sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | ‘Hold the Girl’ reflete o aplaudível amadurecimento artístico de Rina Sawayama

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Rina Sawayama causou um grande impacto quando fez sua estreia oficial no mundo da música com o álbum SAWAYAMA. Aclamado tanto pela crítica quanto pelo público, Rina começou a conquistar o planeta com seus vocais impecáveis e uma celebração da música pop como nenhuma antes vista – sempre fazendo questão de homenagear as artistas que a inspiraram e lançando-se em uma série de colaborações com alguns dos nomes mais importantes do cenário fonográfico. Dois anos depois de seu début, a cantora e compositora nipo-britânica retorna com o antecipadíssimo Hold the Girl, que auxiliou a reiterar sua versatilidade e sua idiossincrática habilidade lírica.

Sawayama deu início à sua mais nova era com o lead single “This Hell” (que inclusive entrou para a nossa lista de Melhores Músicas do Ano Até Agora), uma ótima faixa que se afasta do conceitualismo visto em “XS” ou “Comme des Garçons” e abraça o mainstream sem perder aquilo que a faz única. A canção mergulha em uma espécie de pop-rock recheada de referências a Whitney Houston, Britney Spears e Lady Di, além de pegar elementos emprestados de Lady Gaga, Paris Hilton e Shania Twain para compor a amálgama instrumental e firmar um refrão explosivo, intrigante e extremamente ácido (ora, temos até uma menção a ‘O Diabo Veste Prada’ nos versos). Com um começo tão sólido quanto este, era apenas natural que ficássemos animados para as faixas seguintes – e fomos agraciados com a potente semi-balada de “Catch Me In the Air” e a irreverente canção-titular, cujas fortes mensagens reverberam em sua recente discografia.



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O disco é um gigantesco e enérgico conglomerado de gêneros musicais – cuja estética é utilizada, em boa parte, a favor do que a performer quer nos entregar. Com potencial mercadológico inegável, que se aproxima até mesmo de ‘Jagged Little Pill’, de Alanis Morissette, Hold the Girl é um autotestamento de Rina para si mesma, infundido com letras que refletem sua visão de mundo à medida que se transformam em uma relacionável declamação melancólica de que as coisas precisam mudar – e que ela tem o direito de postar sua voz, ainda que enfrentando tantas adversidades. A música de abertura, por exemplo, se isola numa sonoridade mais onírica e sinestésica, movida pelo conjunto de cordas que ecoam por breves dois minutos e que sustentam uma narrativa que fala sobre a problemática da falta de expressão (cujo único crime é não ser longa o suficiente para apreciarmos cada detalhe imortalizado).

Enquanto SAWAYAMA se respalda na inovação de um experimentalismo interessante e bastante coeso, o segundo álbum de Rina funciona como uma carta para si mesma, pincelada com a pessoalidade nostálgica de tudo o que já viveu. Talvez, por essa razão, somos arremessados em uma aventura sonora que atravessa desde o glam-rock ao Europop ao hi-NRG ao synth em uma mudança brusca de personalidade que, ao contrário do que poderíamos imaginar, não é fragmentada, e sim imaginada como as múltiplas facetas de alguém que precisa dizer algo. Quando migramos para a conclusão da obra, “To Be Alive”, percebemos uma teatralidade apaixonante e antêmica e que se encerra em gloriosa sagacidade: se antes ela lidava com “emoções que tentava esconder”, agora “eu finalmente sei como é se sentir viva”.

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Há algo de mágico que permeia cada uma das músicas assinada pela artista, que parece nos impedir de encontrar qualquer defeito; eles existem, é claro, mas soam como tendo um propósito, uma camada a mais de rebeldia que auxilia na construção das várias camadas. “Phantom”, por exemplo, dá às caras em um longevo enredo que, apesar das repetições, cria um cosmos tão receptivo que é impossível escapar dele – reverenciando o fabulesco estilo de Taylor Swift e Carrie Underwood no começo de suas respectivas carreiras; “Forgiveness”, por sua vez, ascende como uma peça retirada das trilhas de Theodore Shapiro, não em um mero espectro emprestado, mas sim remodelado com a beleza sutil do soft-rock e do ritmo cintilante dos baixos.

Para cada mínimo e quase imperceptível deslize, Rina dá tudo de si para nos presentear com algumas das melhores músicas do ano (e, em um tom mais pessoal, ela torna o trabalho deste que vos escreve muito mais difícil). “Holy (Til You Let Me Go)” poderia com facilidade estar em um line-up do Festival Eurovision: temos os toques familiares do techno fundidos com a efemeridade do pop industrial, o saudosismo do EDM e a exaltação do Eurodance noventista – tudo convergindo para um hino de empoderamento e libertação que a permite ser quem é, sem se sentir culpada por não cair dentro da norma. “Frankenstein” já se respalda no pop-punk, contando com a assinatura certeira do vencedor do Oscar Paul Epworth e da sempre incrível Lauren Aquilina; “Imagining” se finca no electro-pop e no hyperpop, abraçando as portas abertas por Gaga e Charli XCX anos atrás e calcando um enredo que fala sobre dor e autoconsciência.

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Hold the Girl cimenta a meteórica carreira de Rina Sawayama no mundo da música e é uma ótima adição à sua discografia. O aspecto mais chamativo do álbum é o conflito de estilos que grita com urgência apaixonante, reiterando a crescente importância de um dos nomes mais interessantes da atualidade.

