domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Em Ritmo de Fuga – a definição do cinema pop de qualidade

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Edgar Wright se veste de Tarantino e Scorsese

O motorista de fuga é aquele sujeito que fica esperando o assalto acontecer, em frente a um banco dentro do carro, para quando seus comparsas chegarem, simplesmente pisar até o metal. Essa figura solitária e emblemática já foi protagonista de diversas obras na história do cinema. Do clássico Caçada da Morte (The Driver, 1978), passando pelo descerebrado Carga Explosiva (Transporter, 2002), até o cult Drive (2011), o atormentado criminoso já teve muitas formas, mas nenhuma igual à de Baby.

Baby (Ansel Elgort) é o melhor piloto de fuga que há. O fato de ser um jovem recém-saído da adolescência cria barreira inicial e certo temor daqueles que irão trabalhar com ele. Esse medo logo é dissipado uma vez que sua capacidade atrás do volante seja compreendida – o que ocorre logo na primeira cena. Essa é a forma que o diretor e roteirista da obra, Edgar Wright, encontrou para tirar nossa descrença igualmente. Afinal, não existe melhor explicação do que simplesmente nos mostrar. E Wright tem talento suficiente para fazer Elgort parecer o  motorista mais habilidoso do mundo. Aliás, ele poderia fazer isso com qualquer um de nós.



Leia nossa matéria ‘Em Ritmo de Fuga – o som e a fúria’

Wright, um dos jovens diretores mais talentosos da atualidade, obviamente, faz muito mais do que isso em seu novo filme. O que o cineasta consegue é pegar um gênero e acrescentar frescor em sua estrutura. É como se a fórmula dos filmes de assalto tivesse recebido o tratamento Wright, algo como grandes nomes fizeram no passado, vide Tarantino em Cães de Aluguel (1992), Michael Mann em Fogo Contra Fogo (1995) e Martin Scorsese em Os Bons Companheiros (1990). Calma, antes que atirem a primeira pedra, quero dizer que não estou comparando estes diretores, simplesmente adereçando o fato do que conquistaram dentro de fórmulas pré-estabelecidas.

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Assista nossa rapidinha com Ansel Elgort

A história de Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) é simples, mas seu roteiro é rebuscado. A começar pela primeira cena, recheada de ação, reproduzindo um plano-sequência (aqueles momentos filmados sem cortes, ou aparentemente) na qual o diretor mostra a que veio, imprimindo seu cinema de autor numa cena de perseguição de carros. É engraçado como soa diferente de blockbusters empacotados como a série Velozes e Furiosos (e eu adoro esta franquia!). Logo em seguida ganhamos um dos muitos números musicais – acredite, o filme tem o suficiente no quesito para ser considerado quase um musical – no qual Elgort anda, canta e dança pelas ruas até a loja de café. Em Ritmo de Fuga embala cada cena com um momento propício de sua exuberante trilha sonora.

Os personagens são bastante “coloridos” para se destacarem ganhando vida, e caminharem na tênue linha do estereótipo crível. A ameaça com que Wright os cria, em especial Bats (Jamie Foxx), Doc (Kevin Spacey) e Griff (Jon Bernthal – com muito menos tempo em cena do que gostaríamos) finca estes criminosos no mundo real, dando-lhes urgência extrema ao antagonizarem o protagonista. Esta tensão implícita através de diálogos e composições de cena faz toda a diferença. É quando nos envolvemos tanto que esquecemos estarmos assistindo a um filme, nos entregando emocionalmente (no caso aqui, ao nervosismo de que algo muito ruim pode ocorrer) e sentindo junto aos personagens.

Em Ritmo de Fuga também possui muito humor, sempre permeando as obras de Wright, e suspense. Mas é justo afirmar ser esta uma história de amor. Baby é um herói trágico e relutante. Sua mãe, figura de maior estima dele, morreu em um acidente de carro. Sua via crucis é seu dom e seu ganha pão. É também seu tormento e suplício. Até ele conhecer Debora (a gracinha Lily James), apaixonar-se, com ela desenvolver um relacionamento bem plausível (conquistado e não apressado) e decidir que ela será também sua redenção.

Existem mais significados nas entrelinhas de Em Ritmo de Fuga do que eu jamais faria jus nesta resenha – como as referências ao cinema de Scorsese, desde os créditos amarelo e preto (Taxi Driver) à pizzaria Goodfellas (Os Bons Companheiros) – fora os que não fui capaz de pescar, ao menos em uma primeira investida. Do lado negativo, o desfecho se alonga desnecessariamente. Em Ritmo de Fuga é um filme maior do que necessita.

Dizer que Em Ritmo de Fuga é o filme menos Edgar Wright da carreira do cineasta é uma afirmação equivocada. Quem conhece de perto o currículo do diretor identificará todos os elementos utilizados por ele anteriormente, em especial a sátira aos filmes de gênero. A única diferença é que Wright agora chegou a Hollywood, e fez uso de um grande orçamento (mesmo assim, metade do utilizado por ele em Scott Pilgrim Contra o Mundo, 2010 – esse sim, talvez seu filme mais diferente). Com produção da Sony e mirado a um público maior, Em Ritmo de Fuga é uma grande obra pop, mas uma autoral. É também um dos melhores filmes de 2017. Seja bem vindo a Hollywood, Mr. Wright. Estávamos sentindo a sua falta.

