terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Escrevendo com Fogo – Documentário Indiano Indicado ao Oscar 2022 Será o Provável Vencedor

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A corrida pelo Oscar 2022 segue à toda! Faltando pouco mais de uma semana para a entrega das estatuetas douradas, e em pleno março, os cinéfilos de plantão estão tentando colocar a lista de indicados em dia, porém, ainda há muitas produções sem previsão de estreia aqui pelo Brasil. Felizmente, entretanto, há distribuidoras que se esforçam em trazer os títulos menos pop para o público nacional, como a Synapse, que traz essa semana para os brasileiros o documentário indiano ‘Escrevendo com Fogo’, indicado desse país ao Oscar 2022 – e fortíssimo candidato a levar o prêmio para casa.

Em um país onde o jornalismo é dominado por homens, o jornal Khabar Lahariya, criado por mulheres da casta Dalit em 2016, chama a atenção. Considerados ‘intocáveis’, os dalits são excluídos do sistema social de castas indianas, e, portanto, não têm acesso a diversos serviços e direitos da Índia. Contra todas as possibilidades, já que vivem em uma zona rural dominada pela violência contra mulher, a repórter Meera e sua equipe de jornalistas quebram paradigmas ao explorar as feridas profundas e complexas da Índia, ao mesmo tempo em que têm que lidar com a realidade dentro de suas próprias casas.

De uma maneira bem impulsiva e aparentemente sem roteiro, ‘Escrevendo com Fogo’ retrata, em uma hora e meia, duas trágicas e evidentes realidades paralelas que, mesmo hoje, em 2022, segue ocorrendo na Índia: a pobreza extrema de boa parte da civilização, reforçada pelas amarras sociais justificadas pelo nome de castas, e a absurda e recorrente exclusão das mulheres em todo e qualquer local.

Esses dois pontos são o que conduzem o filme de Sushmit Ghosh e Rintu Thomas nas muitas situações em que as repórteres se colocam em nome do bom jornalismo. É particularmente emocionante ver, em pleno 2017, quando o grupo de jornalistas ganha celulares com acesso à Internet e precisa aprender a mexer nesses aparelhos para iniciarem o canal do jornal no Youtube, mas, somado à dificuldade de entender o abecedário inglês, uma vez que estas mulheres falam hindi, o que aparentemente parecia ser uma modernização do trabalho, acaba se tornando uma grande dificuldade para muitas.

Através das mãos de Meera Devi, Suneeta Prajapati, Shyamkali Devi e outras quinze repórteres vemos o emprenho de um grupo de mulheres que se une através da incansável vontade de simplesmente desfazer isso que aparentemente parece ser o destino de todas as dalits e conquistar uma profissão, uma ascensão social na vida, lutando contra os estigmas machistas que engessam as mulheres indianas dentro de casa e as impede de trabalhar. Este é o motivo pelo qual provavelmente o documentário levará o Oscar esse ano, mandando o recado para as mulheres do mundo inteiro de que sim, elas têm o direito e podem trabalhar com o que quiserem.

Disponível nas plataformas de aluguel sob demanda, ‘Escrevendo com Fogo’ é um documentário chocante, posto que atual, sobre a normalização das violências contra a mulher em muitos níveis, e tristemente mostra que a realidade da violência é, infelizmente, algo que todas nós temos em comum, independentemente do país em que nascemos.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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A corrida pelo Oscar 2022 segue à toda! Faltando pouco mais de uma semana para a entrega das estatuetas douradas, e em pleno março, os cinéfilos de plantão estão tentando colocar a lista de indicados em dia, porém, ainda há muitas produções sem previsão de estreia aqui pelo Brasil. Felizmente, entretanto, há distribuidoras que se esforçam em trazer os títulos menos pop para o público nacional, como a Synapse, que traz essa semana para os brasileiros o documentário indiano ‘Escrevendo com Fogo’, indicado desse país ao Oscar 2022 – e fortíssimo candidato a levar o prêmio para casa.

Em um país onde o jornalismo é dominado por homens, o jornal Khabar Lahariya, criado por mulheres da casta Dalit em 2016, chama a atenção. Considerados ‘intocáveis’, os dalits são excluídos do sistema social de castas indianas, e, portanto, não têm acesso a diversos serviços e direitos da Índia. Contra todas as possibilidades, já que vivem em uma zona rural dominada pela violência contra mulher, a repórter Meera e sua equipe de jornalistas quebram paradigmas ao explorar as feridas profundas e complexas da Índia, ao mesmo tempo em que têm que lidar com a realidade dentro de suas próprias casas.

De uma maneira bem impulsiva e aparentemente sem roteiro, ‘Escrevendo com Fogo’ retrata, em uma hora e meia, duas trágicas e evidentes realidades paralelas que, mesmo hoje, em 2022, segue ocorrendo na Índia: a pobreza extrema de boa parte da civilização, reforçada pelas amarras sociais justificadas pelo nome de castas, e a absurda e recorrente exclusão das mulheres em todo e qualquer local.

Esses dois pontos são o que conduzem o filme de Sushmit Ghosh e Rintu Thomas nas muitas situações em que as repórteres se colocam em nome do bom jornalismo. É particularmente emocionante ver, em pleno 2017, quando o grupo de jornalistas ganha celulares com acesso à Internet e precisa aprender a mexer nesses aparelhos para iniciarem o canal do jornal no Youtube, mas, somado à dificuldade de entender o abecedário inglês, uma vez que estas mulheres falam hindi, o que aparentemente parecia ser uma modernização do trabalho, acaba se tornando uma grande dificuldade para muitas.

Através das mãos de Meera Devi, Suneeta Prajapati, Shyamkali Devi e outras quinze repórteres vemos o emprenho de um grupo de mulheres que se une através da incansável vontade de simplesmente desfazer isso que aparentemente parece ser o destino de todas as dalits e conquistar uma profissão, uma ascensão social na vida, lutando contra os estigmas machistas que engessam as mulheres indianas dentro de casa e as impede de trabalhar. Este é o motivo pelo qual provavelmente o documentário levará o Oscar esse ano, mandando o recado para as mulheres do mundo inteiro de que sim, elas têm o direito e podem trabalhar com o que quiserem.

Disponível nas plataformas de aluguel sob demanda, ‘Escrevendo com Fogo’ é um documentário chocante, posto que atual, sobre a normalização das violências contra a mulher em muitos níveis, e tristemente mostra que a realidade da violência é, infelizmente, algo que todas nós temos em comum, independentemente do país em que nascemos.

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