sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | Francis Lawrence acerta MAIS UMA VEZ com ‘Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’

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São poucas as pessoas que nunca ouviram falar da franquia Jogos Vorazes.

Criada por Suzanne Collins, a saga literária dominou as listas de vendas ao redor do mundo desde seu lançamento em 2009 e eternizou um cosmos distópico conhecido como Panem – uma reimaginação trágica da América do Norte após uma guerra civil ter devastado o continente e ter dividido a população entre os vitoriosos, exilados na Capital; e os perdedores, espalhados por doze Distritos que deveriam entregar, todo ano, um casal de crianças ou adolescentes para competirem em um massacre cruel e puramente pautado no espetáculo social. Pouco depois, a narrativa foi levada aos cinemas, consagrando-se como uma quadrilogia de sólido sucesso crítico e comercial guiada pela aplaudida performance de Jennifer Lawrence como a protagonista Katniss Everdeen.



Agora, oito anos depois da estreia do último capítulo da saga original, Collins e a Lionsgate nos convidam a revisitar Panem com o vindouro Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. A trama, ambientada sessenta e quatro anos antes de Katniss, nos arremessa para os primórdios dos Jogos Vorazes e para a ascensão de Coriolanus Snow (aqui interpretado por Tom Blyth) como presidente de Panem e como o impiedoso homem que transformou a vida de Katniss e dos habitantes dos Distritos em um pesadelo sem fim. Todavia, o enredo é centrado em um jovem Snow que, morando ao lado da prima, Tigris (Hunter Schafer), e da avó, tem como único objetivo conquistar um considerável prêmio em dinheiro para salvar a reputação da família e tirá-la de um poço de desonra e esquecimento em que fora deixada.

Todavia, as coisas não saem como o planejado: no dia da formatura, em que poderia jurar que servia condecorado com a honraria, ele e seus colegas são surpreendidos quando o Reitor Casca Highbottom (Peter Dinklage) anuncia que o prêmio não será entregue naquele ano. Em vez disso, os estudantes que mais se destacaram foram eleitos mentores dos tributos da próxima edição dos Jogos, ficando responsáveis por recuperar a audiência e aumentar as expectativas de uma competição mergulhada em sangue e sacrifício. E, considerando que Casca não tem um bom relacionamento com a família Snow, ele destina Coriolanus como responsável pelo tributo feminino do Distrito 12, Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), jovem que faz parte de um grupo de artistas itinerantes que não aparenta ter qualquer qualidade para sobreviver ao massacre.

Diferente do que muitos poderiam pensar, o longa-metragem é arquitetado de tal maneira a superar as expectativas e funcionar como uma ótima adaptação do romance (ainda que seja obrigada a cortar várias partes da história), guiada por performances incríveis e uma paixão notável do diretor Francis Lawrence pelo universo que é convidado a revisitar. Afinal, Lawrence foi responsável pela melhor entrada da saga, ‘Em Chamas’ – o que significa que ele tinha todos os elementos para nos envolver em uma explosiva artimanha de traição, confiança, vingança e amor da melhor maneira possível. E, apesar dos breves deslizes, é exatamente o que ele nos entrega.

É notável como o primeiro ato é o mais “problemático”, por assim dizer: Lawrence sabe que não precisa introduzir elementos desse cosmos, visto que eles já foram mostrados no filme de 2012. Entretanto, considerando que voltamos no tempo em quase sete décadas, certos elementos precisam ser relembrados para que o público acompanhe a história sem se confundir com os múltiplos acontecimentos. É a partir daí que o cineasta, em colaboração com os roteiristas Michael Lesslie e Michael Arndt, condensa a extensa narrativa de Collins e, por essa razão, acaba pecando no desenvolvimento do arco entre Lucy Gray e Coriolanus e prezando por um ritmo frenético demais que é ajustado no segundo ato e na conclusão (esta marcada por uma forte presença do drama e do suspense, seguindo de perto a condução promovida pela autora.

As grandes estrelas do projeto são Zegler e Blyth. Blyth tem uma habilidade invejável de criar sua própria versão de Snow à medida que pega elementos que nos recordam da performance de Donald Sutherland na quadrilogia original – e delineando um entreposto entre um Coriolanus marcado pelos traumas da guerra e outro letárgico e psicótico, desesperançoso quanto a si mesmo e quanto a um prospecto de melhora entre a Capital e os Distritos. Zegler, por sua vez, encarna Lucy Gray com majestade, mostrando que estudou cada um dos diálogos do livro e que abraçou a personagem com zelo e respeito – além de reiterar sua imensa habilidade vocal com rendições musicais de tirar o fôlego.

Além da dupla, temos a forte presença de Dinklage como Casca Highbottom, como já mencionado. A construção do personagem é soberba em todos os aspectos, colocando-o como um homem que fez inúmeras escolhas erradas e, impotente à condição de mudar o curso da história, rende-se a opioides para conviver com uma dor contínua e crescente. E, como a cereja do bolo, Viola Davis nos presenteia com um tour-de-force dilacerante como a Dra. Volumnia Gaul, idealizadora da 10ª edição dos Jogos e defensora ferrenha do abismo entre a Capital e os Distritos – não pensando duas vezes antes de demonstrar seu completo desprezo pelos rebeldes e por aqueles que compactuam com seus ideários “destrutivos” e “antipatrióticos”.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma ótima adição ao universo Jogos Vorazes, mantendo-se fiel às características dos filmes anteriores e procurando reunir o melhor de cada um deles em uma exploração sociopolítica de opressão e de submissão. Lawrence acerta mais uma vez com o projeto e permite que Zegler e Blyth demonstrem todo seu poder performático em uma celebratória e nostálgica aventura.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Criada por Suzanne Collins, a saga literária dominou as listas de vendas ao redor do mundo desde seu lançamento em 2009 e eternizou um cosmos distópico conhecido como Panem – uma reimaginação trágica da América do Norte após uma guerra civil ter devastado o continente e ter dividido a população entre os vitoriosos, exilados na Capital; e os perdedores, espalhados por doze Distritos que deveriam entregar, todo ano, um casal de crianças ou adolescentes para competirem em um massacre cruel e puramente pautado no espetáculo social. Pouco depois, a narrativa foi levada aos cinemas, consagrando-se como uma quadrilogia de sólido sucesso crítico e comercial guiada pela aplaudida performance de Jennifer Lawrence como a protagonista Katniss Everdeen.

