existe melhor explicação do que simplesmente nos mostrar. E Wright tem talento suficiente para fazer Elgort parecer o  motorista mais habilidoso do mundo. Aliás, ele poderia fazer isso com qualquer um de nós.

Leia nossa matéria ‘Em Ritmo de Fuga – o som e a fúria’

Em Ritmo de Fuga CinePOP1

Wright, um dos jovens diretores mais talentosos da atualidade, obviamente, faz muito mais do que isso em seu novo filme. O que o cineasta consegue é pegar um gênero e acrescentar frescor em sua estrutura. É como se a fórmula dos filmes de assalto tivesse recebido o tratamento Wright, algo como grandes nomes fizeram no passado, vide Tarantino em Cães de Aluguel (1992), Michael Mann em Fogo Contra Fogo (1995) e Martin Scorsese em Os Bons Companheiros (1990). Calma, antes que atirem a primeira pedra, quero dizer que não estou comparando estes diretores, simplesmente adereçando o fato do que conquistaram dentro de fórmulas pré-estabelecidas.

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Em Ritmo de Fuga CinePOP5

A história de Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) é simples, mas seu roteiro é rebuscado. A começar pela primeira cena, recheada de ação, reproduzindo um plano-sequência (aqueles momentos filmados sem cortes, ou aparentemente) na qual o diretor mostra a que veio, imprimindo seu cinema de autor numa cena de perseguição de carros. É engraçado como soa diferente de blockbusters empacotados como a série Velozes e Furiosos (e eu adoro esta franquia!). Logo em seguida ganhamos um dos muitos números musicais – acredite, o filme tem o suficiente no quesito para ser considerado quase um musical – no qual Elgort anda, canta e dança pelas ruas até a loja de café. Em Ritmo de Fuga embala cada cena com um momento propício de sua exuberante trilha sonora.

Em Ritmo de Fuga CinePOP2

Os personagens são bastante “coloridos” para se destacarem ganhando vida, e caminharem na tênue linha do estereótipo crível. A ameaça com que Wright os cria, em especial Bats (Jamie Foxx), Doc (Kevin Spacey) e Griff (Jon Bernthal – com muito menos tempo em cena do que gostaríamos) finca estes criminosos no mundo real, dando-lhes urgência extrema ao antagonizarem o protagonista. Esta tensão implícita através de diálogos e composições de cena faz toda a diferença. É quando nos envolvemos tanto que esquecemos estarmos assistindo a um filme, nos entregando emocionalmente (no caso aqui, ao nervosismo de que algo muito ruim pode ocorrer) e sentindo junto aos personagens.

Em Ritmo de Fuga CinePOP6

Em Ritmo de Fuga também possui muito humor, sempre permeando as obras de Wright, e suspense. Mas é justo afirmar ser esta uma história de amor. Baby é um herói trágico e relutante. Sua mãe, figura de maior estima dele, morreu em um acidente de carro. Sua via crucis é seu dom e seu ganha pão. É também seu tormento e suplício. Até ele conhecer Debora (a gracinha Lily James), apaixonar-se, com ela desenvolver um relacionamento bem plausível (conquistado e não apressado) e decidir que ela será também sua redenção.

Em Ritmo de Fuga CinePOP3

Existem mais significados nas entrelinhas de Em Ritmo de Fuga do que eu jamais faria jus nesta resenha – como as referências ao cinema de Scorsese, desde os créditos amarelo e preto (Taxi Driver) à pizzaria Goodfellas (Os Bons Companheiros) – fora os que não fui capaz de pescar, ao menos em uma primeira investida. Do lado negativo, o desfecho se alonga desnecessariamente. Em Ritmo de Fuga é um filme maior do que necessita.

Em Ritmo de Fuga CinePOP4

Dizer que Em Ritmo de Fuga é o filme menos Edgar Wright da carreira do cineasta é uma afirmação equivocada. Quem conhece de perto o currículo do diretor identificará todos os elementos utilizados por ele anteriormente, em especial a sátira aos filmes de gênero. A única diferença é que Wright agora chegou a Hollywood, e fez uso de um grande orçamento (mesmo assim, metade do utilizado por ele em Scott Pilgrim Contra o Mundo, 2010 – esse sim, talvez seu filme mais diferente). Com produção da Sony e mirado a um público maior, Em Ritmo de Fuga é uma grande obra pop, mas uma autoral. É também um dos melhores filmes de 2017. Seja bem vindo a Hollywood, Mr. Wright. Estávamos sentindo a sua falta.

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