terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | ‘Femme Fatale’ reflete a impetuosa ambição de Britney Spears em reinventar a si mesma

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Em uma aparente reconquista dos atributos que a colocaram no topo do mundo, Britney Spears parecia finalmente ter se reencontrado consigo mesma depois de um meltdown causado pela mídia. Com o lançamento de ‘Blackout’ em 2007 e a consecutiva divulgação de Circus dois anos mais tarde, a princesa da música demonstrou um grande apreço pelo gênero pop que explorara no início de sua carreira e aproveitou para acompanhar as tendências que cintilavam na cultura mainstream – abraçando incursões o electro-pop, o synth-pop e o EDM, aglutinando-os em explosivas iterações que caíram no gosto da crítica e do público e reafirmando seu importante status na indústria fonográfica.

Em janeiro de 2011, Spears começou a divulgar seu próximo trabalho, intitulado Femme Fatale. O evocativo título, digno de uma diva que carrega uma coroa tão marcada quanto esta, já preparava os fãs para uma aventura regada a sensualidade, a letras românticas e a uma melancólica tristeza que tomava conta de suas músicas há algum tempo (ora, logo na crítica anterior observamos a apatia da performer em “Out from Under” e “Unusual You”, por exemplo). A diferença é que, com este sétimo álbum de estúdio, Britney soube brincar com os estilos e não entregar o óbvio em termos artísticos – mesmo que algumas investidas não tenham funcionado. O resultado, ainda que inferior a tudo que a cantora havia nos entregue até então, se mantém dançante o suficiente para nos esquecermos dos problemas.

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À época de seu lançamento, Femme Fatale chamou a atenção da crítica pela exuberância de cada faixas e pelo modo como inúmeras expressões instrumentais se fundiram em um microcosmos de puro experimentalismo, um passo a mais em direção à “arte pela arte”, por assim dizer – mas notaram a fraca inspiração dos versos, que nem mesmo a permitiu assinar qualquer uma das canções (com exceção de “Scary”, que não entrou para a versão padrão do disco). Dito isso, é preciso comentar a competência Max Martin, Dr. Luke e Lukasz Gottwald, colaboradores frequentes de Spears, que fizeram o máximo para ao menos tentar arquitetar certo laço dialógico entre as tracks e arrancar sucessos mercadológicos – objetivo que alcançaram com maestria.

O lead single da nova era de Britney ganhou vida através do dance-pop de “Hold It Against Me”. Apesar da multiplicidade gritante de elementos sonoros que se desenrolam pela faixa, tudo é pensado com cautela e, no final das contas, converge para uma significativa mudança de ares para a artista. É claro que o pop chiclete permanece vivo tanto nos drills quanto no refrão e no icônico bridge que nos une a um épico final – exponencialmente alimentado por um belíssimo videoclipe encabeçado por Jonas Åkerlund (realizador que trabalhara com Lady Gaga e Madonna, por exemplo). Em termos líricos, não se vê muita originalidade; pelo contrário, temos a exaltação de um amor carnal e das fases que o acompanham – mas isso não importa: somos engolfados em uma atmosfera arrepiante que nos faz querer dançar até que o mundo acabe.

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O trocadilho aqui é gancho para o segundo single do álbum, que obteve a raridade de se equivaler ao seu predecessor: “Till the World Ends”, funcionando como uma epígrafe electro-dance, é uma narcótica viagem por um submundo pós-apocalíptico impetuoso, movido pelo desejo incontrolável de dançar e de não se importar com os problemas que nos afetam dia após dia. “Você sabe que posso levar isso ao próximo nível, baby” é um clássico verso arrancado de uma nostalgia que retoma Britney e ‘In The Zone’ – mas elevado à décima potência no tocante à contemporaneidade e a uma proposital produção sem limites estéticos. Da mesma maneira, Britney demonstra seu divertimento na controversa “I Wanna Go”, recuperando os hinos de libertação que despertara anos atrás.

