quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Harry e Meghan – Série Documental da Netflix é o nosso tão Sonhado Spin-Off de ‘The Crown’, Só Que Real

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A gente pode falar mal, o tempo pode passar, o pensamento humano pode mudar, mas uma coisa permanece: a curiosidade sobre o que passa dentro dos palácios da realeza. Mais especificamente sobre uma em particular: a realeza britânica. O interesse mundial sobre os pormenores do que rola dentro do palácio de Buckingham só aumentou – razão pela qual a Netflix, desde 2016, vem lançando temporadas de seu seriado de ficção intitulado ‘The Crown’, que conta justamente a história da monarquia britânica a partir da coroação da Rainha Elizabeth II. Justamente por contar apenas sobre essa linhagem da história (e os bafões que passaram a ocorrer na vida real), os espectadores ficaram sedentos por produções derivadas. Atendendo a pedidos, mas dessa vez sem ficcionalizar, a Netflix trouxe aos assinantes nesse final de ano a série documentalHarry e Meghan’, que conta a história do então príncipe Harry e a atriz Meghan Markle antes de se tornarem o Duque e a Duquesa de Sussex.



Dividido em duas partes, a primeira chegou aos assinantes com apenas três episódios de cerca de uma hora de duração cada. Neste primeiro bloco, a diretora Liz Garbus optou por apresentar seus personagens por eles mesmos, ainda que sejam pessoas públicas e amplamente conhecidas, e trazer a ascensão do casal, com todas as acolhidas e borboletas no estômago. Logo no início, ‘Harry e Meghan’ anuncia seu objetivo: permitir que eles mesmos contem suas histórias, e, com isso, quem sabe, pararem com as especulações a seu redor e evitar destinos como o que teve a Princesa Diana, mãe de Harry

Observando por esse prisma, a série atinge seu objetivo, pois ‘Harry e Meghan’ o tempo todo dão depoimentos sobre como as coisas teriam acontecido pelas suas perspectivas, desde quando ainda não se conheciam, passando pelos primeiros encontros até estabelecerem uma relação em segredo e o consequente vazamento da história para a mídia. As primeiras histórias parecem até mesmo as de um casal comum, de gente famosa que dá um like na foto do outro, manda uma mensagem privada e marca de se encontrar… exceto que ele era um dos príncipes mais famosos do mundo, então, fica um pouco difícil de acreditar quando Meghan repetidas vezes diz que nunca tinha sabido de determinadas histórias envolvendo ele, que nunca tinha visto determinados eventos da realeza etc. Quer dizer, num universo em que até mesmo no Brasil muitas pessoas sabem quem é quem lá em Londres, como ela, sendo uma pessoa famosa e estadunidense (país que mantém relações fortes com a Grã-Bretanha), não saberia das coisas, uma vez que a mídia lá dá muito mais importância a esses fatos? O mesmo pode-se dizer de Harry, que se diz um homem em constante aprendizado e que orgulhosamente fala que seu período de dez anos no exército britânico lutando no Afeganistão lhe ensinaram muito sobre o mundo… e fala isso em um depoimento de hoje, quando já sabemos abertamente que a guerra do Afeganistão foi um teatro orquestrado pelos Estados Unidos e a Inglaterra atrás de petróleo. 

Tais destaques nos discursos dos biografados só realçam o fato de que, embora não haja um roteiro oficial, claramente uma equipe de Relações Públicas dos dois trabalhou arduamente para encenar esses depoimentos e pensou exatamente em cada palavra pronunciada. E está tudo bem, afinal, o trabalho deles é esse mesmo. O resultado é que o espectador se envolve com o casal, acredita na verdade deles e se sente até confortável por se aproximar do íntimo da realeza. Não deixa de ser uma estratégia do próprio Harry, tendo observado e refletido muito sobre tudo que aconteceu com sua mãe, se apropriar desses recursos para usá-lo a favor de sua privacidade: ao abrir sua vida, o público pararia de se interessar por ela; ao se mostrar uma pessoa comum, haveria a quebra da expectativa da vida real; ao contar sua versão da história, não haveria mais distorções da verdade. Lady Di tentou fazer isso, mas não houve tempo para ela. 

