Poético, tocante, através de memórias recriadas por lembranças. Falaremos agora do ótimo documentário Geografia Afetiva. Exibido no último dia de sessões do CINEPE 2024, o longa-metragem paulista encontra sentido nas descrições dos sentimentos, nos encontros e desencontros de uma família com conexões entre Brasil, Canadá e El Salvador. Contando parte da sua própria história, a cineasta Mari Moraga leva ao público de forma cativante e honesta os desabafos dos tempos de guerra, o sofrimento da distância, a satisfação dos reencontros. Marcas que acompanham toda uma vida.
O primeiro recorte, logo na abertura, é a base do discurso, algo que a narrativa preenche com poesia, imagens e movimentos que fazem total sentido, uma busca por respostas após a dor de uma perda. Aos poucos, passando por dilemas, dramas e escolhas, algumas lacunas são preenchidas, algo que a realizadora divide com o espectador de forma honesta e delicada, abrindo a porta da sua família para que todos possam refletir sobre muitas questões. Em certo momento entendemos que nem todas as respostas seriam ditas mas o que viesse já era o suficiente.
Junta-se à narrativa um olhar curioso que mostra o elo da geografia com as descobertas, algo feito de forma elegante, sucinta, também trazendo um interessante paralelo com a natureza. A aparente superficialidade em alguns temas na verdade se mostra um convite à pesquisa, o início de um refletir, um exercício que o espectador pode se aprofundar futuramente. Através de uma espécie de road movie, onde cada ponto no mapa afetivo é detalhado através de relatos objetivos dos entrevistados, entendemos contextos mais amplos, políticos, sociais, econômicos, de décadas atrás e os reflexos hoje.
A planta da emoção chega como um registro. Vou explicar: uma folha de cartolina com detalhes de lugares onde familiares fixaram raízes no início de trajetória. Uma mapa que mostra uma história. Nesse ponto, marcas de um passado difícil que logo flertam com o adeus se tornam o combustível de um dia caminharem de volta. Logo, estamos de frente para o passado e o presente, um choque que traz suas questões, um momento esperado por décadas no coração de cada integrante dessa família.
Geografia Afetiva encontra a beleza no reencontro, na necessidade de um registro definitivo de uma história familiar que começa num lugar e avança para outros. Um ciclo que nada mais é do que a jornada de uma vida, com altos e baixos, mas com a vontade de voltar mais uma vez e relembrar.