À medida que várias das músicas nos chamam a atenção e nos guiam por essa nova jornada da princesa do pop, outras falham em cumprir com o que pretendem e parecem nem mesmo saber de que maneira fazer isso. O principal obstáculo que enfrentam é a edição e a incapacidade de perceberam o próprio exagero – e aqui cito as distorções desnecessárias de “He About to Lose Me” ou o flerte equivocado do house com “Big Fat Bass” (uma inexplicável conjunção de Britney com will.i.am, do grupo Black Eyed Peas). Outras recorrem a um empírico desbravamento que poderia ser mais bem resguardado, como a sutileza urgente de “Gasoline” ou o saudoso pop-rock da subestimada “Don’t Keep Me Waiting”, que merecia um espaço de maior destaque no disco. “Selfish” é outra das tracks que foi erroneamente deixada de lado, visto que é uma das melhores entradas de Femme Fatale, seja pela familiaridade de sua progressão, seja pelas mensagens subliminares que se escondem em seus versos.

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É quase irrelevante comentar a beleza irretocável de “Criminal”, semi-balada que, na versão padrão do álbum, finaliza essa jornada com toque de ouro. A narrativa se afasta dos convencionalismos imortalizados por Spears ao longo da carreira e traz Martin de volta à forma; talvez o aspecto que mais nos chame a atenção seja o fato da iteração não ser tão agressiva quanto suas conterrâneas e refletir a vulnerabilidade que tanto amamos na cantora.

Femme Fatale sofre de males que vinham despontando no cenário mainstream desde o final dos anos 2000 – a demanda pela qual Britney Spears se sente obrigada a cumprir: provar que consegue se manter à frente de uma violenta indústria sem ser apagada por novos artísticas (ou seja, algo que ela não percebe que não precisa fazer).

Nota por faixa:

1. Till the World Ends – 5/5
2. Hold It Against Me – 5/5
3. Inside Out – 3,5/5
4. I Wanna Go – 4/5
5. How I Roll – 2/5
6. (Drop Dead) Beautiful (feat. Sabi) – 3/5
7. Seal It with a Kiss – 3,5/5
8. Big Fat Bass (feat. will.i.am) – 2/5
9. Trouble for Me – 3,5/5
10. Trip to Your Heart – 3/5
11. Gasoline – 4,5/5
12. Criminal – 5/5
13. Up n’ Down – 2,5/5
14. He About to Lose Me – 2,5/5
15. Selfish – 4,5/5
16. Don’t Keep Me Waiting – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em janeiro de 2011, Spears começou a divulgar seu próximo trabalho, intitulado Femme Fatale. O evocativo título, digno de uma diva que carrega uma coroa tão marcada quanto esta, já preparava os fãs para uma aventura regada a sensualidade, a letras românticas e a uma melancólica tristeza que tomava conta de suas músicas há algum tempo (ora, logo na crítica anterior observamos a apatia da performer em “Out from Under” e “Unusual You”, por exemplo). A diferença é que, com este sétimo álbum de estúdio, Britney soube brincar com os estilos e não entregar o óbvio em termos artísticos – mesmo que algumas investidas não tenham funcionado. O resultado, ainda que inferior a tudo que a cantora havia nos entregue até então, se mantém dançante o suficiente para nos esquecermos dos problemas.

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À época de seu lançamento, Femme Fatale chamou a atenção da crítica pela exuberância de cada faixas e pelo modo como inúmeras expressões instrumentais se fundiram em um microcosmos de puro experimentalismo, um passo a mais em direção à “arte pela arte”, por assim dizer – mas notaram a fraca inspiração dos versos, que nem mesmo a permitiu assinar qualquer uma das canções (com exceção de “Scary”, que não entrou para a versão padrão do disco). Dito isso, é preciso comentar a competência Max Martin, Dr. Luke e Lukasz Gottwald, colaboradores frequentes de Spears, que fizeram o máximo para ao menos tentar arquitetar certo laço dialógico entre as tracks e arrancar sucessos mercadológicos – objetivo que alcançaram com maestria.