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O motorista de fuga é aquele sujeito que fica esperando o assalto acontecer, em frente a um banco dentro do carro, para quando seus comparsas chegarem, simplesmente pisar até o metal. Essa figura solitária e emblemática já foi protagonista de diversas obras na história do cinema. Do clássico Caçada da Morte (The Driver, 1978), passando pelo descerebrado Carga Explosiva (Transporter, 2002), até o cult Drive (2011), o atormentado criminoso já teve muitas formas, mas nenhuma igual à de Baby.

Baby (Ansel Elgort) é o melhor piloto de fuga que há. O fato de ser um jovem recém-saído da adolescência cria barreira inicial e certo temor daqueles que irão trabalhar com ele. Esse medo logo é dissipado uma vez que sua capacidade atrás do volante seja compreendida – o que ocorre logo na primeira cena. Essa é a forma que o diretor e roteirista da obra, Edgar Wright, encontrou para tirar nossa descrença igualmente. Afinal, não existe melhor explicação do que simplesmente nos mostrar. E Wright tem talento suficiente para fazer Elgort parecer o  motorista mais habilidoso do mundo. Aliás, ele poderia fazer isso com qualquer um de nós.

Leia nossa matéria ‘Em Ritmo de Fuga – o som e a fúria’

Wright, um dos jovens diretores mais talentosos da atualidade, obviamente, faz muito mais do que isso em seu novo filme. O que o cineasta consegue é pegar um gênero e acrescentar frescor em sua estrutura. É como se a fórmula dos filmes de assalto tivesse recebido o tratamento Wright, algo como grandes nomes fizeram no passado, vide Tarantino em Cães de Aluguel (1992), Michael Mann em Fogo Contra Fogo (1995) e Martin Scorsese em Os Bons Companheiros (1990). Calma, antes que atirem a primeira pedra, quero dizer que não estou comparando estes diretores, simplesmente adereçando o fato do que conquistaram dentro de fórmulas pré-estabelecidas.

Assista nossa rapidinha com Ansel Elgort

A história de Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) é simples, mas seu roteiro é rebuscado. A começar pela primeira cena, recheada de ação, reproduzindo um plano-sequência (aqueles momentos filmados sem cortes, ou aparentemente) na qual o diretor mostra a que veio, imprimindo seu cinema de autor numa cena de perseguição de carros. É engraçado como soa diferente de blockbusters empacotados como a série Velozes e Furiosos (e eu adoro esta franquia!). Logo em seguida ganhamos um dos muitos números musicais – acredite, o filme tem o suficiente no quesito para ser considerado quase um musical – no qual Elgort anda, canta e dança pelas ruas até a loja de café. Em Ritmo de Fuga embala cada cena com um momento propício de sua exuberante trilha sonora.

Os personagens são bastante “coloridos” para se destacarem ganhando vida, e caminharem na tênue linha do estereótipo crível. A ameaça com que Wright os cria, em especial Bats (Jamie Foxx), Doc (Kevin Spacey) e Griff (Jon Bernthal – com muito menos tempo em cena do que gostaríamos) finca estes criminosos no mundo real, dando-lhes urgência extrema ao antagonizarem o protagonista. Esta tensão implícita através de diálogos e composições de cena faz toda a diferença. É quando nos envolvemos tanto que esquecemos estarmos assistindo a um filme, nos entregando emocionalmente (no caso aqui, ao nervosismo de que algo muito ruim pode ocorrer) e sentindo junto aos personagens.

Em Ritmo de Fuga também possui muito humor, sempre permeando as obras de Wright, e suspense. Mas é justo afirmar ser esta uma história de amor. Baby é um herói trágico e relutante. Sua mãe, figura de maior estima dele, morreu em um acidente de carro. Sua via crucis é seu dom e seu ganha pão. É também seu tormento e suplício. Até ele conhecer Debora (a gracinha Lily James), apaixonar-se, com ela desenvolver um relacionamento bem plausível (conquistado e não apressado) e decidir que ela será também sua redenção.

Existem mais significados nas entrelinhas de Em Ritmo de Fuga do que eu jamais faria jus nesta resenha – como as referências ao cinema de Scorsese, desde os créditos amarelo e preto (Taxi Driver) à pizzaria Goodfellas (Os Bons Companheiros) – fora os que não fui capaz de pescar, ao menos em uma primeira investida. Do lado negativo, o desfecho se alonga desnecessariamente. Em Ritmo de Fuga é um filme maior do que necessita.

Dizer que Em Ritmo de Fuga é o filme menos Edgar Wright da carreira do cineasta é uma afirmação equivocada. Quem conhece de perto o currículo do diretor identificará todos os elementos utilizados por ele anteriormente, em especial a sátira aos filmes de gênero. A única diferença é que Wright agora chegou a Hollywood, e fez uso de um grande orçamento (mesmo assim, metade do utilizado por ele em Scott Pilgrim Contra o Mundo, 2010 – esse sim, talvez seu filme mais diferente). Com produção da Sony e mirado a um público maior, Em Ritmo de Fuga é uma grande obra pop, mas uma autoral. É também um dos melhores filmes de 2017. Seja bem vindo a Hollywood, Mr. Wright. Estávamos sentindo a sua falta.

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