Agora, oito anos depois da estreia do último capítulo da saga original, Collins e a Lionsgate nos convidam a revisitar Panem com o vindouro Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. A trama, ambientada sessenta e quatro anos antes de Katniss, nos arremessa para os primórdios dos Jogos Vorazes e para a ascensão de Coriolanus Snow (aqui interpretado por Tom Blyth) como presidente de Panem e como o impiedoso homem que transformou a vida de Katniss e dos habitantes dos Distritos em um pesadelo sem fim. Todavia, o enredo é centrado em um jovem Snow que, morando ao lado da prima, Tigris (Hunter Schafer), e da avó, tem como único objetivo conquistar um considerável prêmio em dinheiro para salvar a reputação da família e tirá-la de um poço de desonra e esquecimento em que fora deixada.

Todavia, as coisas não saem como o planejado: no dia da formatura, em que poderia jurar que servia condecorado com a honraria, ele e seus colegas são surpreendidos quando o Reitor Casca Highbottom (Peter Dinklage) anuncia que o prêmio não será entregue naquele ano. Em vez disso, os estudantes que mais se destacaram foram eleitos mentores dos tributos da próxima edição dos Jogos, ficando responsáveis por recuperar a audiência e aumentar as expectativas de uma competição mergulhada em sangue e sacrifício. E, considerando que Casca não tem um bom relacionamento com a família Snow, ele destina Coriolanus como responsável pelo tributo feminino do Distrito 12, Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), jovem que faz parte de um grupo de artistas itinerantes que não aparenta ter qualquer qualidade para sobreviver ao massacre.

Diferente do que muitos poderiam pensar, o longa-metragem é arquitetado de tal maneira a superar as expectativas e funcionar como uma ótima adaptação do romance (ainda que seja obrigada a cortar várias partes da história), guiada por performances incríveis e uma paixão notável do diretor Francis Lawrence pelo universo que é convidado a revisitar. Afinal, Lawrence foi responsável pela melhor entrada da saga, ‘Em Chamas’ – o que significa que ele tinha todos os elementos para nos envolver em uma explosiva artimanha de traição, confiança, vingança e amor da melhor maneira possível. E, apesar dos breves deslizes, é exatamente o que ele nos entrega.

É notável como o primeiro ato é o mais “problemático”, por assim dizer: Lawrence sabe que não precisa introduzir elementos desse cosmos, visto que eles já foram mostrados no filme de 2012. Entretanto, considerando que voltamos no tempo em quase sete décadas, certos elementos precisam ser relembrados para que o público acompanhe a história sem se confundir com os múltiplos acontecimentos. É a partir daí que o cineasta, em colaboração com os roteiristas Michael Lesslie e Michael Arndt, condensa a extensa narrativa de Collins e, por essa razão, acaba pecando no desenvolvimento do arco entre Lucy Gray e Coriolanus e prezando por um ritmo frenético demais que é ajustado no segundo ato e na conclusão (esta marcada por uma forte presença do drama e do suspense, seguindo de perto a condução promovida pela autora.

As grandes estrelas do projeto são Zegler e Blyth. Blyth tem uma habilidade invejável de criar sua própria versão de Snow à medida que pega elementos que nos recordam da performance de Donald Sutherland na quadrilogia original – e delineando um entreposto entre um Coriolanus marcado pelos traumas da guerra e outro letárgico e psicótico, desesperançoso quanto a si mesmo e quanto a um prospecto de melhora entre a Capital e os Distritos. Zegler, por sua vez, encarna Lucy Gray com majestade, mostrando que estudou cada um dos diálogos do livro e que abraçou a personagem com zelo e respeito – além de reiterar sua imensa habilidade vocal com rendições musicais de tirar o fôlego.

Além da dupla, temos a forte presença de Dinklage como Casca Highbottom, como já mencionado. A construção do personagem é soberba em todos os aspectos, colocando-o como um homem que fez inúmeras escolhas erradas e, impotente à condição de mudar o curso da história, rende-se a opioides para conviver com uma dor contínua e crescente. E, como a cereja do bolo, Viola Davis nos presenteia com um tour-de-force dilacerante como a Dra. Volumnia Gaul, idealizadora da 10ª edição dos Jogos e defensora ferrenha do abismo entre a Capital e os Distritos – não pensando duas vezes antes de demonstrar seu completo desprezo pelos rebeldes e por aqueles que compactuam com seus ideários “destrutivos” e “antipatrióticos”.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma ótima adição ao universo Jogos Vorazes, mantendo-se fiel às características dos filmes anteriores e procurando reunir o melhor de cada um deles em uma exploração sociopolítica de opressão e de submissão. Lawrence acerta mais uma vez com o projeto e permite que Zegler e Blyth demonstrem todo seu poder performático em uma celebratória e nostálgica aventura.

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