UM EPISÓDIO PERFEITO TERIA ALGUM DEFEITO?
O quarto episódio desta 7ª temporada de Game Of Thrones – GoT já é tratado por muito como um dos melhores de toda a série. Pessoalmente, este episódio deve fica no meu top 10 (ou top 20). O desfecho do episódio foi muito responsável pela excelente impressão que deixou no público. Diferentemente da batalha dos bastardos, na qual acompanhamos todos os seus preparativos, a batalha dos espólios surge de supetão. E sua intensidade também foi diferente.
Comparando as duas, notamos que a batalha dos bastardos teve um andamento dilatado e um episódio que foi preparando o público para o grande momento. Há na batalha dos bastardos várias linhas de tensões que são costuradas para compor o tecido da luta. Na batalha dos espólios, o episódio não faz grandes preparativos para o que virá e a ação é mais concentrada, com menos linhas de tensões e uma maior escala mais da ação. Na batalha dos bastardos, por exemplo, temos a morte de Rickon Stark, Jon Snow sendo sufocado, a chegada de Sansa, a luta mano a mano de Jon com Ramsey. Na dos espólios, esses pontos de tensões são rareados: temos o começo da batalha; Bronn (Jerome Flynn) manejando aquela grande lança; a cavalgada de Jaime, e mais um ou outro ponto de tensão breve.
Se a batalha dos espólios tem menos linhas de tensões do que a dos bastardos, ela ganhou em intensidade. É como se, ao invés de recebermos vários socos no estômago, recebêssemos um tiro no peito. Ela também foi mais grandiosa, sua escala é maior, por motivos óbvios: a presença de um dragão faz qualquer briga de vizinha ser épica!
Apesar dessa grandiosidade, a batalha dos espólios manteve uma qualidade presente na dos bastardos: o sofrimento, a tensão, o medo e a crueza que a luta impõe aos homens é palpável. Se na dos bastardos sentimos como se a lama nos sujasse, na dos espólios, vimos o medo nos olhos dos soldados com a chegada dos Dothrakis e, principalmente, pela primeira vez, vimos as consequência do fogo de dragão provoca. Já estávamos acostumados a ver corpos sendo queimados, contudo, de forma genérica. Desta vez, vimos o desespero de homens buscando água para apagar o fogo, escutamos os seus gritos de dor, e sentimos passar em nossos rostos as cinzas dos corpos carbonizados. Agora entendemos o alerta de Tyrion (Peter Dinklage) sobre atacar Porto Real com dragões.
Outro mérito deste episódio foi o sábio uso do CGI. Além do natural aprimoramento dos dragões ao longo da série, o diretor procurar mascarar a computação gráfica. Notem que a câmera não se demorava demais em cima de Drogon. Em vários momentos, ele é inserido num plano aberto e em outros, no qual ele está mais próximo, a fumaça logo o encobre. São mecanismos que a direção usa para dificultar que nossos olhos notem o CGI.
Uma batalha tão intensa colocada no final do episódio, fica clara que a proposta do roteiro de deixar o público extasiado durante os créditos. Em tempos de reder sociais, esse êxtase é importante para que o público comente e produza muitos memes. Essa técnica de encerrar uma narrativa de forma espetacular é também muito usada para disfarçar um desenvolvimento ruim: se um filme tem um andamento chinfrim, a conclusão épica deixa uma boa impressão, impedindo ou retardando que o público note os defeitos.
Claro, este não foi o caso aqui. Este quarto episódio beirou a perfeição. Em casos assim, um final épico apenas a boa experiência do público. E, ao menos para este crítico, o momento mais emocionante do episódio foi a chegada de Arya (Maisie Williams) em Winterfell.
Arya é a minha personagem favorita. O seu retorno foi um deleite para mim, um dos que mais me emocionaram em GoT. E interessante pensar em como a série produziu essa emoção. Para começar, como tantos outros personagens, Arya tem um arco dramático forte. Ela começou como uma garota, digamos, indomável, e se tornou um mulher complexa, com uma personalidade na qual o claro e o obscuro convivem uma relação perigosamente íntima. Todos os altos e baixos pelos quais ela passou voltam às nossas memórias, fazendo com que a gente se importe com ela. Todo o medo que sentimos dela entrar na lista de mortos do Titio Martin foi recompensado quando a vimos em casa. E a sequência em si foi boa: a câmera subjetiva em movimento panorâmico passeando por Winterfell, o encontro das irmãs na frente da estátua do pai, a luta com Brienne (Gwendoline Christie), suas falas, seus momentos ora infantis – como de uma criança que se sente segura para brincar – e ora adultos, tudo isso em um conjunto de cenas que resultou num dos instantes que certamente serão mais lembrados pelos fãs.
Agora, se o episódio foi tão bom, por que, no título da resenha, eu perguntei: um episódio perfeito teria algum defeito? Na verdade, é uma provocação, pois notei neste episódio uma falha e um descompaso que venho notando desde o segundo episódio.
A falha: sinto que alguns atores estão atuando no automático. Kit Harington (Jon Snow), Sophie Turner (Sansa), Aidan Gillen (Baelish), Peter Dinklage (Tyrion) são alguns dos que mais me chamam a atenção. Desses, Dinklage parece o que mais está no automático, algo que até os memes já notaram.
O descompasso: não sei se chega a ser um defeito, mas parece que os núcleos da série (ou mesmo diferentes personagens dentro do mesmo núcleo) estão em ritmos distintos. Alguns núcleos estão com desenvolvimentos mais acelerados (acima da média das outras temporadas), enquanto outros estão seguindo o ritmo tradicional da série. Sendo mais exato: os acontecimentos que envolvem a batalha pelo trono estão seguindo em ritmo acelerado; já os que envolvem a batalha contra o Rei da Noite segue num ritmo mais lento (ou mais condizente com o ritmo das temporadas anteriores).
Quando se observa isso, nota-se a estratégia do roteiro: resolver (ou quase resolver) a questão do trono, para deixar a parte final da série livre para o confronto com os White Walkers. Essa estratégia não é um pecado; podemos encontrar várias séries que seguem essa estratégia de desenvolver as suas linhas narrativas em diferentes ritmos. Ocorre que, até a temporada anterior, GoT conseguia desenvolver de forma harmônica suas tramas. O aumento de velocidade a cada temporada era gradual e em bloco – não parecia que a série estava seguindo dois ritmos, ainda que o roteiro o estivesse fazendo.
Sim, GoT adota essa estratégia de velocidades distintas de suas tramas desde sempre, mas nesta temporada, a estratégia fica perceptível demais. Talvez, a redução no número de episódio tenha obrigado a aumentar a velocidade em um ritmo maior, evidenciando o descompaso. E muitos espectadores já notaram a diferença. Se isso se confirmar, não mata a série de morte, apenas deixa o quadro geral da série um tanto disforme.
Posso estar profundamente errado sobre isso (e sobre as atuações), pois os próximos episódios – e mesmo a próxima temporada – podem me desmentir, e fica evidente que o ritmo ditado pelos produtores estava certo e o descompaso e era apenas um despacito. Esse, aliás, é uma das dificuldades de se resenhar uma série episódio por episódio: falta a visão do todo.
E, aí, o que achou do episódio? Ele entrou para o seu top top? Vibrou com a batalha? Emocionou-se com a Arya? Sentiu o clima entre Jon Snow e Daenerys na caverna? Vamos, comente, compartilhe e curta nossas redes sociais:
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