sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | EO – Indicado ao Oscar Traz Olhar Sobre a Humanidade pela Ótica de um Burro

O que exatamente diferencia os seres humanos dos outros seres vivos da Natureza – as plantas, os animais, os ecossistemas? A ciência diz que é nossa capacidade de saber escrever; outros dizem que é nossa habilidade de falar que nos tornaria um tantinho mais especiais. A grande pergunta é: será? Seria mesmo nossa capacidade de escrever que nos tornaria mais inteligentes, mais superiores do que, por exemplo, um peixe? Seria nossa capacidade de falar línguas que nos tornaria mais especiais do que um burro? Estes e outros questionamentos podem ser encontrados no longa de ficção ‘EO’, indicação da Polônia para o Oscar 2023 de Filme em Língua Estrangeira e que teve exibição aqui no Brasil durante o Festival do Rio 2022.

Na trama, acompanhamos um burrinho cinza de nome ‘EO’, que vive como atração em uma trupe circense nos arredores da Polônia. Entre números de dança com sua companheira humana Kasandra (Sandra Drzymalska), EO recebe aplausos dos espectadores. Quando a fiscalização bate no local, junto com diversos protestantes em prol dos direitos dos animais, EO e os outros bichinhos são apreendidos e levados dali, cada um recebendo um destino diferente. EO, por sua vez, é levado para longe das pessoas e do sistema de vida ao qual estava acostumado, e, assim, tem início uma inesperada jornada de aventuras e desafios na vida desse pequeno e fofíssimo animal.



Em uma hora e vinte acompanhamos o olhar desse burrinho através de sua entrada no mundo dos humanos e suas humanices. O tom fabulesco imprimido pelo realizador Jerzy Skolimowski ajuda a construir uma aura de inocência versus mundo cruel pela ótica desse animal que não se articula em palavras compreensíveis, mas, por outro lado, se comunica, sim, e de maneira tão cativante, que é impossível ao espectador não se conectar com este protagonista. É esta construção de fábula que erege o choque não do mundo pela ótica animal, mas sim do comportamento cruel e completamente bestial desses que se auto-intitulam seres humanos, dotados de consciência e, portanto, de suposta inteligência. 

A crítica que trabalha como fio condutor no roteiro de  Jerzy Skolimowski e Ewa Piaskowska é pesada porque nós, espectadores seres humanos, somos as principais causas dos percalços na jornada de ‘EO’, direta ou indiretamente, mesmo quando achamos estar ajudando ou cuidando. Em muitas camadas, a jornada do animal mostra, acima de tudo, nossa responsabilidade para com os seres da natureza, e, para tal, o filme não se furta em mostrar os altos e baixos, os perigos e glórias, a noite e o dia da vida desse animal solto na natureza e na cidade, com desafios distintos em cada um desses ambientes.

Impactante, intenso e singelo, o que impressiona em ‘EO’ é a quase ausência de diálogos, de modo que todas as emoções da história são passadas através da iluminação, do enquadramento, da trilha sonora, da montagem. ‘EO’ é uma aula de técnica de filmagem e uma carta de amor aos animais. Porém, para chamar a atenção sobre o assunto, faz uso dos animais para filmar seu drama de ficção, também colocando-os sob situações de estresse. Controverso.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Na trama, acompanhamos um burrinho cinza de nome ‘EO’, que vive como atração em uma trupe circense nos arredores da Polônia. Entre números de dança com sua companheira humana Kasandra (Sandra Drzymalska), EO recebe aplausos dos espectadores. Quando a fiscalização bate no local, junto com diversos protestantes em prol dos direitos dos animais, EO e os outros bichinhos são apreendidos e levados dali, cada um recebendo um destino diferente. EO, por sua vez, é levado para longe das pessoas e do sistema de vida ao qual estava acostumado, e, assim, tem início uma inesperada jornada de aventuras e desafios na vida desse pequeno e fofíssimo animal.

Em uma hora e vinte acompanhamos o olhar desse burrinho através de sua entrada no mundo dos humanos e suas humanices. O tom fabulesco imprimido pelo realizador Jerzy Skolimowski ajuda a construir uma aura de inocência versus mundo cruel pela ótica desse animal que não se articula em palavras compreensíveis, mas, por outro lado, se comunica, sim, e de maneira tão cativante, que é impossível ao espectador não se conectar com este protagonista. É esta construção de fábula que erege o choque não do mundo pela ótica animal, mas sim do comportamento cruel e completamente bestial desses que se auto-intitulam seres humanos, dotados de consciência e, portanto, de suposta inteligência. 

A crítica que trabalha como fio condutor no roteiro de  Jerzy Skolimowski e Ewa Piaskowska é pesada porque nós, espectadores seres humanos, somos as principais causas dos percalços na jornada de ‘EO’, direta ou indiretamente, mesmo quando achamos estar ajudando ou cuidando. Em muitas camadas, a jornada do animal mostra, acima de tudo, nossa responsabilidade para com os seres da natureza, e, para tal, o filme não se furta em mostrar os altos e baixos, os perigos e glórias, a noite e o dia da vida desse animal solto na natureza e na cidade, com desafios distintos em cada um desses ambientes.

Impactante, intenso e singelo, o que impressiona em ‘EO’ é a quase ausência de diálogos, de modo que todas as emoções da história são passadas através da iluminação, do enquadramento, da trilha sonora, da montagem. ‘EO’ é uma aula de técnica de filmagem e uma carta de amor aos animais. Porém, para chamar a atenção sobre o assunto, faz uso dos animais para filmar seu drama de ficção, também colocando-os sob situações de estresse. Controverso.

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