Mesmo considerando todos os movimentos calculados para produzir uma série como ‘Harry e Meghan’, não dá para mentir: é o tipo de conteúdo altamente viciante, pois muitos de nós cresceu acompanhando a família real britânica e deseja saber seus segredos sórdidos. Infelizmente, porém, a série demorou demais a ser lançada, e chega num timing péssimo, após a morte da Rainha Elizabeth II, o que deixa alguns comentários e depoimentos com um gosto amargo na boca dos biografados.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Dividido em duas partes, a primeira chegou aos assinantes com apenas três episódios de cerca de uma hora de duração cada. Neste primeiro bloco, a diretora Liz Garbus optou por apresentar seus personagens por eles mesmos, ainda que sejam pessoas públicas e amplamente conhecidas, e trazer a ascensão do casal, com todas as acolhidas e borboletas no estômago. Logo no início, ‘Harry e Meghan’ anuncia seu objetivo: permitir que eles mesmos contem suas histórias, e, com isso, quem sabe, pararem com as especulações a seu redor e evitar destinos como o que teve a Princesa Diana, mãe de Harry

Observando por esse prisma, a série atinge seu objetivo, pois ‘Harry e Meghan’ o tempo todo dão depoimentos sobre como as coisas teriam acontecido pelas suas perspectivas, desde quando ainda não se conheciam, passando pelos primeiros encontros até estabelecerem uma relação em segredo e o consequente vazamento da história para a mídia. As primeiras histórias parecem até mesmo as de um casal comum, de gente famosa que dá um like na foto do outro, manda uma mensagem privada e marca de se encontrar… exceto que ele era um dos príncipes mais famosos do mundo, então, fica um pouco difícil de acreditar quando Meghan repetidas vezes diz que nunca tinha sabido de determinadas histórias envolvendo ele, que nunca tinha visto determinados eventos da realeza etc. Quer dizer, num universo em que até mesmo no Brasil muitas pessoas sabem quem é quem lá em Londres, como ela, sendo uma pessoa famosa e estadunidense (país que mantém relações fortes com a Grã-Bretanha), não saberia das coisas, uma vez que a mídia lá dá muito mais importância a esses fatos? O mesmo pode-se dizer de Harry, que se diz um homem em constante aprendizado e que orgulhosamente fala que seu período de dez anos no exército britânico lutando no Afeganistão lhe ensinaram muito sobre o mundo… e fala isso em um depoimento de hoje, quando já sabemos abertamente que a guerra do Afeganistão foi um teatro orquestrado pelos Estados Unidos e a Inglaterra atrás de petróleo. 

Tais destaques nos discursos dos biografados só realçam o fato de que, embora não haja um roteiro oficial, claramente uma equipe de Relações Públicas dos dois trabalhou arduamente para encenar esses depoimentos e pensou exatamente em cada palavra pronunciada. E está tudo bem, afinal, o trabalho deles é esse mesmo. O resultado é que o espectador se envolve com o casal, acredita na verdade deles e se sente até confortável por se aproximar do íntimo da realeza. Não deixa de ser uma estratégia do próprio Harry, tendo observado e refletido muito sobre tudo que aconteceu com sua mãe, se apropriar desses recursos para usá-lo a favor de sua privacidade: ao abrir sua vida, o público pararia de se interessar por ela; ao se mostrar uma pessoa comum, haveria a quebra da expectativa da vida real; ao contar sua versão da história, não haveria mais distorções da verdade. Lady Di tentou fazer isso, mas não houve tempo para ela. 

Mesmo considerando todos os movimentos calculados para produzir uma série como ‘Harry e Meghan’, não dá para mentir: é o tipo de conteúdo altamente viciante, pois muitos de nós cresceu acompanhando a família real britânica e deseja saber seus segredos sórdidos. Infelizmente, porém, a série demorou demais a ser lançada, e chega num timing péssimo, após a morte da Rainha Elizabeth II, o que deixa alguns comentários e depoimentos com um gosto amargo na boca dos biografados.

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