quinta-feira, abril 18, 2024

Crítica | Hebe: A Estrela do Brasil – Biografia retrata luta contra a censura e em defesa dos direitos LGBTQ

O cinema brasileiro vem se especializando em cinebiografias nos últimos tempos. Só em 2019, foram lançados filmes de ficção sobre Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Allan Kardec, Divaldo Franco e Edir Macedo. Agora, chega a hora de conhecer um pouco mais sobre a história de Hebe Camargo, ícone da TV brasileira que faleceu em 2012.

Hebe: A Estrela do Brasil se passa no meio dos anos 80, quando o Brasil fazia a transição entre ditadura e redemocratização. À época, Hebe já era um dos grandes nomes do entretenimento no país, mas sofria para ter liberdade em apresentar seu programa na Rede Bandeirantes. As lutas diárias para fazer o programa que sonhava, e os conflitos pessoais com o marido, são o foco principal do longa estrelado por Andréa Beltrão.

Atriz com inúmeros trabalhos marcantes no cinema, na TV e no teatro, Beltrão entrega uma Hebe complexa, repleta de nuances, capaz de ser gentil com o cabeleireiro vítima do vírus do HIV, mas que não pensa um segundo antes de acusar seus funcionários de roubo após ela mesma perder uma joia. Ainda que de temperamento forte e capaz de atitudes impopulares, a Hebe de Beltrão – como a da vida real – comunica muito bem com o público, passando empatia, mesmo quando esnobe.

O longa sofre de problema comum nas recentes cinebiografias, que é ser, de certa forma, chapa-branca. Feito com o apoio da família da apresentadora, o filme evita maiores julgamentos e trata de forma bem superficial algumas faces da artista, como seu apoio a Paulo Maluf. A relação de Hebe com Maluf é citada, ele está presente como um personagem no trama, mas tudo é tratado mais como uma peculiaridade.

Apesar disso, não podemos deixar de reconhecer que o roteiro de Carolina Kotscho (2 Filhos de Francisco) acerta mais do que era. Aproveitando o recorte histórico, o texto foca bastante na luta de Hebe contra a censura e na defesa das pessoas LGBTQ. Neste sentido, é impossível não fazer paralelos com a realidade, uma vez que os temas ainda estão presentes no nosso dia a dia, mesmo em 2019. Em plenos anos 80, Hebe falava sobre as diferenças entre ser gay, travesti, trans ou performer, e foi um dos primeiros nomes da TV a tratar abertamente o tema da Aids. É triste notar que o filme pode fazer barulho pelos mesmos motivos que Hebe “causava” há 30 anos.

Andréa Beltrão é o grande nome do filme, passando bem a paixão de Hebe pelo trabalho e também certa intempestividade. Hebe foi uma figura marcada por frases de efeito e uma personalidade forte, seria muito fácil cair num estereótipo ou numa caricatura. A relação com a família, especialmente com o filho, é bem retratada, embora Marco Ricca se perca um pouco no papel do marido, Lélio, que tem momentos de vilão de novela. O elenco conta ainda com as presenças de Danton Mello, Caio Horowicz, Daniel Boaventura, Otávio Augusto, Stella Miranda, Karine Teles e Gabriel Braga Nunes.

Não deixe de assistir:

Dirigido pelo eficiente – mas nem sempre inspirado – Maurício Farias (A Grande Família), o longa promete agradar àqueles que se interessam pela história da televisão no Brasil. Por mais que seja apenas um pequeno fragmento de uma carreira de décadas à frente das telas, Hebe: A Estrela do Brasil transmite bem o estado de espírito da apresentadora e ainda conta com personagens lendários das telinhas no país, como Silvio Santos, Chacrinha, Dercy Gonçalves, Nair Bello e Roberto Carlos.

Com belos trabalhos de direção de arte (Luciane Nicolino), figurino (Antônio Medeiros) e maquiagem (Simone Batata), o filme é sobre a força de uma mulher. E reforça isso ao retratar quase todos os personagens masculinos em momentos de fragilidade, seja o chefe da emissora com medo do governo, o marido com crises de ciúme ou mesmo o filho, que sofre com o desleixo do pai e a constante ausência por parte da mãe, ainda que muito carinhosa.

Em relação à produção, é importante reconhecer o esforço da Globo Filmes em contar a história de uma mulher que trabalhou em seus principais concorrentes, Band e SBT. A obra, inclusive, traz um trecho de Hebe Camargo falando como não achava que a Globo era a casa ideal para ela, pois não teria liberdade para fazer o que desejava.

Hebe conta com momentos dramáticos de impacto, mas também faz rir, especialmente no momento em que começa a montar seu cenário do programa no SBT ou nas conversas da apresentadora com seu cabeleireiro. Como a artista, o filme faz sorrir e chorar. E tenta provocar/alfinetar a presente onda conservadora que passa pelo Brasil, ainda que com suas condescendências.

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