Crítica | Enterre Seus Mortos – Selton Mello e Marjorie Estiano em HORROR Non-Sense [Festival do Rio 2024]

Stephen King é mundialmente reconhecido como o mestre das histórias de terror. Todo mundo o venera por suas tramas mirabolantes de cachorros assassinos, crianças fugindo de palhaço, carros possuídos e jovens lutando para sobreviver em contextos perigosos. Mas boa parte desse público que ama as histórias aterrorizantes do King esquece (ou sequer sabem) que o escritor também tem uma larga estrada no campo das narrativas de ficção científica, e que a maioria delas não fazem o menos sentido, mas, mesmo assim, ganharam adaptações audiovisuais, como as séries ‘O Domo’, ‘The Stand’ e ‘O Nevoeiro’. Todas as histórias de King encontram seu público, mesmo as que não fazem tanto sentido, e, seguindo por essa linha, teve apresentações antecipadas durante o Festival do Rio o longa de horror brasileiro ‘Enterre Seus Mortos’.

Cena de 'Enterre seus Mortos' de Marco Dutra

Edgar Wilson (Selton Mello, de ‘Ainda Estou Aqui’) tem um trabalho ingrato: ele dirige uma caminhonete que atende a chamados para recolher corpos de animais atropelados e/ou encontrados mortos à beira da estrada a caminho da cidade. Junto com seu parceiro Tomás (Danilo Grangheia, de ‘O Sequestro do Voo 375’) eles começam a perceber que o número de animais na cidade está diminuindo, e as pessoas estão ou deixando ou local, ou entrando para uma seita religiosa que faz com que as pessoas tomem um chá misterioso que, através dele, seria possível encontrar um bem-estar alternativo. Dividido entre fugir e ficar, Edgar Wilson mantem seu relacionamento com Nete (Marjorie Estiano, de ‘Abraço de Mãe’), visitando-a frequentemente na casa da tia dela, Helena (Betty Faria, de ‘Se Eu Fechar os Olhos Agora’).

Adaptado do romance homônimo de Ana Paula Maia, Marco Dutra (de ‘As Boas Maneiras’) escreve e dirige o roteiro de ‘Enterre Seus Mortos’ na maior vibe ‘A Torre Negra’, de Stephen King. O clima de faroeste com o fim de mundo iminente, já tanto abordado na carreira do mestre do terror, na produção brasileira é representado pelo protagonista que só é chamado pelo nome e sobrenome – Edgar Wilson –, pelo seu parceiro Tomás, sempre de chapéu e poucas palavras, pela solidão da cidade de interior que ninguém conhece e pela ameaça que tira a vida dos animais sem nenhuma explicação. Para quem leu a HQ e posteriormente viu a série ‘A Torre Negra’, o clima é o mesmo no filme brasileiro.

enterre seus mortos

Selton Mello uma vez mais abraça o personagem esquisitão e com certeza se divertiu fazendo um Edgar Wilson totalmente ambientado no clima de non sense que o cerca, lidando com a morte animal e o horror com a naturalidade de um xerife do oeste estadunidense. As cenas de horror, é preciso ressaltar, são bizarras que podem tanto chocar o espectador como provocar o riso, tamanho o absurdo, e elas regem todo o fio condutor da produção, desde a primeira até a última cena, literalmente.

Enterre Seus Mortos’ é a primeira produção original Globoplay e é uma aposta ousadíssima, uma produção de filme de gênero com uma história que é mais do que parece e que pede a total atenção do espectador. Um filme com a cara dos fãs das ousadias paralelas de Stephen King, com muita morte e sangue sem grandes explicações e, sem dúvidas, um dos filmes mais non sense do Festival do Rio esse ano e que faz parte também da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Dois homens conversando, um deles usa chapéu.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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