Teoricamente bebendo da mesma fonte, Freeridge caminha sob a sombra da cativante comédia dramática On My Block, reprisando a mesma estética, diante de um mesmo esqueleto narrativo que pouco se distingue da produção original. Entre semelhanças e pequenas mudanças, a nova série do trio Lauren Iungerich, Jamie Dooner e Eddie Gonzalez tem em seu horizonte a expectativa de suprir o vazio deixado pela original – que contou com quatro temporadas. Mas sem o mesmo tempero cômico e profundidade que se tornaram a marca registrada da antecessora, a nova tentativa da Netflix de reavivar OMB é apenas um compilado de vergonhas alheias, atuações ruins e falta de carisma em todos os aspectos.
A beleza por trás de On My Block vai além de sua abordagem juvenil de uma pequena comunidade latina dentro dos Estados Unidos. Com personagens mais complexos, dilemas familiares e a pressão do gueto que tenta tragar a juventude diariamente para a criminalidade, essa é uma dramédia que sabe unir a imaginativa mente dos adolescentes com a dura realidade de um contexto social esquecido pelos governantes. Já Freeridge peca por não beber dessa mesma fonte, que fez de sua série materna a ótima jornada que foi. Com personagens extremamente caricatos e sem qualquer tipo de profundidade, a produção é incapaz de construir protagonistas que exalem carisma. Ao invés disso, ela nos ofende com seus tropos repetitivos de Hollywood, que reforçam estereótipos preconceituosos e vulgares.
Com censura +12, a produção teoricamente se encaixa dentro do escopo PG-13, mas não poderia estar mais longe. Hipersexualizando seus protagonistas adolescentes com excessivas conversas e piadas sobre sexo, Freeridge faz o que muitas vezes temos visto em Hollywood: adultização e vulgarização da infância e adolescência, vendendo uma cultura e comportamentos perigosos para uma audiência incapaz de lidar com as consequências de uma sexualidade hiper aflorada no auge de seus 12-13 anos. Sem qualquer responsabilidade com seu público, Freeridge reduz seus protagonistas a objetos vulgares e esquece de contar uma boa história. Com uma premissa fraca – “uma caixa misteriosa que pode trazer uma maldição” -, a original Netflix é incapaz de tirar proveito dos melhores aspectos de On My Block e ainda nos exige uma paciência monstruosa para suportar um grupo juvenil tão intragável.
Com o papel de maior destaque e carisma sendo exatamente do coadjuvante Rusty (Michael Solomon), Freeridge é infelizmente uma oportunidade perdida. Ainda que tente pincelar algumas questões mais dramáticas e delicadas, o roteiro não consegue sustentar a densidade dos problemas apresentados, reduzindo-os a pseudo esquetes cafonas, que não convidam a audiência para a dor de seus personagens. E sem qualquer identificação, eles passam despercebidos diante dos nossos olhos, como rascunhos assombrosos de protagonistas que poderiam ser reais. Apelando ainda para estereótipos latinos e até mesmo LGBTQIA+, a série reforça caricaturas preconceituosas como “a latina de sangue quente” e o “gay espalhafatoso”, à medida em que flerta com um sincretismo religioso, usando-no como uma muleta para justificar os diversos furos em sua trama.
Rasa em sua proposta, sem clímax e com uma construção de personagem irregular e até mesmo desconexa, a derivada de On My Block se apropria de seu nome para vender um produto sem rótulo, sem identidade e sem propósito. Com oito episódios mal desenvolvidos em sua temporada de estreia, Freeridge abre mão dos detalhes mais cativantes de sua série original, tornando seu resultado uma cópia mal feita. Com a mesma montagem dinâmica que se tornou a marca registrada da franquia, a mais nova original Netflix ainda assim consegue ser lenta, mal elaborada e pouco desenvolvida. Em capítulos que começam de qualquer lugar para chegar a lugar nenhum, Freeridge é a prova de quem nem toda boa história merece um spin-off.