O lead single da nova era de Britney ganhou vida através do dance-pop de “Hold It Against Me”. Apesar da multiplicidade gritante de elementos sonoros que se desenrolam pela faixa, tudo é pensado com cautela e, no final das contas, converge para uma significativa mudança de ares para a artista. É claro que o pop chiclete permanece vivo tanto nos drills quanto no refrão e no icônico bridge que nos une a um épico final – exponencialmente alimentado por um belíssimo videoclipe encabeçado por Jonas Åkerlund (realizador que trabalhara com Lady Gaga e Madonna, por exemplo). Em termos líricos, não se vê muita originalidade; pelo contrário, temos a exaltação de um amor carnal e das fases que o acompanham – mas isso não importa: somos engolfados em uma atmosfera arrepiante que nos faz querer dançar até que o mundo acabe.

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O trocadilho aqui é gancho para o segundo single do álbum, que obteve a raridade de se equivaler ao seu predecessor: “Till the World Ends”, funcionando como uma epígrafe electro-dance, é uma narcótica viagem por um submundo pós-apocalíptico impetuoso, movido pelo desejo incontrolável de dançar e de não se importar com os problemas que nos afetam dia após dia. “Você sabe que posso levar isso ao próximo nível, baby” é um clássico verso arrancado de uma nostalgia que retoma Britney e ‘In The Zone’ – mas elevado à décima potência no tocante à contemporaneidade e a uma proposital produção sem limites estéticos. Da mesma maneira, Britney demonstra seu divertimento na controversa “I Wanna Go”, recuperando os hinos de libertação que despertara anos atrás.

À medida que várias das músicas nos chamam a atenção e nos guiam por essa nova jornada da princesa do pop, outras falham em cumprir com o que pretendem e parecem nem mesmo saber de que maneira fazer isso. O principal obstáculo que enfrentam é a edição e a incapacidade de perceberam o próprio exagero – e aqui cito as distorções desnecessárias de “He About to Lose Me” ou o flerte equivocado do house com “Big Fat Bass” (uma inexplicável conjunção de Britney com will.i.am, do grupo Black Eyed Peas). Outras recorrem a um empírico desbravamento que poderia ser mais bem resguardado, como a sutileza urgente de “Gasoline” ou o saudoso pop-rock da subestimada “Don’t Keep Me Waiting”, que merecia um espaço de maior destaque no disco. “Selfish” é outra das tracks que foi erroneamente deixada de lado, visto que é uma das melhores entradas de Femme Fatale, seja pela familiaridade de sua progressão, seja pelas mensagens subliminares que se escondem em seus versos.

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É quase irrelevante comentar a beleza irretocável de “Criminal”, semi-balada que, na versão padrão do álbum, finaliza essa jornada com toque de ouro. A narrativa se afasta dos convencionalismos imortalizados por Spears ao longo da carreira e traz Martin de volta à forma; talvez o aspecto que mais nos chame a atenção seja o fato da iteração não ser tão agressiva quanto suas conterrâneas e refletir a vulnerabilidade que tanto amamos na cantora.

Femme Fatale sofre de males que vinham despontando no cenário mainstream desde o final dos anos 2000 – a demanda pela qual Britney Spears se sente obrigada a cumprir: provar que consegue se manter à frente de uma violenta indústria sem ser apagada por novos artísticas (ou seja, algo que ela não percebe que não precisa fazer).

Nota por faixa:

1. Till the World Ends – 5/5
2. Hold It Against Me – 5/5
3. Inside Out – 3,5/5
4. I Wanna Go – 4/5
5. How I Roll – 2/5
6. (Drop Dead) Beautiful (feat. Sabi) – 3/5
7. Seal It with a Kiss – 3,5/5
8. Big Fat Bass (feat. will.i.am) – 2/5
9. Trouble for Me – 3,5/5
10. Trip to Your Heart – 3/5
11. Gasoline – 4,5/5
12. Criminal – 5/5
13. Up n’ Down – 2,5/5
14. He About to Lose Me – 2,5/5
15. Selfish – 4,5/5
16. Don’t Keep Me Waiting – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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