Diferente dos outros filmes da franquia, Furiosa – Uma Saga Mad Max é construído para ser uma ópera mítica em cinco atos, contando desde a infância o percurso da poderosa mulher de um braço presente no premiado Mad Max: Estrada da Fúria (2015). Acostumado às sequências de ação aceleradas, George Miller segura um pouco as explosões para concentrar-se nas artimanhas e vivências da sua heroína, desta vez vivida por Anya Taylor-Joy na adolescência.
Descoberta no Vale Verde, um dos poucos lugares dessa devastada terra desértica ainda em harmonia e, como dito no roteiro, em abundância de recursos, a pequena Furiosa (vivida por Alyla Browne) é capturada por aventureiros sob domínio de Dementus (Chris Hemsworth). Sua saúde e aparência tornam-se objeto de interesse em um reino onde mulheres são escassas e mantidas em cativeiro para procriação, mas poucas conseguem gerar crianças saudáveis.
Embora tenhamos um vislumbre do Vale Verde, o local ainda é um mistério neste filme e pode ser algo ainda a ser explorado pela franquia. O primeiro ato é o rapto da menina e busca da sua mãe para recuperá-la. Ao arriscar sua vida nessa perigosa missão, a progenitora deixa uma promessa em forma de semente a ser regada com dor e lágrimas por toda a vida da filha. Assim como o herói Max do primeiro filme, ela vê-se incapaz de continuar sem completar a sua vingança.
Figura principal da promoção da obra, Anya Taylor-Joy aparece somente depois da primeira hora de projeção. Depois que a sua versão juvenil já passou de bibelô de Dementus e a objeto de desejo de Rictus Erectus (Nathan Jones), filho do maligno Immortan Joe (Lachy Hulme), vivido anteriormente por Hugh Keays-Byrne — falecido em dezembro de 2020. A sensação é de uma reencontro com esses personagens e ambientes, nos quais nos aprofundamos na dinâmica de governança caótica da região de Desolação.
Quando Chris Hemsworth aparece em tela os vemos transformado em sua fisionomia para uma imposição mais dura de um imperador tirano da Idade Média, o qual nos remete — apenas fisicamente — a Peter O’Toole em Lawrence da Arabia (1962), mas também cômico com seu ursinho à tiracolo. Com tantos homens brigando pelo poder, Furiosa consegue escapar de seus carrascos embaixo dos seus próprios olhos e tornar-se indispensável para continuar viva.
Os momentos mais impactantes dessa aventura são guardados para os dois atos finais. Um deles é o encontro entre os personagens Furiosa e Praetorian Jack (Tom Burke). Ele torna-se um admirador da sua jornada e, portanto, um par na busca do seu ideal de encontrar o caminho de volta para casa, a terra prometida.
Ainda que as cenas não tenham a grandeza dos acordes musicais com as sequências de batalha de tirar o fôlego do seu antecessor, Furiosa – Uma Saga Mad Max tem o objetivo de nos colocar no coração e na mente de uma personagem já conhecida. Um dos momentos mais esperados, portanto, é como Furiosa perdeu o braço e, em seguida, o transformou em arma.
O primeiro momento é um choque rápido e pouco impactante, porém a perda é encenada em duas sequências. A segunda é emblemática para demonstração da força e da ambição da personagem. Em tempo, Anya Taylor-Joy convence com o desenvolvimento da força jovem e em pulsão para tornar-se a fera vivida por Charlize Theron em 2015.
Nomeado como “Para além da Vingança”, o quinto ato e último ato fecha um dos ciclos da personagem e dá início a outro: o mito. Dessa forma, Furiosa – Uma Saga Mad Max amarra as pontas perfeitamente entre o seu final e o início do seu percurso de modo que as próximas gerações devem começar por este filme, depois o de 2015 e, posteriormente, assistir a cronologia original dos anos 1980.