Harlan Coben é um excelente escritor de suspense. Seus livros, totalmente cinematográficos, são do tipo que você vira as páginas sem parar, louco para saber o final. Não é de se admirar que o escritor, que adora o Brasil, tenha passado a ter seus livros adaptados para o audiovisual já a partir de 2015 – inclusive, passou a escrever também para esse formato –, a maioria dos quais se tornou produções da Netflix. Até por isso, um de seus livros de maior sucesso, ‘Fique Comigo’, recebeu a responsabilidade de ser o entretenimento da virada de ano na plataforma, disponibilizado literalmente no último dia de 2021 aos assinantes.
Megan (Cush Jumbo) está prestes a se casar com o homem que ama e pai de seus filhos, com quem divide uma vida há dezessete anos. Mas antes dessa vida de perfeita dona de casa, Megan era Cassie, dançarina da boite que provocou o amor e a obsessão de dois homens: Ray Levine (Richard Armitage, o mesmo que foi protagonista de ‘The Stranger’, outra série de Harlan Coben) e Stewart Green (Rod Hunt). Quando, nesse passado, Stewart Green aparece morto, Cassie vê neste episódio a chance de fugir de todo esse cenário e recomeçar em outro lugar, com uma nova vida e uma nova identidade. Porém, o passado mal resolvido encontra sua forma de achar Megan, e agora, às vésperas de seu casamento, ela terá que tomar importantes decisões para proteger a sua família.
Inspirado no livro homônimo de Harlan Coben, ‘Fique Comigo’ traz uma boa dose de suspense whodunit (quem é o culpado?), com personagens que vão se desfolhando à medida que o enredo avança. O roteiro do próprio autor com sua filha Charlotte Coben e com Daniel Brocklehurst e Victoria Asare-Archer adapta bem a trama do livro, mas dá uma cansada especialmente no tão necessário alívio cômico – que recai sobre a dupla de assassinos-dançarinos, o chefe da polícia que insiste em fazer números de mágica e sobre a detetive auxiliar. Esta personagem, aliás, é construída de maneira tão androcêntrica, que só entra em cena para entregar pistas a Boome (James Nesbitt), dirigir o carro pra ele, cuidar do próprio filho e se interessar pela vida amorosa do ex-marido e atual parceiro de trabalho, Boome. Disfarçado de relacionamento desconstruidão, essa personagem é construída de maneira a continuar servindo ao ex-marido, através do disfarce da comicidade, pois ela está sempre muito amável e sorridente perto dele. Eu hein. O diretor Daniel O’Hara podia ter revisto isso daí hein.
Em apenas oito episódios de aproximadamente cinquenta minutos cada, a primeira temporada de ‘Fique Comigo’ fecha seu ciclo com uma história bem contada e com um final satisfaz o espectador que investiu quase oito horas neste entretenimento. Embora seja uma série (ou seja, teremos mais temporadas, se forem confirmadas pela Netflix), esta primeira parte entrega uma história completa, com quase todos os pontos solucionados e ainda consegue deixar uns dois ganchos em abertos para uma possível segunda parte – mas que, caso não aconteça, não deixa o espectador sem respostas. Então, é um bom investimento de entretenimento para aqueles que curtem um suspense instigante e bem feito.