Dev Patel. Talvez parte do público espectador não ligue o nome à pessoa, mas Dev Patel é um ator que começou muito jovem sua carreira no cinema. Seu primeiro grande papel foi no protagonismo de ‘Quem Quer Ser um Milionário’, que simplesmente levou 8 Oscars ano de 2009. Ele também estrelou ‘Lion: Uma Jornada Para Casa’, que recebeu 6 indicações ao prêmio em 2017.
Isso abriu portas para o jovem ator londrino de ascendência indiana, e, de certa forma, fez com que a indústria do cinema do eixo nórdico se voltasse (ou se lembrasse) da maior indústria cinematográfica do mundo: Bollywood, a indústria indiana. De lá para cá o ator virou produtor, trabalhou com grandes diretores como Wes Anderson e consolidou uma vasta experiência que o provocou a dar um passo a mais na carreira: diretor de longa-metragem.
É sob este nome que ele assina a produção ‘Fúria Primitiva’, que chegou essa semana aos cinemas brasileiros.
Bobby (Dev Patel) não tem mais nada a perder. Ele luta em ringues clandestinos por Mumbai, disfarçado pelo codinome Homem-Macaco, mas, basicamente, ganha para perder. Mas Bobby tem um objetivo: conseguir se infiltrar na organização da mafiosa Queenie (Ashwini Kalsekar) para, assim, se aproximar do capitão da segurança pública, Rana (Sikandar Kher) e do líder religioso Baba Shakti (Makrand Deshpande) para realizar sua vingança contra eles, pois, quando era criança, os dois se envolveram numa ação criminosa que culminara pelo assassinato de sua mãe. Sem nome, sem paradeiro e com sangue nos olhos, Bobby não medirá esforços até vingar a morte de sua mãe, custe o que custar.
Sem esconder sua grande inspiração, a história de Dev Patel literalmente explana sua maior referência: a franquia ‘John Wick’. Nesse sentido, é como se estivéssemos vendo um “John Wick indiano”, passado nas conturbadas ruas de Mumbai, com o mesmo anti-herói sedento por vingança, que resolve tudo no soco e tem afeto especial por cãezinhos.
Porém, ‘Fúria Primitiva’ vai além: ao contrário da franquia estrelada por Keanu Reeves, que foca apenas no protagonista e sua motivação, em ‘Fúria Primitiva’ há todo um panorama cultural dando background ao argumento simples. Dessa forma, o roteiro de Dev Patel, John Collee e Paul Angunawela faz questão de colocar a cultura do país mais populoso do mundo como elemento crucial no enredo, tornando a história do filme única porque só poderia ter se passado ali.
Participam da produção a culinária, as hijras (mulheres trans que têm o poder místico de abençoar ou amaldiçoar as pessoas; elas possuem templos só para elas, mas sofrem muita violência e discriminação), a música (desde as regionais às mais eletrônicas), as locações (ruas empobrecidas de Mumbai e prédios de alto luxo da cidade), os deuses das muitas religiões locais, entre outros elementos. Há, assim, um segundo filme em segundo plano.
Para além de John Wick, ‘Fúria Primitiva’ rememora clássicos do gênero de filmes de ação, principalmente aqueles dos anos 1970/1980, estrelados por Bruce Lee, Van Damme, Stallone e Chuck Norris. Quem é fã do gênero rapidamente encontrará esses paralelos, que são somados a uma edição e uma montagem frenéticas, que conferem agilidade às intensas cenas de luta e de perseguição.
Com fortes chances de ser indicado ao Oscar, ‘Fúria Primitiva’ é um filmaço de ação que traz o universo indiano sob uma narrativa ocidental, e pouco Bollywood. Talvez por isso sua grande aceitação de público e crítica. De todo modo, ‘Fúria Primitiva’ é pedido para ser visto em tela muito grande com ótimo som, porque te prende do começo ao fim sem conseguir soltar o ar de tanta tensão. Uma estreia que consolida a brilhante carreira do jovem Dev Patel.