Nota por faixa:

1. Minor Feelings – 5/5
2. Hold The Girl – 5/5
3. This Hell – 5/5
4. Catch Me In The Air – 5/5
5. Forgiveness – 4/5
6. Holy (Don’t Let Me Go) – 5/5
7. Your Age – 4/5
8. Imagining – 4/5
9. Frankenstein – 5/5
10. Hurricanes – 4,5/5
11. Send My Love To John – 4/5
12. Phantom – 4/5
13. To Be Alive – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Sawayama deu início à sua mais nova era com o lead single “This Hell” (que inclusive entrou para a nossa lista de Melhores Músicas do Ano Até Agora), uma ótima faixa que se afasta do conceitualismo visto em “XS” ou “Comme des Garçons” e abraça o mainstream sem perder aquilo que a faz única. A canção mergulha em uma espécie de pop-rock recheada de referências a Whitney Houston, Britney Spears e Lady Di, além de pegar elementos emprestados de Lady Gaga, Paris Hilton e Shania Twain para compor a amálgama instrumental e firmar um refrão explosivo, intrigante e extremamente ácido (ora, temos até uma menção a ‘O Diabo Veste Prada’ nos versos). Com um começo tão sólido quanto este, era apenas natural que ficássemos animados para as faixas seguintes – e fomos agraciados com a potente semi-balada de “Catch Me In the Air” e a irreverente canção-titular, cujas fortes mensagens reverberam em sua recente discografia.

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O disco é um gigantesco e enérgico conglomerado de gêneros musicais – cuja estética é utilizada, em boa parte, a favor do que a performer quer nos entregar. Com potencial mercadológico inegável, que se aproxima até mesmo de ‘Jagged Little Pill’, de Alanis Morissette, Hold the Girl é um autotestamento de Rina para si mesma, infundido com letras que refletem sua visão de mundo à medida que se transformam em uma relacionável declamação melancólica de que as coisas precisam mudar – e que ela tem o direito de postar sua voz, ainda que enfrentando tantas adversidades. A música de abertura, por exemplo, se isola numa sonoridade mais onírica e sinestésica, movida pelo conjunto de cordas que ecoam por breves dois minutos e que sustentam uma narrativa que fala sobre a problemática da falta de expressão (cujo único crime é não ser longa o suficiente para apreciarmos cada detalhe imortalizado).

Enquanto SAWAYAMA se respalda na inovação de um experimentalismo interessante e bastante coeso, o segundo álbum de Rina funciona como uma carta para si mesma, pincelada com a pessoalidade nostálgica de tudo o que já viveu. Talvez, por essa razão, somos arremessados em uma aventura sonora que atravessa desde o glam-rock ao Europop ao hi-NRG ao synth em uma mudança brusca de personalidade que, ao contrário do que poderíamos imaginar, não é fragmentada, e sim imaginada como as múltiplas facetas de alguém que precisa dizer algo. Quando migramos para a conclusão da obra, “To Be Alive”, percebemos uma teatralidade apaixonante e antêmica e que se encerra em gloriosa sagacidade: se antes ela lidava com “emoções que tentava esconder”, agora “eu finalmente sei como é se sentir viva”.

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Há algo de mágico que permeia cada uma das músicas assinada pela artista, que parece nos impedir de encontrar qualquer defeito; eles existem, é claro, mas soam como tendo um propósito, uma camada a mais de rebeldia que auxilia na construção das várias camadas. “Phantom”, por exemplo, dá às caras em um longevo enredo que, apesar das repetições, cria um cosmos tão receptivo que é impossível escapar dele – reverenciando o fabulesco estilo de Taylor Swift e Carrie Underwood no começo de suas respectivas carreiras; “Forgiveness”, por sua vez, ascende como uma peça retirada das trilhas de Theodore Shapiro, não em um mero espectro emprestado, mas sim remodelado com a beleza sutil do soft-rock e do ritmo cintilante dos baixos.

Para cada mínimo e quase imperceptível deslize, Rina dá tudo de si para nos presentear com algumas das melhores músicas do ano (e, em um tom mais pessoal, ela torna o trabalho deste que vos escreve muito mais difícil). “Holy (Til You Let Me Go)” poderia com facilidade estar em um line-up do Festival Eurovision: temos os toques familiares do techno fundidos com a efemeridade do pop industrial, o saudosismo do EDM e a exaltação do Eurodance noventista – tudo convergindo para um hino de empoderamento e libertação que a permite ser quem é, sem se sentir culpada por não cair dentro da norma. “Frankenstein” já se respalda no pop-punk, contando com a assinatura certeira do vencedor do Oscar Paul Epworth e da sempre incrível Lauren Aquilina; “Imagining” se finca no electro-pop e no hyperpop, abraçando as portas abertas por Gaga e Charli XCX anos atrás e calcando um enredo que fala sobre dor e autoconsciência.

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Hold the Girl cimenta a meteórica carreira de Rina Sawayama no mundo da música e é uma ótima adição à sua discografia. O aspecto mais chamativo do álbum é o conflito de estilos que grita com urgência apaixonante, reiterando a crescente importância de um dos nomes mais interessantes da atualidade.

Nota por faixa:

1. Minor Feelings – 5/5
2. Hold The Girl – 5/5
3. This Hell – 5/5
4. Catch Me In The Air – 5/5
5. Forgiveness – 4/5
6. Holy (Don’t Let Me Go) – 5/5
7. Your Age – 4/5
8. Imagining – 4/5
9. Frankenstein – 5/5
10. Hurricanes – 4,5/5
11. Send My Love To John – 4/5
12. Phantom – 4/5
13. To Be Alive – 5/5

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