UM EPISÓDIO PADRÃO
Finalmente chegamos à temporada final de Game of Thrones – GoT. Quase nove anos se passaram desde a estreia do primeiro episódio. Com a qualidade que a série demonstrou – especialmente até o seu sexto ano – o público criou grandes expectativas sobre o seu desfecho. Os criadores David Benioff e D. B. Weiss têm uma missão cruel: dar um final coerente com a narrativa e a qualidade que a própria série estabeleceu, e que ainda consiga ser tão surpreendente quanto a série foi ao longo de boa parte das temporadas. Além das próprias limitações que a narrativa vai impondo à medida que é desenvolvida, é bem difícil competir com a criatividade dos fãs. Resta a pergunta, os criadores começaram bem essa temporada final?
Sim. Digamos, foi um episódio que cumpriu a sua função de organizar a casa. Mas, já fiquem sabendo, ao final desta resenha, farei um disclaimer.
Este episódio cumpriu a tarefa de todos os primeiros episódios da série: organizar o tabuleiro. E, por ser a temporada final, aproveitou-se para que muitos eventos esperados acontecessem, boa parte deles reencontros.
Certamente o reencontro mais esperado do episódio foi o de Jon Snow (Kit Harington) com Arya Stark (Maisie Williams). A cena soube trabalhar a alegria e a estranheza do reencontro. Os dois personagens ficaram anos sem se ver, ambos mudaram muito. Ambos ficaram entre reconhecer traços antigos e descobrir as mudanças de cada um. E ficou aparente que Arya ficará ao lado da irmã. E curioso como esse reencontro foi bem construído ao longo da série, especialmente porque ambos os personagens só se encontraram juntos por pouco tempo no primeiro episódio da primeira temporada. Arya ainda reencontrou Sandor Clegane (Rory McCann) e Gendry (Joe Dempsie) – o clima romântico entre eles ficou no ar.
Uma decisão muito correta do episódio foi colocar Samwell Tarly (John Bradley) contando para Jon a sua genealogia. Mesmo a construção do momento não tendo sido dos melhores, se essa revelação fosse adiada soaria artificial; a chegada de Jon Snow em Winterfell já deixava claro que muitos eventos esperados iriam acontecer. Este mesmo ritmo foi mantido no núcleo de Porto Real, com várias pontas sendo amarradas – conferir até onde Cersei Lannister (Lena Headey) vai usar Euron Greyjoy (Pilou Asbæk).
O ponto mais fraco do episódio foi a fuga amorosa mela cueca de Jon e Daenerys (Emilia Clarke) – também conhecido como a sequência do voo dos dragões. Foi tudo constrangedor. Dos efeitos digitais medianos – especialmente quando os protagonistas apareciam em cima dos bichos – ao momento novela mexicana. Sério, as falas da Daenerys não condizem em nada com o perfil da personagem. Nem quando ela estava ao lado de seu Khal Drogo (Jason Momoa). Mais vergonhoso foi o convescote de comadres envolvendo Tyrion (Peter Dinklage), Davos (Liam Cunningham) e Varys (Conleth Hill)…
Apesar dessa sequência e de mais alguns pontos inconsistentes (como o diálogo entre Sam e Daenerys) o episódio foi funcional, cumprindo a missão de organizar as peças da temporada – algo que ainda deve se manter no segundo episódio.
Cabe aqui um disclaimer. Desde a temporada passada, GoT perdeu aquele cuidado na construção da narrativa. Não reclamo da rapidez dos acontecimentos, mas da falta de cuidado com os detalhes. Da primeira a sexta temporada, a série construía com esmero os conflitos antes de eclodirem. Por vezes, poderia ficar muito lenta a narrativa – como na quinta temporada – mas isso não era um impedimento para os momentos de maior tensão – como na sexta temporada.
Como falei nas resenhas da temporada passada, a redução do número de episódios parece ter feito mal para o roteiro. Notem que os aspectos mais consistentes deste episódio derivam de um desenvolvimento narrativa anterior de longo prazo. Penso, por exemplo, nos irmãos Stark: Sansa Stark (Sophie Turner) tornou-se líder depois de muitas provações; Arya tem um arco que fundamenta bem suas motivações; e mesmo Bran Stark (Isaac Hempstead Wright) tem uma postura coerente com sua trajetória. O que faz a gente fazer memes de como ele é porque não sabemos muito sobre suas motivações – e, claro, certos erros na direção. Por outro lado, todo o envolvimento entre Jon e Daenerys soa forçado. Há uma falta de cuidado na costura da relação entre eles, além de certas ações contradizerem o histórico dos personagens.
Em resumo: este primeiro episódio foi bom, com muitas qualidades. Mas, quando comparamos com o histórico da série, notamos que aquele trabalho de artesão de temporadas passadas foi substituído por uma produção em massa.
Um outro momento que não pode ser deixado de fora: aquela simbologia deixada pelos Caminhantes Brancos já apareceu em outros momentos da série. Alguns defendem que ela reforça a teoria de que o Bran/Corvo de Três olhos seria o Rei da Noite ou teria controlado ele no passado. A série tem sim alguns elementos que podem fundamentar essa tese, mas torço para que os roteiristas não sigam por aí.
E aí, o que achou deste episódio? Acha que o casal Jonerys não tem química? Também está intrigado com o símbolo deixado pelos Caminhantes Brancos? Também achou estranho o cabelo escuro do Jaime?
Durante toda a temporada, ao final de cada episódio, eu, Bruno Fai e Rafa Gomes estaremos conversando ao vivo sobre o a série. O bate papo do primeiro episódio vocês podem conferir aqui. E não deixem de comentar, compartilhar a resenha e curtir as nossas redes sociais:
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