Hellboy pode até ter começado como uma história em quadrinhos, mas, nas últimas décadas a história do brucutu vermelhão ultrapassou as páginas impressas das revistinhas e ganhou o universo dos cinemas, com seis filmes que abordaram as aventuras e desventuras do herói infernal ao longo dos últimos vinte anos, sendo interpretados por diferentes atores e sob o comando de diretores com estilos e assinaturas distintas – dentre os quais, Guillermo del Toro e Ron Perlman.
Agora, celebrando duas décadas desde o início dessas adaptações, a história criada por Mike Mignola ganha mais um capítulo, com a estreia, essa semana, de ‘Hellboy e o Homem Torto’ nos cinemas de todo o país.
Estamos nos anos 1950. Hellboy (Jack Kesy, de ‘Baywatch: S.O.S Malibu’) e a agente especial Bobbie (Adeline Rudolph, da série ‘Riverdale’) estão transportando uma aranha super venenosa quando o trem em que estão sofre um acidente e eles perdem a carga. Perdidos, acabam indo parar na pequena cidade de Appalachia, onde descobrem que o local está sendo assombrado por perigosas bruxas que buscam distorcer a mente das pessoas e obrigá-las a fazer o que elas querem. Nesse contexto, conhecem Tom Ferrell (Jefferson White, de ‘Guerra Civil’) e o Reverendo Watts (Joseph Marcell, o amado mordomo Geoffrey da série de comédia ‘Um Maluco no Pedaço’), que irão somar-se à dupla para tentar colocar fim, de uma vez por todas, na maldição que recai no pequeno vilarejo.
Diferentemente de todas as outras adaptações de Hellboy, em ‘Hellboy e o Homem Torto’ o roteiro fez uma escolha muito particular: decidiu colocar a narrativa cinematográfica em segundo plano em prol da sobreposição da narrativa dos quadrinhos. Essa escolha irá fazer mais sentido e irá agradar muito mais ao leitores das HQs do que o espectador padrão que só assistiu aos filmes, mas não acompanhou a jornada impressa.
Escrito por Christopher Golden e Brian Taylor, o roteiro é dividido em três atos nomeados, que recortam o enredo tal como histórias que dividem um volume de uma HQ – e que, juntas, somam o arco de uma grande aventura vivida pelo herói.
Talvez por isso, até, alguns pontos do filme fiquem um pouco confusos, especialmente no início (que começa meio de repente, dando aquela sensação de termos perdido o início da história) e no fim, em que muita coisa acontece ao mesmo tempo, atropelando o tempo das coisas e deixando a sensação de que não conseguimos pescar tudo que aconteceu, ou o porquê de ter acontecido.
Sob o comando dessa vez de Brian Taylor (cuja carreira é maior como roteirista do que como diretor), ‘Hellboy e o Homem Torto’ ganha ares mais sombrios, voltando às suas raízes do terror que flerta com o gráfico. Assim, temos mais cenas obscuras do que solares, misturando bruxaria, demônios, feitiçaria, venenos ancestrais e similares. Por outro lado, o diretor optou por construir um personagem menos bonachão, e, desse modo, o tom cômico que sempre acompanhou a franquia para conferir carisma ao protagonista dessa vez ocorre em momentos muito pontuais, mas sem exatamente fazer rir.
‘Hellboy e o Homem Torto’ é o retorno do herói demoníaco às suas raízes do submundo, apresentando um recorte na vida do personagem, uma aventura à parte com uma linguagem muito mais adulta do que adolescente.